20/08/2013 17h55 - Atualizado em 20/08/2013 17h55

Veja as armas que o governo tem para tentar conter a alta do dólar

Brasileiro está pagando mais caro pela moeda dos Estados Unidos.
Governo tenta colocar mais dólares no mercado para forçar queda do preço.

Fabíola GleniaDo G1, em São Paulo

O dólar está ficando mais caro. Só este ano, a moeda dos Estados Unidos teve uma valorização de mais de 18% em relação ao real.

Para tentar evitar variações excessivas e bruscas do dólar, o governo tem ao seu alcance algumas ferramentas. Esses instrumentos financeiros consistem basicamente em colocar dólares no mercado para, assim, baixar o preço da moeda, ou em retirar dólares para forçar uma alta, dependendo do objetivo do governo.

Medida

O que é

Leilão spot

Quando o governo vende (ou compra) dólares no mercado à vista. É a forma mais direta de intervenção, pois altera mais rapidamente a quandidade de dólares disponível no mercado.

Leilão de swap

O Banco Central vende um título que tem seu valor ligado ao valor do dólar (seu valor em reais varia junto com a cotação do dólar); funciona como um mecanismo de proteção contra a variação excessiva. Assim, se a cotação da moeda subir ou cair muito, o investidor que tem dívidas ou receitas a receber em dólares não tem perdas excessivas.

Tributos

O governo pode diminuir ou retirar um tributo, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de determinadas aplicações para atrair dinheiro do investidor estrangeiro. Aumentar tributos faz ficar mais caro trazer dólares para o Brasil, e tende a reduzir a quantidade da moeda no no país; já reduzir tributos tem o efeito contrário – torna mais barato trazer dólares para cá.

Selic

Ao aumentar a taxa básica de juros da economia, o governo torna o investimento em títulos brasileiros mais rentável, atraindo assim o investidor estrangeiro – que traz dólares para o país. Quanto mais dólares no país, mais barata a moeda dos EUA fica.

Compulsório

Compulsório é o dinheiro que os bancos são obrigados a "guardar" no Banco Central – uma parte de tudo o que recebem. Ao diminuir a exigência de depósitos compulsórios dos bancos, o Banco Central permite que as instituições financeiras vendam mais dólares, aumentando a quantidade da moeda disponível.

Títulos públicos

O governo arrecada dinheiro para financiar seus gastos através da venda de títulos públicos. Quando o investidor do exterior compra um título do governo, para receber este dinheiro acrescido de juros mais tarde, ele "injeta" mais dólares no país.

Por que o dólar sobe
A alta contínua da cotação do dólar tem, de maneira bastante resumida, duas explicações – uma de origem externa e outra de origem interna.

Quando houve a crise financeira internacional de 2008, as principais potências econômicas enfrentaram graves problemas, como desemprego alto e baixo crescimento da economia ou até recessão. No meio deste processo, os países emergentes – o Brasil aí incluído – se fortaleceram e conquistaram a confiança de investidores mundiais, o que significa, na prática, que o dinheiro de investidores estrangeiros passou a entrar no país. Foi assim que o dólar acabou ficando mais barato para o brasileiro.

Mas o cenário, agora, é outro. “Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos fizeram muito bem o dever de casa e fortaleceram sua economia”, destaca Ítalo Abucater, especialista em câmbio da Icap Brasil Corretora.

Com a economia dos Estados Unidos reagindo, o dólar volta a ser o investimento mais interessante para todo e qualquer investidor. Daí, quando todo mundo compra dólar, ele fica mais caro. “Estão tirando [os investimentos] de várias aplicações no mundo e voltando para o dólar”, resume Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (Cemap/FGV).

Para ajudar a economia dos EUA a se recuperar, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) praticou uma política monetária bastante “permissiva”, diz o professor. A taxa de juros foi mantida muito próxima de zero e o Fed passou a comprar US$ 85 bilhões em títulos hipotecários e dívida do Tesouro norte-americano todo mês. Isso fez com que o dólar se tornasse abundante e, portanto, barato.

Mas, com a economia do país reagindo, o BC dos EUA já avisou que vai mudar sua política monetária. “Todo mundo sabe que tem data para acabar e o Fed está sugerindo que vai acabar num futuro bem próximo”, diz Marçal, da FGV.

“Se a maior economia do mundo se mexe, o mundo se mexe”, lembra ele. Este, portanto, é o fator externo que explica, em parte, a alta do dólar no Brasil. Ocorre, porém, que a desvalorização do real tem sido mais acentuada que a de outras moedas. “Então, alguma coisa também está acontecendo no Brasil”, diz o professor da FGV.

Para o especialista em câmbio da Icap, enquanto os EUA fizeram a lição de casa, o Brasil deixou a desejar. “O país acabou perdendo a confiança dos investidores por conta de tributação elevada, IOFs descabidos em momentos impróprios. O investidor estrangeiro não se incomoda em pagar algum ‘pedágio’ para entrar no país, mas ele não gosta de mudança de regras. E o Brasil, o que mais teve nos últimos tempos, foi mudança de regras.”

Na opinião de Emerson Marçal, o problema interno que também afeta a cotação do dólar consiste num quadro macroeconômico “desconfortável”, que alia três fatores principais: inflação alta, uma economia que não reage e o desempenho das contas externas brasileiras, “que não estão numa trajetória boa”.

“O resultado das transações correntes nos últimos anos está piorando. (...) A balança comercial brasileira, que é quem sustentaria o superávit de transações correntes, também está se deteriorando este ano. Embora o sinal vermelho ainda não esteja aceso, já acendeu o sinal amarelo. Então, parte deste movimento é o mercado antecipando um problema que está por vir”, destaca o professor.

Swap cambial
O instrumento que o Banco Central tem utilizado com mais frequência atualmente na tentativa de evitar uma alta forte são os leilões de swap cambial. O swap é um título atrelado a um determinado valor do dólar a ser pago em uma data futura.

Os swaps funcionam como um mecanismo de proteção contra a variação do dólar. Ao comprar um título associado ao dólar, a pessoa se protege de uma oscilação – ela "fixa" o valor do dólar que tem a receber ou a pagar.

Leilão spot
O Brasil acumulou muitos dólares de reservas internacionais. Outra forma de o governo evitar a alta do dólar seria vendendo estes dólares no mercado à vista – instrumento conhecido como leilão spot. Ao vender moeda, o governo aumenta imediatamente a quantidade de dólares disponível, afetando a taxa de câmbio.

Tributos
O governo também pode mexer em alguns tributos, sendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a alternativa mais comum. Este ano, o governo zerou o IOF para estrangeiros na renda fixa e retirou a cobrança nas transações financeiras conhecidas como derivativos, que são usadas como apostas das empresas e bancos brasileiros e estrangeiros no mercado futuro.

A retirada do IOF foi feita para “estimular o mercado a voltar a vender, não sendo mais punido por tributações”, diz Abucater, da Icap Brasil. Com mais dólares sendo vendidos, a tendência da cotação é cair.

Dentro deste tipo de artifício, o governo também poderia usar a isenção de Imposto de Renda para estrangeiros.

Selic
Um “instrumento limite”, na opinião de Marçal – que avisa que ainda estamos longe disso – seria o governo subir a taxa básica de juros, a Selic. “Numa situação limite, não é o caso, o governo poderia aumentar a taxa de juros para tornar o país atrativo. Seria uma forma de atrair capital estrangeiro”, explica, o que aumentaria a quantidade de dólares no Brasil.

Títulos públicos
Os títulos públicos são usados pelos governos como forma de captar o dinheiro que necessita para financiar os gastos públicos não cobertos pela arrecadação de impostos. Em linhas gerais, o investidor "empresta" dinheiro ao Tesouro para recebê-lo depois, acrescido de juros.

A venda de títulos públicos pelo Tesouro, portanto, injeta mais dinheiro no país. Para o investidor, também é uma forma de hedge (proteção), lembra Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da Advanced Corretora.

Compulsório
Este ano o Banco Central também fez uma nova alteração nas regras dos depósitos compulsórios dos bancos – que são aqueles recursos que precisam ser mantidos na autoridade monetária.

Ao retirar a alíquota de 60% dos depósitos compulsórios (sem remuneração) que incide sobre as vendas de dólares pelos bancos acima de US$ 3 bilhões, o governo permitiu que as instituições pudessem vender mais dólares sem incidência do compulsório. Com os bancos vendendo mais, aumentam os dólares disponíveis, puxando para baixo a cotação.

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