Rio

Após novo tumulto, PM vai repensar ação em protestos

Cúpula de Segurança afirmou que vai repensar atuação em protestos
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame; a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha; e o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho durante reunião da Cúpula de Segurança do estado Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame; a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha; e o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho durante reunião da Cúpula de Segurança do estado Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo

RIO - A Polícia Militar informou, nesta quinta-feira, após reunião de emergência convocada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, que vai repensar as estratégias de atuação em manifestações depois do tumulto provocado por vândalos no protesto desta quarta-feira na Zona Sul. Na avaliação da Cúpula de Segurança do estado, o pacto com organizações não-governamentais como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Anistia Internacional e entidades de direitos humanos não deu certo. Segundo o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o planejamento da polícia para atuação em protestos terá de ser refeito.

— Vamos analisar criteriosamente o que aconteceu ontem (quarta-feira), refazer o planejamento para uma próxima manifestação, analisar as medidas que não foram aplicadas e executá-las num novo protesto. Temos que pensar no que vai acontecer daqui pra frente — disse o secretário.

Ainda durante a entrevista coletiva, Beltrame afirmou que planejamento para a visita do Papa Francisco está pronto. O Pontífice chega ao Rio na segunda-feira para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada entre os dias 23 e 28 deste mês. O secretário de Segurança disse ainda que não tem informações de protestos marcados para o período da visita do Papa.

— Ele tem um protocolo. A agenda está em discussão do governo federal com o Vaticano. A gente sabe o que vai acontecer na agenda desta autoridade. A questão da manifestação é diferente, a PM está se adaptando, porque não há uma agenda coordenada. A gente está atento, mas tem que ver quando vai acontecer, se isso vai acontecer, porque a gente não tem esta informação — disse o secretário.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, afirmou que houve dificuldade em conter os vândalos que destruíram lojas, bancos e equipamentos públicos no Leblon e Ipanema na noite desta quarta-feira. Segundo ele, a falta de liderança, característica das manifestações que vêm sendo realizadas desde o mês passado, é um fator novo que a PM não estava preparada para lidar.

— Vimos ontem (quarta-feira) que houve dificuldades. Vamos repensar nossa estratégia para voltarmos a atuar como antes. Não sabemos quem está por trás disso tudo, tem muita gente perdida, mas nós não estamos perdidos. E se a PM não estiver ali, é anarquia — afirmou o comandante.

No início da tarde desta quinta-feira, o governador Sérgio Cabral divulgou uma nova nota sobre os atos de vandalismo. No comunicado ele chama o ocorrido de afronta, e reafirma sua posição de garantir o direito de ir e vir através das forças de Segurança Pública.

"Os atos de vandalismo na madrugada de ontem nos bairros do Leblon e de Ipanema são uma afronta ao Estado Democrático de Direito. O Governo do Estado reitera a sua posição de garantir, através das forças de Segurança Pública, não só o direito à livre manifestação, como também o direito de ir e vir e à proteção ao patrimônio público e privado."

Comandante da PM defende uso de gás lacrimogêneo

Na terça-feira, a PM havia dito que o uso de gás lacrimogêneo seria reduzido em manifestações. Segundo o coronel Erir Ribeiro, que defendeu o uso do equipamento, a medida prejudicou a ação da PM no protesto desta quarta-feira.

— O gás que todo mundo reclama é o menos letal. Serve pra dispensar os vândalos. Na ação de ontem (quarta-feira), a falta de uso de gás prejudicou a operação — disse o coronel.

Durante a entrevista coletiva após a reunião de emergência convocada pelo governador Sérgio Cabral, a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, foi questionada sobre a quantidade de presos. Segundo a delegada, a polícia não pode manter os vândalos presos porque a lei não permite.

— A Polícia Civil não parou de trabalhar, mas tenho que seguir o que determina a lei. Alguns vândalos foram presos por formação de quadrilha, mas o crime é afiançável. Identificamos 16 pessoas por incitação à violência desde o início das manifestações, só que ninguém pode ficar detido por isso. Além do mais, o crime de dano ao patrimônio depende de representação, ou seja, de que as vítimas se manifestem — disse Martha Rocha, acrescentando que há três medidas cautelares em andamento, mas que dependem da apreciação da Justiça e do Ministério Público.

A polícia deteve nove pessoas em flagrante por paticipação nos atos de vandalismo. Segundo a Polícia Civil, todas elas foram autuadas por formação de quadrilha, sendo uma também por posse de artefato explosivo, que ficou presa. As outras oito pessoas pagaram fiança, conforme prevê a lei, e foram liberadas.

Equipes da 14ª DP (Leblon) percorreram, na manhã desta quinta-feira, ruas do bairro em busca de imagens que possam identificar outros suspeitos. Além disso, os policiais fotogafraram os estabelecimentos que foram depredados e orientaram os proprietários a prestar queixa de crime de dano ao patrimônio.

— A polícia está trabalhando, mas tem o limite controlado pela lei. Eu não posso fazer milagre — afirmou a delegada Martha Rocha.

O encontro de emergência no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, aconteceu após protestos violentos nas ruas da cidade. Na noite desta quarta-feira, depois de uma manifestação pacífica perto da residência do governador, grupos atearam fogo em barricadas de lixo na Ataulfo de Paiva e na Visconde de Pirajá, saquearam lojas e depredaram bancos. A ação de vândalos deixou um rastro de destruição nos bairros do Leblon e Ipanema após confronto entre manifestantes e policiais.

Governador acusa adversários políticos

O governador Sérgio Cabral (PMDB) acusa seus adversários políticos de serem os responsáveis pelos protestos na sua vizinhança, no Leblon. Segundo ele, há uma tentativa de seus opositores de antecipar o calendário eleitoral. A acusação, no entanto, foi rebatida por possíveis concorrentes à eleição em 2014. O vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) é o nome apoiado por Cabral para a sucessão no Palácio Guanabara.

Um grupo chegou a ficar acampado na esquina de Cabral e foi retirado pela Polícia Militar no último dia 2. Dois dias depois, um novo protesto no mesmo local terminou em confronto entre manifestantes e a polícia, que usou bombas de gás lacrimogêneo. Provável candidato do PR ao governo do Rio, o deputado federal Anthony Garotinho disse que a atitude de Cabral de atribuir as manifestações à oposição é “um devaneio” e “um delírio”:

O vereador Cesar Maia, que deve ser candidato pelo DEM, afirmou que o governador ainda não entendeu nada da dinâmica das redes sociais:

Pré-candidato do PT à sucessão no Palácio Guanabara, o senador Lindbergh Farias não quis comentar a declaração do governador. A pré-candidatura de Lindbergh abriu uma crise entre PT e PMDB. Os peemedebistas querem a manutenção da aliança nacional e pressionam para que o senador desista de concorrer ao posto para apoiar Pezão. Com a estratégia de se preservar, Lindbergh tem delegado a outros aliados a missão de falar por ele.