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MP flagra leite vencido fraudado com água oxigenada no Rio Grande do Sul

Água oxigenada era adicionada em lotes de leite azedo para permitir sua reutilização pelos atravessadores. Promotores também investigam denúncias do uso de soda cáustica e bicarbonato de sódio
Operação encontrou documentos que comprovam adulteração dos alimentos Foto: DIVULGAÇÃO MP-RS
Operação encontrou documentos que comprovam adulteração dos alimentos Foto: DIVULGAÇÃO MP-RS

PORTO ALEGRE - Depois da adição de ureia com formol no leite, o Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul detectou ontem na região noroeste do estado, durante a terceira fase da operação Leite Compen$ado, a utilização de água oxigenada na adulteração do produto por parte de uma empresa transportadora. A água oxigenada era adicionada em lotes de leite azedo para permitir sua reutilização pelos atravessadores. Os promotores também investigam denúncias do uso de soda cáustica e bicarbonato de sódio na fraude.

As diligências foram feitas nas cidades de Três de Maio e Nova Candelária, perto da divisa com Santa Catarina. Foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão. O promotor Mauro Rockenbach, responsável pelas investigações, disse que foram encontradas notas fiscais que comprovam a compra de 400 quilos de hidróxido de sódio (soda cáustica) e 110 quilos de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) pela empresa, além de uma quantidade menor de bicarbonato de sódio.

Segundo a investigação, o responsável pela fraude é o transportador Airton Jacó Reidel, 31 anos. Com a ajuda da mulher, Rejane Dias, e dos sobrinhos Roberto Carlos Baumgarten e Laércio Rodrigo Baumgarten, o transportador fazia a adulteração em um galpão com três resfriadores - após coletar o leite de produtores rurais e antes de entregar à indústria.

A prisão temporária dos suspeitos, solicitada pelo MP, foi negada pela Justiça. Mas Reidel acabou detido por porte ilegal de arma e foi transferido para a delegacia de Três de Maio. O suspeito disse que não tinha advogado e que se manifestaria apenas em juízo.

- Temos escutas telefônicas em que os investigados falam claramente sobre a adição de água oxigenada no leite, até mesmo com detalhes sobre quantidades adicionadas - explicou Rockenbach.

De acordo com Rockenbach, o fraudador  construiu um galpão com porta de correr que ocultava os caminhões usados para transportar o produto adulterado. O promotor disse que a quadrilha ficou cerca de 15 dias inoperante no final de maio, após a segunda etapa da Operação Leite Compen$ado.

O peróxido de hidrogênio (ou água oxigenada) é usado para estabilizar a ação bactericida que deteriora o leite. Com isso, os transportadores calculavam o tempo de ação no produto para manter a validade, escondendo a presença da substância na análise química feita pela indústria.

Na prática, o grupo comprava leite prestes a vencer por preço até 50% inferior ao do mercado e, após a manipulação com o peróxido de hidrogênio, repassava a matéria-prima para a indústria. A substância química elimina as vitaminas A e E e, em altas concentrações, prejudica a flora intestinal.

Três equipes formadas por 10 policiais, três promotores e técnicos do MP e do Ministério da Agricultura cumpriram os mandados no galpão e na residência de Reidel, em uma outra propriedade da família em Nova Candelária e num posto de resfriamento da indústria LBR, em Giruá - onde os caminhões do suspeito entregam leite diariamente.

A fraude foi detectada a partir de informações da LBR. Três relatórios do laboratório de uma universidade, credenciada pelo Ministério da Agricultura, apontaram presença de água oxigenada, o que é proibido pelas normas da Anvisa. De acordo com os laudos de condenação de carga de leite da empresa, duas delas, transportadas por Transportes Reidel & Dias Ltda, foram rejeitadas em 12 e 15 de outubro devido à presença de água oxigenada. A Mallmann Ltda, que também comprava leite de Reidel, rejeitou uma carga no dia 14 de outubro.

Segundo Rockenbach, como a fraude foi descoberta pelas próprias indústrias de beneficiamento é pouco provável que a contaminação possa ter chegado aos consumiudores.

Na primeira etapa da Operação Leite Compen$ado, em maio deste ano, foi detectada a utilização de ureia com formol para aumentar o rendimento da matéria-prima e aumentar os lucros. A fraude, feita por transportadores, resultou na denúncia à Justiça de 12 réus.

Na segunda fase, no final do mês de maio, mas dois núcleos da adulteração foram desarticulados pelo MP, resultando na denúncia de mais cinco réus. No total, 14 pessoas foram presas nas duas primeiras etapas da operação.