O dólar está ficando mais caro. Só este ano, a moeda dos Estados Unidos teve uma valorização de mais de 18% em relação ao real.
Para tentar evitar variações excessivas e bruscas do dólar, o governo tem ao seu alcance algumas ferramentas. Esses instrumentos financeiros consistem basicamente em colocar dólares no mercado para, assim, baixar o preço da moeda, ou em retirar dólares para forçar uma alta, dependendo do objetivo do governo.
Medida | O que é |
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Leilão spot | Quando o governo vende (ou compra) dólares no mercado à vista. É a forma mais direta de intervenção, pois altera mais rapidamente a quandidade de dólares disponível no mercado. |
Leilão de swap | O Banco Central vende um título que tem seu valor ligado ao valor do dólar (seu valor em reais varia junto com a cotação do dólar); funciona como um mecanismo de proteção contra a variação excessiva. Assim, se a cotação da moeda subir ou cair muito, o investidor que tem dívidas ou receitas a receber em dólares não tem perdas excessivas. |
Tributos | O governo pode diminuir ou retirar um tributo, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de determinadas aplicações para atrair dinheiro do investidor estrangeiro. Aumentar tributos faz ficar mais caro trazer dólares para o Brasil, e tende a reduzir a quantidade da moeda no no país; já reduzir tributos tem o efeito contrário – torna mais barato trazer dólares para cá. |
Selic | Ao aumentar a taxa básica de juros da economia, o governo torna o investimento em títulos brasileiros mais rentável, atraindo assim o investidor estrangeiro – que traz dólares para o país. Quanto mais dólares no país, mais barata a moeda dos EUA fica. |
Compulsório | Compulsório é o dinheiro que os bancos são obrigados a "guardar" no Banco Central – uma parte de tudo o que recebem. Ao diminuir a exigência de depósitos compulsórios dos bancos, o Banco Central permite que as instituições financeiras vendam mais dólares, aumentando a quantidade da moeda disponível. |
Títulos públicos | O governo arrecada dinheiro para financiar seus gastos através da venda de títulos públicos. Quando o investidor do exterior compra um título do governo, para receber este dinheiro acrescido de juros mais tarde, ele "injeta" mais dólares no país. |
Por que o dólar sobe
A alta contínua da cotação do dólar tem, de maneira bastante resumida, duas explicações – uma de origem externa e outra de origem interna.
Quando houve a crise financeira internacional de 2008, as principais potências econômicas enfrentaram graves problemas, como desemprego alto e baixo crescimento da economia ou até recessão. No meio deste processo, os países emergentes – o Brasil aí incluído – se fortaleceram e conquistaram a confiança de investidores mundiais, o que significa, na prática, que o dinheiro de investidores estrangeiros passou a entrar no país. Foi assim que o dólar acabou ficando mais barato para o brasileiro.
Mas o cenário, agora, é outro. “Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos fizeram muito bem o dever de casa e fortaleceram sua economia”, destaca Ítalo Abucater, especialista em câmbio da Icap Brasil Corretora.
Com a economia dos Estados Unidos reagindo, o dólar volta a ser o investimento mais interessante para todo e qualquer investidor. Daí, quando todo mundo compra dólar, ele fica mais caro. “Estão tirando [os investimentos] de várias aplicações no mundo e voltando para o dólar”, resume Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (Cemap/FGV).
Para ajudar a economia dos EUA a se recuperar, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) praticou uma política monetária bastante “permissiva”, diz o professor. A taxa de juros foi mantida muito próxima de zero e o Fed passou a comprar US$ 85 bilhões em títulos hipotecários e dívida do Tesouro norte-americano todo mês. Isso fez com que o dólar se tornasse abundante e, portanto, barato.
Mas, com a economia do país reagindo, o BC dos EUA já avisou que vai mudar sua política monetária. “Todo mundo sabe que tem data para acabar e o Fed está sugerindo que vai acabar num futuro bem próximo”, diz Marçal, da FGV.
“Se a maior economia do mundo se mexe, o mundo se mexe”, lembra ele. Este, portanto, é o fator externo que explica, em parte, a alta do dólar no Brasil. Ocorre, porém, que a desvalorização do real tem sido mais acentuada que a de outras moedas. “Então, alguma coisa também está acontecendo no Brasil”, diz o professor da FGV.
Para o especialista em câmbio da Icap, enquanto os EUA fizeram a lição de casa, o Brasil deixou a desejar. “O país acabou perdendo a confiança dos investidores por conta de tributação elevada, IOFs descabidos em momentos impróprios. O investidor estrangeiro não se incomoda em pagar algum ‘pedágio’ para entrar no país, mas ele não gosta de mudança de regras. E o Brasil, o que mais teve nos últimos tempos, foi mudança de regras.”
Na opinião de Emerson Marçal, o problema interno que também afeta a cotação do dólar consiste num quadro macroeconômico “desconfortável”, que alia três fatores principais: inflação alta, uma economia que não reage e o desempenho das contas externas brasileiras, “que não estão numa trajetória boa”.
“O resultado das transações correntes nos últimos anos está piorando. (...) A balança comercial brasileira, que é quem sustentaria o superávit de transações correntes, também está se deteriorando este ano. Embora o sinal vermelho ainda não esteja aceso, já acendeu o sinal amarelo. Então, parte deste movimento é o mercado antecipando um problema que está por vir”, destaca o professor.
Swap cambial
O instrumento que o Banco Central tem utilizado com mais frequência atualmente na tentativa de evitar uma alta forte são os leilões de swap cambial. O swap é um título atrelado a um determinado valor do dólar a ser pago em uma data futura.
Os swaps funcionam como um mecanismo de proteção contra a variação do dólar. Ao comprar um título associado ao dólar, a pessoa se protege de uma oscilação – ela "fixa" o valor do dólar que tem a receber ou a pagar.
Leilão spot
O Brasil acumulou muitos dólares de reservas internacionais. Outra forma de o governo evitar a alta do dólar seria vendendo estes dólares no mercado à vista – instrumento conhecido como leilão spot. Ao vender moeda, o governo aumenta imediatamente a quantidade de dólares disponível, afetando a taxa de câmbio.
Tributos
O governo também pode mexer em alguns tributos, sendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a alternativa mais comum. Este ano, o governo zerou o IOF para estrangeiros na renda fixa e retirou a cobrança nas transações financeiras conhecidas como derivativos, que são usadas como apostas das empresas e bancos brasileiros e estrangeiros no mercado futuro.
A retirada do IOF foi feita para “estimular o mercado a voltar a vender, não sendo mais punido por tributações”, diz Abucater, da Icap Brasil. Com mais dólares sendo vendidos, a tendência da cotação é cair.
Dentro deste tipo de artifício, o governo também poderia usar a isenção de Imposto de Renda para estrangeiros.
Selic
Um “instrumento limite”, na opinião de Marçal – que avisa que ainda estamos longe disso – seria o governo subir a taxa básica de juros, a Selic. “Numa situação limite, não é o caso, o governo poderia aumentar a taxa de juros para tornar o país atrativo. Seria uma forma de atrair capital estrangeiro”, explica, o que aumentaria a quantidade de dólares no Brasil.
Títulos públicos
Os títulos públicos são usados pelos governos como forma de captar o dinheiro que necessita para financiar os gastos públicos não cobertos pela arrecadação de impostos. Em linhas gerais, o investidor "empresta" dinheiro ao Tesouro para recebê-lo depois, acrescido de juros.
A venda de títulos públicos pelo Tesouro, portanto, injeta mais dinheiro no país. Para o investidor, também é uma forma de hedge (proteção), lembra Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da Advanced Corretora.
Compulsório
Este ano o Banco Central também fez uma nova alteração nas regras dos depósitos compulsórios dos bancos – que são aqueles recursos que precisam ser mantidos na autoridade monetária.
Ao retirar a alíquota de 60% dos depósitos compulsórios (sem remuneração) que incide sobre as vendas de dólares pelos bancos acima de US$ 3 bilhões, o governo permitiu que as instituições pudessem vender mais dólares sem incidência do compulsório. Com os bancos vendendo mais, aumentam os dólares disponíveis, puxando para baixo a cotação.