Economia

Ibovespa fecha em queda de 4,24%; ações da OGX têm perda de quase 20%

Dólar subiu 0,85% e fechou cotado a R$ 2,25

SÃO PAULO - O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), teve uma terça-feira de perda expressiva, provocada pela perspectiva de crescimento menor da economia brasileira, pelo tombo das ações do Grupo EBX e por um movimento mais forte de venda de ações por investidores estrangeiros. O índice se desvalorizou 4,24% aos 45.228 pontos – o menor nível desde 22 de abril de 2009, quando chegou a 44.888 pontos –, puxado por blue chips como Vale, Petrobras e OGX. É a maior queda percentual desde 22 de setembro de 2011. O volume negociado no pregão foi de R$ 8,7 bilhões. Somente duas ações terminaram o dia em alta: os papéis ON da B2W Digital, com alta de 6,64% a R$ 6,75 e os papéis ON da Dasa, com valorização de 2,14% a R$ 11,95.

No mercado de câmbio, o dólar voltou a ganhar força frente ao real, seguindo o movimento da divisa no exterior em relação a outras moedas. A moeda americana fechou em alta de 0,85% sendo negociada a R$ 2,248 na compra e R$ 2,250 na venda. É o maior valor do dólar desde 20 de junho, quando a moeda americana fechou em R$ 2,258. Na máxima do dia, a moeda americana atingiu R$ 2,255, enquanto na mínima foi negociada a R$ 2,235. Apesar da alta, não houve intervenção do Banco Central para frear a escalada da moeda.

— O fluxo de saída dos investidores da Bovespa e a perspectiva de crescimento menor da economia brasileira também pressionaram o dólar. Com expansão menor do Produto Interno Bruto (PIB) o Brasil perde o interesse aos olhos do investidor internacional, o que reduz o fluxo de recursos externos para o país — diz o analista de um banco, em São Paulo.

Para o operador Luiz Roberto Monteiro, da corretora Renascença, um conjunto de fatores provocou o tombo do Ibovespa.

— Recuo da produção industrial e a desvalorização das empresas do Grupo EBX deixaram o mercado nervoso desde a abertura. À tarde, o que se viu foi um movimento forte de venda de ações por parte dos estrangeiros. Muitas ordens de venda são de ‘stop loss‘, ou seja, a ação é vendida quando se desvaloriza até um determinado patamar. Isso evita que o investidor tenha mais prejuízo — diz Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.

Segundo dados da Bovespa, o saldo dos investimentos de estrangeiros na Bovespa ficou negativo em junho, totalizando R$ 4,07 bilhões. É o maior saldo negativo de investidores estrangeiros desde setembro de 2012, quando saíram R$ 4,17 bilhões. No acumulado do ano, entretanto, o saldo ainda é positivo em R$ 4,23 bilhões.

No mercado doméstico, a notícia que trouxe preocupação logo pela manhã foi a queda da produção industrial em maio. O número recuou 2% em relação a abril, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao mesmo mês do ano passado, a alta foi de 1,4%. O mercado esperava uma alta anual de 7,4% e um crescimento de 1% frente a abril. Neste ano, até maio, a produção industrial subiu 1,7% mas, em 12 meses, também até maio, a retração é de 0,52%. Esses números colocam em xeque o crescimento da economia brasileira este ano.

— O dado mais fraco de produção industrial amplificou a percepção dos investidores de que a economia brasileira deverá crescer menos do que o esperado este ano — diz Luís Gustavo Pereira, estrategista da corretora Futura.

Empresas do 'grupo X' na berlinda

No pregão, as ações do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, voltaram a ser o foco das atenções, com perdas na casa de dois dígitos. Pelo segundo dia consecutivo, as ações ON da OGX tiveram a maior baixa do pregão. Os papéis da empresa perderam 19,64% e terminaram cotados a R$ 0,46, nova mínima histórica desde a abertura de capital da empresa, em junho de 2008, quando os papéis valiam R$ 11,31. De lá até agora, os papéis se desvalorizaram 95,93%. Um investidor que aplicou naquela época R$ 10 mil nos papéis da OGX teria hoje, se não tivesse vendido as ações, R$ 460,00.

Na segunda, as ações já haviam caído mais de 29%, cotadas a R$ 0,56, depois que a empresa declarou que o único campo em produção, Tubarão Azul, poderá parar em 2014. Outros três campos foram declarados inviáveis por falta de tecnologia.

A queda das ações da OGX puxou outras ações do grupo. Os papéis ON da MMX, braço de mineração do grupo, tiveram queda de 17,29% a R$ 1,10, segunda maior baixa do Ibovespa. Já as ações ON da LLX, empresa de logística, terminaram o dia com desvalorização de 11,24% a R$ 0,79, a terceira maior queda do Ibovespa.

Para piorar o clima em relação ao grupo EBX, agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou o rating da OGX de "B-" para "CCC", mantendo a perspectiva negativa. Ou seja, na prática, a nota da empresa pode ser rebaixada novamente. Em nota, a S&P afirma que o rebaixamento foi causado pela redução das perspectivas de produção da empresa após as notícias de ontem.

Segundo a S&P, a diminuição do portfólio de exploração afeta a performance operacional da OGX minimizando a capacidade da empresa em aumentar a produção de petróleo para gerar caixa e fazer frente ao endividamento alto da petrolífera.

"Esperamos que a OGX requeira financiamento externo adicional ou faltará caixa para a empresa no fim de 2013 e começo de 2014", aponta o relatório.

Em junho, a agência Fitch já tinha rebaixado o rating da OGX ao nível "CCC".

Também nesta terça, vários analistas reduziram o preço-alvo para os papéis da OGX. O Bank of America Merrill Lynch (BofA) cortou o preço-alvo de R$ 1 para R$ 0,10. A recomendação é de venda dos papéis.

Os analistas do Bank of America Merrill Lynch (BofA) destacam no relatório que a ‘posição financeira da OGX é complicada. O exercício do put de US$ 1 bilhão pelo acionista controlador é fundamental para a posição financeira neste momento’. Para eles, uma reestruturação das empresas do grupo é cada vez mais provável, com renegociação de dívida e venda de ativos. O relatório cogita até a venda total da OGX ou liquidação da empresa.

Em outubro de 2012, Eike Batista se comprometeu a comprar US$ 1 bilhão em ações da companhia quando fosse necessário, ao preço de R$ 6,30 por ação.

Para Roberto Altenhofen, analista da Empiricus Research, parceiro do Investmania, a injeção de US$ 1 bilhão prometida por Eike Batista e os US$ 850 bilhões da Petronas, que ficaram com 40% do campo de Tubarão Martelo, são as alternativas mais viáveis para que a empresa recompnha seu caixa.

— Mas como o empresário vendeu ações da OGX recentemente e se comprometeu a pagar R$ 6,30 pelos papéis que hoje valem R$ 0,46, o negócio seria muito desfavorável a Eike — diz Altenhofen.

O banco J.P. Morgan manteve a recomendação neutra para as ações da OGX, mas reduziu o preço-alvo para a faixa de R$ 0,50 e R$ 0,70. O Deutsche Bank que tinha preço-alvo de R$ 0,70 em um ano, reduziu sua projeção para R$ 0,10. No Credit Suisse, o preço-alvo caiu de R$ 1 para R$ 0,30. E o HSBC diminuiu o valor de R$ 0,60 para R$ 0,30 também. O banco UBS já havia reduzido ontem o preço-alvo de OGX de R$ 1 para R$ 0,20.

Estoque alto de minério na China prejudica Vale

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA caiu 4,32% a R$ 26,12. Pesou sobre os papéis da mineradora a informação de que os estoques de minério de ferro nos 25 maiores portos da China subiram pela terceira semana seguida, em 0,13%, para 75,28 milhões de toneladas, reforçando a perspectiva de menor demanda da indústria chinesa por commodities. Petrobras PN recuou 4,76% a R$ 15,40, contaminada pelo tombo da OGX; Itaú Unibanco perdeu 4,31% a R$ 27,27 e Bradesco PN recuou 5,03% a R$ 27,35.

Os juros futuros cederam com a perspectiva de crescimento menor da economia, após o dado de produção industrial. O DI para janeiro de 2014 teve taxa de 8,84% frente aos 8,46% de ontem e o DI de janeiro de 2015 teve taxa de 9,67% frente aos 9,90% da véspera. O DI para janeiro de 2017 ficou com taxa de 10,81% frente aos 10,99% de ontem.

Novos dados apontam recuperação dos EUA

Na Europa, as Bolsas caíram na expectativa de números de emprego nos EUA, que serão divulgados esta semana, e da reunião do Banco Central Europeu (BCE) que vai definir a nova taxa de juro da zona do euro. Também pesou o fato de a agência de estatísticas da União Europeia ter revisado para cima a taxa de desemprego referente a maio. O número ficou em 12,2% frente aos 12,1% divulgados anteriormente. O índice Dax, do pregão de Frankfurt, perdeu 0,92%; o Cac, da Bolsa de Paris, se desvalorizou 0,66% e o FTSE, da Bolsa de Londres, recuou 0,06%.

Os principais índices acionários americanos também fecharam em queda, embora tenham reduzido a desvalorização na reta final do pregão. O S&P 500 perdeu 0,05%; o Dow Jones recuou 0,28% e o Nasdaq teve baixa de 0,03%. Nesta terça, mais um dado divulgado mostrou que a economia americana está se recuperando. O Departamento do Comércio informou que as encomendas à indústria cresceram 2,1% em maio frente a abril, alta 0,1 ponto porcentual maior que a esperada pelo mercado.

Mas o presidente do Federal Reserve de Nova York (Fed Nova York), William Dudley, deu declarações em sentido inverso, dizendo que a economia dos Estados Unidos não está tão fortalecida como muitos acreditam.

Os investidores aguardam dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos. Amanhã serão divulgados os números de emprego do setor privado em junho e, na sexta-feira, a criação de novas vagas (payroll) e a taxa de desemprego de junho.