Economia

CVM cobra explicações da OGX sobre pedido de recuperação judicial

Empresa não enviou comunicado ao mercado e ações foram negociadas até as 18h

SÃO PAULO - O pedido de recuperação judicial da OGX, que tem peso de 3,739% no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, não foi comunicado ao mercado e as ações da empresa continuaram sendo negociadas normalmente nesta quarta-feira. A empresa deu entrada no processo por volta das 16h30m. O pregão regular acaba às 17h e, depois, segue no after market. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM, órgão regulador do mercado de capitais)  informou que enviou um ofício para a OGX sobre a informação de que a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, mas que "até o presente momento (a companhia) não se pronunciou".

Logo após o pedido, as ações atingiram a mínima histórica de R$ 0,16, com queda de 30,43%, e fecharam o horário regular do pregão com recuo de 26,09%, cotadas a R$ 0,17.  Depois, no after market seguiram negociadas a R$ 0,17, até 18h. Procurada, a BM&Bovespa ainda não tinha informações sobre a suspensão dos papéis.

O mercado já esperava que a OGX tomasse essa decisão, após a empresa anunciar que não chegou a um acordo com seus credores.

A queda expressiva da ação influenciou o desempenho do Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, que chegou a subir 0,41% pela manhã. O índice se desvalorizou 0,67% aos 54.172 pontos e volume negociado de R$ 6,8 bilhões. A sinalização do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), de que a economia americana segue se recuperando também pesou sobre o índice. Cresceu no mercado a percepção de que os estímulos à economia podem ser retirados em dezembro e não em 2014.

- A notícia do pedido de recuperação judicial da OGX pesou no fim do pregão, mas desde o início da semana os papéis da OGX já vinham sofrendo com a possibilidade de a empresa tomar essa decisão. Agora, o Ibovespa deve ficar mais ‘limpo’. Na semana passada, as ações da OGX chegaram a subir 100%, o que também influenciou o índice - diz Maurício Pedrosa, sócio da Queluz Asset Management.

Logo após a abertura do pregão, as ações da OGX ficaram em leilão, já que iniciaram o dia com queda superior a 10%. Às 10h15, quando os papéis voltaram a ser negociados a desvalorização era de 13,04%, cotados a R$ 0,20. Ontem as ações da petrolífera encerraram com perda de 20,68%, a R$ 0,23, levando o Ibovespa a fechar em baixa de 0,97%, aos 54.538 pontos.

O gerente da mesa de renda variável da corretora H. Commcor, Ari Santos, observou que a durante a tarde o Ibovespa futuro voltou a superar o Ibovespa à vista, o que não acontecia há algum tempo.

- À tarde, depois do pedido de recuperação feito pela OGX, o Ibovespa futuro estava em 54.200, enquanto o índice à vista fechou aos 54.172 pontos. A OGX vinha influenciando negativamente o índice futuro e parece que o mercado começou a se ajustar à suspensão dos negócios com OGX - disse Santos.

As ações de empresas de capital aberto que entram com pedido de recuperação judicial deixam de ser negociadas no pregão da Bovespa, segundo um comunicado divulgado recente pela Bovespa, quando questionada sobre o futuro dos papéis da OGX caso a companhia pedisse concordata.

O diretor de operações da BM&FBovespa, André Demarco, explicou em entrevista durante a divulgação da nova metodologia do Ibovespa, em setembro, que, se o papel da OGX voltar a ser negociado em situação especial, ou seja, ainda dentro do prazo judicial para que a companhia se reestruture, ela será excluída do Índice Bovespa. Nessa situação, as demais ações que integram o Ibovespa ganham mais peso para compensar a saída da OGX, que atualmente tinha participação de 2,9% no índice.

- O preço de saída da ação do índice será definido através de um procedimento especial, que é o leilão entre compradores e vendedores. É feito o leilão, definido o preço e as ações voltam a ser negociadas fora do índice. Este procedimento é previsto na metodologia do Ibovespa - disse Demarco.

Quando estreou na Bolsa, em 13 de junho de 2008, a OGX tinha valor de mercado de R$ 36,68 bilhões, com a ação valendo R$ 12,25. Em novembro de 2010, as ações da OGX chegaram a R$ 23,27, no maior pico de valorização e o valor de mercado da empresa chegou a R$ 75,2 bilhões. No fechamento do pregão de terça, a empresa valia R$ 744 milhões, com o papel sendo negociado a R$ 0,23. Hoje, com a ação a R$ 0,17, o valor de mercado caiu para R$ 550 milhões.

A OGX informou na terça-feira que não chegou a um acordo para acerto de dívidas com seus credores internacionais. Eles têm em mãos US$ 3,6 bilhões em bônus da OGX com vencimentos em 2018 e 2022. Este mês, a OGX deixou de pagar US$ 45 milhões em juros a esse grupo. Nos termos da negociação com os credores internacionais, divulgados ontem, a OGX informou que ficaria sem dinheiro na última semana de dezembro. Para as necessidades de caixa de curto prazo, a empresa informa que precisaria de cerca de R$ 250 milhões.

Segundo analistas, sem geração de caixa, o pedido de recuperação judicial era a única saída para a empresa evitar a falência. Sob esse regime, a empresa ganha tempo para tentar uma reestruturação, já que continua operando, mas ficará blindada contra ações judiciais e eventuais cobranças de credores.

Todas as tentativas de obter recursos não tiveram sucesso. Segundo reportagem do jornal "Valor Econômico" fracassaram as negociações entre a OGX e a Petronas para a venda de 40% dos blocos BM-C-39 e BM-C-40, na Bacia de Campos. Segundo o jornal, a petroleira malaia desistiu de adquirir a participação nas duas áreas, onde se localiza o campo de Tubarão Martelo. O acordo com a Petronas previa um pagamento imediato de US$ 250 milhões, pela petroleira malaia. Um segundo aporte, de US$ 500 milhões, estava previsto com a entrada em operação do campo de Tubarão Martelo, em novembro. De acordo com a reportagem, a estatal malaia suspendeu a compra depois que a situação financeira da OGX se agravou. Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a OGX esclareceu que o acordo com a Petronas será discutido no processo de reestruturação financeira.

- A tentativa de negociação com os credores, que trocariam a dívida por ações e ainda injetariam recursos na companhia, também não avançou - diz um analista.

Outra possibilidade de a OGX obter recursos seria a venda da subsidiária OGX Maranhão para a Eneva, antiga MPX. Mas a Eneva, que detém 33% da OGX Maranhão, fechou separadamente um acordo de ‘opção’ com os bancos credores da subsidiária, se comprometendo a pagar R$ 200 milhões pela participação de Eike Batista, que é de 67%, na empresa. A OGX Maranhão, que tem ativos de gás na Bacia do Parnaíba, 'é o único bem de produção confiável que ainda resta na empresa', diz o jornal britânico 'Financial Times', em reportagem publicada nesta quarta-feira.

Usiminas apresenta maior alta do pregão após lucro

As ações da siderúrgica Usiminas apresentaram as maiores altas do pregão, após a empresa apresentar lucro de R$ 115 milhões no terceiro trimestre, revertendo prejuízo de R$ 22 milhões no segundo trimestre. Foi o primeiro resultado positivo em sete trimestres. As ações PNA da empresa subiram 3,27% a R$ 11,68, a maior alta do Ibovespa, enquanto os papéis ON se valorizaram 2,91% cotados a R$ 11,33, o segundo maior ganho do pregão.

Segundo Victor Penna, analista de siderurgia e mineração da BB Investimentos, o resultado da Usiminas foi 'forte e expressivo', com o segmento de siderurgia destacando-se com o aumento das vendas de aço para o mercado interno. O analista avalia também o efeito positivo de redução de custos sobre o resultado.

"Apesar do câmbio médio mais elevado no período, a companhia continuou com a estratégia de priorizar as vendas para o mercado interno (93%), cujos preços são superiores. Também houve redução das despesas com pessoal que, segundo a companhia, se deve a uma readequação no quadro de funcionários e nos serviços de terceiros", diz o analista.

Entre as blue chips do Ibovespa, Vale subiu 0,36% a R$ 32,58; Itaú Unibanco PN caiu 0,34% a R$ 34,49 e Bradesco PN teve perda de 0,40% a R$ 32,35.

As ações PN da Petrobras que caíram 1,77% pela manhã, inverteram a tendência e fecharam com alta de 1,26% a R$ 19,96, reduzindo a pressão baixista sobre o Ibovespa Em comunicado enviado à CVM, a Petrobras esclareceu a nova metodologia aprovada pela diretoria executiva. O objetivo, segundo a empresa, é reduzir a defasagem do preço dos combustíveis no mercado doméstico e internacional. A Petrobras importa combustível mais caro e o vende mais barato no mercado interno, o prejudicou seu resultado no terceiro trimestre do ano.

Segundo o comunicado, a metodologia contempla reajuste automático do preço do diesel e da gasolina em periodicidade a ser definida antes de sua implantação, baseado em variáveis como o preço de referência desses derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado. Também está previsto mecanismo que impede o repasse da volatilidade dos preços internacionais ao consumidor doméstico.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quarta-feira que a metodologia para o aumento nos preços dos combustíveis “não está definida”.

Dólar fechou em alta

O dólar comercial encerrou a sessão desta quinta-feira em alta de 0,45% negociado a R$ 2,190 na compra e R$ 2,192 na venda. Pela manhã, os investidores estavam na expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, anunciasse alguma mudança na política monetária dos EUA. Nada mudou. O Fed manteve os juros entre zero e 0,25% ao ano e anunciou que a compra de US$ 85 bilhões em ativos mensais também está mantida. Mesmo assim o dólar subiu porque o Fed continuou vendo sinais de recuperação da economia, mesmo com o impasse fiscal que paralisou parcialmente os serviços federais. Isso deixou dúvidas sobre quando os estímulos à economia deverão ser retirados. No exterior, o dólar também se valorizou frente a outras divisas.

Analistas também atribuíram a alta do dólar a remessas de recursos ao exterior por parte de empresas. Segundo dados do Banco Central, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 244 milhões na semana passada encerrada em 25 de outubro. Em outubro, o fluxo cambial está negativo em US$ 4,724 bilhões até o dia 25.

- As reuniões do Fed têm trazido tensão ao câmbio. Mas acredito que o dólar já encontrou seu patamar de equilíbrio, que fica entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Não há fundamentos para ficar abaixo desse patamar - avalia Fernando Bergallo, especialista em câmbio da corretora TOV.

O fato de o Banco Central ter rolado parcialmente os contratos de swap cambial tradicional que vencem em 1º de novembro também ajudou na valorização da divisa, segundo analistas.

Nesta terça, o Banco Central realizou mais um leilão de novos contratos de swap cambial tradicional nesta manhã. A operação equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. O BC ofertou 10 mil papéis e vendeu tudo, o equivalente a US$ 496 milhões. À tarde, foi realizado o terceiro leilão da semana de rolagem de contratos de swap cambial que vencem em 1º de novembro. O BC vendeu US$ 989,6 milhões. Na semana passada, foram realizados outros três leilões desse tipo. Os contratos que vencem em novembro somam US$ 8,8 bilhões, mas foram renovados US$ 5,9 bilhões deste total. Como não rolou a totalidade dos papéis, o BC poderá anunciar um leilão extra de rolagem nesta noite, se considerar necessário.

Taxas dos contratos de juros futuros recuam

No mercado de juros futuros, as taxas reduziarm as quedas após o Federal Reserve sinalizar que a economia segue ganhando força. Com isso, cresceu a chance de que o banco central americano possa iniciar a redução dos estímulos à economia já em dezembro e não em 2014. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2015 ficou em 10,53%, a mesma da véspera. Já o DI para janeiro de 2017 recuou para 11,30%, de 11,31% ontem. E o papel com vencimento em janeiro de 2014 ficou estável a 9,59%