27/08/2013 11h03 - Atualizado em 27/08/2013 11h03

Por falta de defunto, velório vai virar centro educacional em Franca, SP

'Fico esperando um corpo', diz funcionário do local, inaugurado há 2 anos.
Prédio vai se tornar um centro para crianças e adolescentes, diz vereador.

Do G1 Ribeirão e Franca

Um velório inaugurado há mais de dois anos no bairro Jardim Paulistano, em Franca (SP), foi usado uma vez e por apenas 2 horas. Construído em um bairro considerado afastado da Zona Leste da cidade, o local é ignorado pelos moradores que se recusam a velar algum morto no prédio. A localização e a falta de segurança são os principais motivos apontados pela população para a rejeição do velório. Com a situação, a Administração Municipal estuda implantar um centro de convívio para crianças e adolescente no endereço.

Construído por uma parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado, o velório custou R$ 150 mil. A população acredita que o prédio foi erguido em um terreno de difícil acesso, mal iluminado e cercado por mato. Até mesmo os moradores da região não consideram o local adequado. "O velório foi construído em um local muito afastado. A noite aqui é uma escuridão sem fim. As pessoas têm medo, se sentem ameaçadas", disse o aposentado Nelson Neves.

Para a presidente da associação de moradores do bairro, Vera Neves, a insegurança é a causa do abandono. "As pessoas se sentem inseguras e acabam não fazendo o velório aqui. Já conversei com as funerárias e eles dizem que as famílias não querem fazer o velório neste bairro", relatou.

Ela ainda criticou a escolha do endereço para a construção do velório. "Acho um absurdo, creio que deveria ter sido construído em um local mais acessivel, mais iluminado", reclamou.

Funcionário mantém o local limpo mesmo sem receber nenhum morto (Foto: Ronaldo Gomes/ EPTV)Funcionário mantém o local limpo mesmo sem
receber mortos (Foto: Ronaldo Gomes/ EPTV)

Trabalho persistente
Funcionário do velório há quase um ano, Antônio Carlos dos Reis contou que faz a limpeza do prédio todos os dias, mesmo não tendo para quem mostrar o seu trabalho. "Nunca faltei nem um dia desde o dia 1º de setembro do ano passado. Eu fico chateado porque limpo o velório esperando que algum corpo seja velado nele. Seria recompensador alguém ser velado aqui".

Reis, que é morador do Jardim Paulistano há mais de 20 anos e garantiu que o bairro não é violento. "O pessoal não confia porque é um local afastado. Eu moro aqui faz tempo e não tem esse perigo todo. Quem mora aqui sabe que não é assim", comentou.

Escolha errada
Autor do projeto que indicou o endereço para o velório, o vereador Josivaldo Bahia (PTB) admite ter se equivocado na escolha. "Escolhi esse local pelos pedidos que recebi daquela comunidade. Na ocasião, conversei com um deputado e pedi um velório para a Zona Leste de Franca. A verba foi conseguida, mas agora percebo que errei na indicação do local. Sou muito lembrado por isso até hoje, mas acreditam que todos podem cometer erros", disse.

De acordo com o vereador, o velório deverá ser desativado pela Prefeitura e dará lugar a um centro comunitário. O projeto, entretanto, ainda tem data para ser colocado em prática, segundo ele. "Lá vai funcionar um centro de convivência da criança e do adolescente. Já fiz esse pedido para a Prefeitura. Não dá para continuar sendo usado como velório", concluiu.

Imóvel onde funciona o velório é cercado por arame (Foto: Ronaldo Gomes/ EPTV)Imóvel onde funciona o velório é cercado por arame (Foto: Ronaldo Gomes/ EPTV)

 

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