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Margaret Thatcher morre aos 87 anos de derrame cerebral

Conhecida como “Dama de Ferro”, foi a primeira mulher a se tornar primeira-ministra do Reino Unido

Margaret Thatcher morre aos 87 anos
Foto: ANDREW WINNING / REUTERS
Margaret Thatcher morre aos 87 anos Foto: ANDREW WINNING / REUTERS

LONDRES - A ex-primeira ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, morreu nesta segunda-feira de um derrame cerebral, aos 87 anos, no hotel Ritz no centro de Londres, onde estava desde dezembro. Conhecida como “Dama de Ferro” por seu estilo autoritário, Thatcher foi a primeira mulher a se tornar primeira-ministra britânica, cargo no qual ficou por três mandatos consecutivos, entre 1979 e 1990. Há apenas quatro meses, a premier foi operada com sucesso de um tumor na bexiga e desde então se recuperava no hotel - sua casa tem quatro andares. Nos últimos anos, porém, vítima de uma série de derrames, ela se afastou das aparições públicas. Seu funeral, na semana que vem, terá as mesmas honras militares e o mesmo status da rainha-mãe e da princesa Diana, informou o governo britânico.

- É com grande tristeza que Mark e Carol Thatcher anunciam que a mãe morreu esta manhã após um derrame - disse o porta-voz Lord Bell.

A rainha Elizabeth II e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, lamentaram a morte da ex-premier. Em comunicado do Palácio de Buckingham, a rainha informou que recebeu a notícia “com tristeza”. Já o premier ressaltou o legado de Thatcher:

- Perdemos uma grande líder, uma grande primeira-ministra, uma grande cidadã britânica - disse Cameron.

A cerimônia será na Catedral de St Paul, em Londres, e embora tenha honras militares, não haverá honras para chefe de Estado. Após a cerimônia será feita uma cremação privada. O último ex-premier a receber honras de Estado foi Winston Churchill.

Após a notícia, o primeiro-ministro decidiu interromper sua viagem pela Europa e retornar imediatamente a Londres. Cameron foi informado da morte de Margaret durante uma reunião com o presidente do governo espanhol Mariano Rajoy, em Madri.

Apelido foi criado pelos russos

Nos 11 anos em que foi primeira-ministra, a polêmica Thatcher enfrentou os sindicatos do país, promoveu uma onda de privatizações de empresas e levou o Reino Unido à vitória na Guerra das Malvinas. A atuação rendeu-lhe o apelido profético de “Dama de Ferro”, ainda na década de 70, criado pelos russos.

Em 3 de maio de 1979, quando se tornou a primeira mulher na Europa a assumir o cargo de primeiro-ministro, após uma vitória avassaladora do Partido Conservador, ela foi descrita como uma mulher determinada a frear o rumo socializante traçado por cinco anos de governo trabalhista. Aos 53 anos, ela dava início à “era Thatcher”, marcada por três governos consecutivos, dominando a política do país por mais de uma década.

Nascida em 1925, Margaret Hilda Roberts era filha de um comerciante de Grantham, um pregador leigo que a educou de acordo com rígidos princípios metodistas. Ela acabou adquirindo o sotaque aristocrático em Oxford, onde se formou em química e direito. Mas o fascínio pela política foi mais forte e aos 34 anos já estava no Parlamento. Conhecida pelo pensamento rápido, e uma língua mais rápida ainda, logo subiu nas fileiras conservadoras e aos 44 anos era ministra da Educação.

Aniversário com a presença da rainha

Em 1975, ela desafiou Edward Heath pela liderança dos conservadores. Contam que, quando entrou no escritório de Heath para comunicar sua decisão, ele respondeu sem sequer levantar os olhos: “Você vai perder. Tenha um bom dia”. Estava errado.

No dia 5 de fevereiro O GLOBO publicava: “Mulher afasta Heath da liderança conservadora”. No final dos anos 70, ela chegaria ao cargo de primeira-ministra, num momento em que o continente europeu vivia uma fase de desilusão econômica. Aos poucos, foi se desfazendo da herança que os trabalhistas haviam deixado: afastou o Estado da economia, privatizou centenas de empresas, reduziu o poder dos sindicatos e diminuiu o alcance dos programas sociais.

A firmeza com que conduziu o país na Guerra das Malvinas, contra a Argentina, garantiu-lhe mais dois mandatos, em 1983 e 1987. Essa determinação foi demonstrada em outros campos de batalha. Em 1985, os mineiros voltaram a trabalhar depois de um ano de greve, sem que a premier tivesse negociado. Ela já havia se recusado também a negociar com dez militantes do Exército Republicano Irlandês, IRA, que morreram numa prisão em 1981 quando faziam greve de fome.

Embora tenha renunciado em 1990, principalmente devido ao descontentamento com sua política fiscal, continuou influente no cenário político pelos anos seguintes e ajudou a eleger seu partidário, John Major, em 1991. Depois dele, os trabalhistas voltariam ao poder, em 1995.

Mais recentemente vieram golpes, como a morte, em 2003, do marido Dennis, com quem se casara em 1951. No ano seguinte, o filho foi preso na África do Sul, sob a acusação de estar por trás de uma tentativa de golpe de Estado na Guiné Equatorial. Em junho de 2004, sua aparência era frágil no enterro do amigo e antigo aliado Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA.

Em 2005, no aniversário de 80 anos, em 13 de outubro, participou de uma grande festa que contou com a presença do então primeiro-ministro Tony Blair e da rainha Elizabeth II.Thatcher tinha a aparência frágil, mas desafiou a determinação médica de não falar em público. Segundo os convidados, a mente e a língua continuavam afiadas.

Esta visão, no entanto, mudou em 2008, quando sua filha, Carol Thatcher, revelou em entrevista ao jornal britânico “The Mail on Sunday” o sofrimento da mãe com o avanço da demência provocada pelo mal de Alzheimer. Segundo Carol, a ex-primeira-ministra esquecia fatos corriqueiros do dia a dia e, numa amostra de uma das faces mais cruéis da doença, frequentemente tinha que ser lembrada da morte de seus amado Dennis.

Em 2011, a trajetória de Thatcher foi tema do filme “A Dama de Ferro”. A produção de uma cinebiografia de uma pessoa ainda viva e as cenas mostrando sua fragilidade e demência ao fim da vida atraiu críticas tanto de conservadores quanto de trabalhistas. O filme ficou de fora da disputa pelo Oscar de 2012, mas sua intérprete, a atriz Meryl Streep, acabou levando o prêmio a academia americana de melhor desempenho do ano.