Economia Imóveis

O mapa da resistência

Os seis imóveis da Zona Sul cobiçados pelas construtoras, cujos donos relutam em vender

AFASTEM-SE. A placa no portão de entrada da casa da Prudente
de Moraes: aviso não é suficiente para inibir ofertas
Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
AFASTEM-SE. A placa no portão de entrada da casa da Prudente de Moraes: aviso não é suficiente para inibir ofertas Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

— Quanto já lhe ofereceram?

Silêncio.

— R$ 30 milhões, 50 milhões?

— Ah, bastante dinheiro — limita-se a dizer o dono da casa na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, com um leve sorriso no canto da boca.

O terreno em questão, que segundo profissionais do mercado imobiliário é avaliado em torno de R$ 30 milhões, integra o mapa dos seis endereços da Zona Sul mais cobiçados pelas construtoras, mas que ainda resistem à venda.

O motivo do interesse é só um:

— Os terrenos que existem hoje na Zona Sul são raros — diz João Paulo Matos, presidente da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) e diretor-presidente da Calçada.

Já as razões da relutância dos proprietários são várias, pontua Rafael Bravo, diretor de Novos Negócios da construtora Mozak, que em junho arrematou um dos últimos terrenos disponíveis na Epitácio Pessoa, na Lagoa:

— Em alguns casos, há discordância entre os donos sobre os valores de venda. Em outros, o valor pedido não dá margem de lucro satisfatória. E tem ainda a dificuldade afetiva... essa, sim, é difícil: não há proposta que resolva.

É. Pode até parecer loucura para as empresas uma recusa de milhões, mas quando se vê a casa branca de portões verdes da Rua Prudente de Morais, dá para entender. O dono, que mora lá desde que nasceu, dificilmente encontraria outra residência com ar campestre e amplo jardim no coração de um dos bairros mais famosos do Rio.

— Podem me chamar de maluco, mas isso aqui não tem preço — diz o proprietário, um simpático senhor, que prefere não se identificar.

Tanto que depois de muitas ofertas, resolveu colocar uma placa no portão, informando que o imóvel não está à venda e acrescentando: “Pede-se não insistir". Mas insistem, reclama ele:

— Quando falam que é esse o assunto, eu nem atendo.

Quanto aos valores, o diretor da Mozak não revela quanto a empresa pagou pelo terreno que dará lugar ao Mader Residencial, um prédio de cinco andares, com um apartamento por andar, que custa R$ 4,1 milhões cada. Segundo corretores, entretanto, na região, um terreno poderia chegar a R$ 50 milhões. Na Zona Sul, como um todo, continuam eles, são tantos os fatores que não há como imaginar limites.

Na Gávea, dois terrenos na mira

A Lagoa, por sinal, é um local muito disputado entre as construtoras, mas com poucas possibilidades de terreno. Um deles fica na Epitácio Pessoa, na altura da Joana Angélica, onde funcionava o Chico’s Bar. O espaço, murado e vazio, está sob vigilância de um segurança e fica ao lado de uma casa vazia, que é tombada. Mas, vizinhos que estão lá há anos garantem que tem muita gente atrás daquele pedaço de chão.

Aliás, neste caça ao tesouro, o segredo faz parte da negociação. Vizinhos e alguns funcionários destes endereços cobiçados confirmam as visitas recebidas de interessados. Entretanto, oficialmente, os donos dos terrenos não falam ou negam as propostas.

É o caso de duas propriedades na Gávea. Uma delas fica na Marquês de São Vicente. A construção desativada e fechada com tapumes é do Mundial, mas nunca um supermercado foi construído ali. Vizinhos dizem que o local já foi cogitado por vários grupos, inclusive de fora do Rio. Por meio de sua assessoria, a empresa informou que não fala sobre seus terrenos.

Mesma situação da unidade do Centro Médico Adventista Silvestre em Botafogo. Um funcionário confirma que há constantes ofertas, mas a empresa diz desconhecer qualquer proposta.

Também na Gávea, uma esquina se destaca para os garimpeiros de bons terrenos: um posto de gasolina, na Santos Dumont. Outro endereço do sonho das construtoras na Zona Sul, sabe-se bem, é o das duas casas geminadas da Delfim Moreira. Até hoje, de pé.