Economia

Deflação entre quatro paredes

Preços de motéis e de ingressos de jogos de futebol são os únicos serviços com queda de preços nos últimos 12 meses entre 38 itens pesquisados pelo IBGE

RIO - Na contramão da inflação que não para de subir, os motéis e os ingressos de jogos de futebol são os únicos serviços com queda de preços nos últimos 12 meses, numa lista de 38 itens de serviços pesquisados pelo IBGE dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Enquanto a taxa que representa a inflação oficial pulou para 0,57% em outubro e acumulou 5,84% no acumulado dos últimos 12 meses, e os serviços tiveram alta de 8,88%, os custos do motel baixaram 8,74% e dos jogos, 8,24%.

São casos raros de deflação, num setor onde não faltam aumentos que chegam ao segundo dígito e tiram a disposição de qualquer consumidor. O aluguel, por exemplo, ficou 11,55% mais caro, o salário da empregada 10,87%, a refeição fora de casa aumentou 10,23% e até terapia com psicólogos para tentar aliviar o stress do orçamento que não fecha também não ajuda: alta de 10,87%. O preço dos hotéis também disparou 12,50%.

- Essa redução no preços dos ingressos do jogos tem a ver com descontos. Os clubes têm dados muitos abatimentos nos ingressos para atrair a torcida. Já a queda nos preços do motéis não faço ideia do que possa ser - diz o o economista Luiz Roberto Cunha, especialista em inflação e professor da PUC-RJ.

A coordenadora de Índice de Preços de IBGE, Eulina Nunes do Santos, explica que os preços dos ingressos de jogos captados no IPCA têm pouco peso, porque a pesquisa não inclui regiões metropolitanas no Rio de Janeiro de São Paulo. No caso do motéis, ela acredita que que a queda de preços tem a ver com mudança de hábito da população, que passou a usar pouco os serviços.

- Motel está fora de moda. Foi moda há tempos atrás. Hoje as coisas estão muito diferentes, a garotada não está indo mais, fica em casa e os preços de fato devem estar caindo. O peso deste item na pesquisa também é muito pequeno - diz.

Alimentação fora sobe dois dígitos

Mas o hábito de comer fora está entre as principais altas. Em outubro, eles dobraram para 0,94%. Nos últimos 12 meses, avançam 10,23%. A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, prevê que as refeições em bares e restaurantes terminem o ano em 9,9%, com mais duas altas de 0,9%, em novembro e dezembro. Ela aponta a sazonalidade alta de festas de fim de ano.

— É uma estimativa de alta forte, superior a do ano passado e num ano que as condições são completamente diferentes — afirma, citando a desaceleração da massa de rendimentos.

Alessandra explica que o comportamento dos preços de alimentação fora do domicílio está ligada mais aos preços de serviços que aos de alimentos.

— Chama a atenção essa alta porque o mercado de trabalho está morno, o incremento da renda está desacelerando, a confiança do consumidor está menor. É um indicativo de que a demanda permanece forte.

O economista Fernando Parmagnani, da Rosenberg & Associados, lembra que, desde 2010, os preços de alimentação fora dos domicílios têm alta expressiva, fruto da melhora no mercado de trabalho.

— É mais gente que trabalha e que come fora, e que faz a demanda subir. Por outro lado, os custos de donos de bares e restaurantes ficam mais elevados com a alta dos salários de funcionários — afirma.

Procurado, o Sindicato dos Bares Hotéis e Restaurantes do Rio, que representa motéis, informou que não tinha porta-voz para comentar o assunto.