Economia

FGTS Petrobras ainda tem ganho de 295% desde agosto de 2000

Apesar do mau desempenho recente das ações, fundo supera com folga retorno do FGTS e alta da inflação

RIO - Apesar do mau desempenho recente das ações da Petrobras, os trabalhadores que destinaram recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os papéis da companhia em agosto de 2000 - quando o governo permitiu pela primeira vez a operação - fizeram um bom negócio, segundo dados do Instituto FGTS Fácil. Os fundos renderam 295,36% no período até o último dia 10. Quem destinou R$ 10 mil tinha assim R$ 39.536 no fundo. Neste caso, se o dinheiro tivesse permanecido no FGTS, teria rendido 86,57%, menos do que a inflação pelo IPCA, de 127%.

E, agora, com as incertezas para os papéis - em razão da falta de reajuste no preço da gasolina e a perspectiva de maior endividamento para cumprir os investimento para exploração no pré-sal - será que chegou a hora de sacar os recursos dos fundos FGTS Petrobras e embolsar os lucros? Para Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), ainda não é hora de vender, porque vale preservar o investimento no fundo FGTS Petrobras se o investidor não precisar dos recursos no momento ou se puder utilizar o valor aplicado por pelo menos cinco anos. Isso porque, ao vender os papéis, os recursos voltam para o FGTS, onde o rendimento é Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, e, assim, perde para a inflação. Mesmo com o risco inerente ao mercado acionário, Dana acredita que o fundo FGTS Petrobras tem mais chance de superar o FGTS no médio e longo prazo.

- FGTS é um dinheiro morto. Se deixar nele sozinho, vai ser corroído pela inflação. No longo prazo, a Bolsa tem chance de bater a inflação. Para o dinheiro que já está no FGTS Petrobras, acho viável permanecer por pelo menos cinco anos - disse Dana.

O fundo mútuo de privatização permitiu ao trabalhador aplicar até 50% do saldo de suas contas vinculadas no FGTS na compra de ações de empresas estatais ou em processo de privatização. Naquele ano de 2000, o governo autorizou que R$ 3,4 bilhões do FGTS fossem usados desta forma. Houve ainda o benefício de um desconto de 20% sobre o preço da ação negociada na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Por falta de tempo ou desinteresse, muitos não participaram. Cerca de 310 mil trabalhadores optaram pelo investimento, num total de R$ 1,7 bilhão (metade do máximo permitido).

Em setembro de 2010, o governo federal voltou a autorizar que os trabalhadores destinassem recursos do FGTS para as ações da companhia. Mas apenas quem já tinha participado da primeira oferta e manteve as ações na carteira pôde colocar mais recursos nos papéis da Petrobras. Três anos atrás, 25 mil trabalhadores aplicaram mais de R$ 423,7 milhões no FGTS, segundo divulgou a companhia ao mercado naquela época. Desde então, no entanto, o desempenho das ações da Petrobras foi muito aquém do esperado, com perda acumulada de 29,4% nos papéis preferenciais (PN, sem voto) e de 42,84% nos ordinários (ON, com voto).

Ações da petrolífera acumulam perda de 5%

Com o mau desempenho das ações da petroleira, 5.610 cotista do FTGS Petrobras sacaram completamente seus recursos dos fundos da Caixa Econômica Federal (CEF) nos últimos 20 meses, segundo dados do banco. São agora 147.191 cotistas, frente a 170.150 em dezembro de 2011. Na Caixa, o número de cotistas do FGTS Vale é maior, de 106.202. Em 2013 até o último dia 22, os fundos FGTS Petrobras acumularam perda média de 10,45%, segundo dados da Anbima.

Somente em 2013, até a última sexta-feira (25), ações PN da Petrobras acumulam queda de 5,28%. Segundo especialistas, o mau desempenho das ações é provocado principalmente pelo fato de a Petrobras vender combustíveis no mercado doméstico abaixo do custo no mercado internacional. Com a desvalorização do dólar ocorrida neste ano e a manutenção de preços elevados do petróleo no mercado internacional, o prejuízo aumenta.

Só em 2013, a estatal perdeu R$ 14,1 bilhões pela defasagem. Desde o fim da conta petróleo em 2002, fonte de recursos pela qual o Tesouro reembolsava a Petrobras pela defasagem nos combustíveis, a perda acumulada é de R$ 48,2 bilhões pela disparidade de preços, segundo estimativas do consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).