Economia

Inflação e PIB desafiam Dilma em 2014

Em ano eleitoral, governo terá de lidar com desconfianças em relação ao compromisso na área fiscal

BRASÍLIA O cenário econômico que se desenha para 2014, ano eleitoral, mostra que será muito difícil para o governo Dilma Rousseff viabilizar o crescimento de 3% prometido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Um dos maiores problemas será a inflação que, segundo o próprio Banco Central, fechará o ano em 5,7%, bem mais próxima do teto da meta fixada pela equipe econômica, de 6,5%, do que do centro (4,5%).

A autoridade monetária terá que lidar com a pressão por reajustes de tarifas públicas que ficaram represados em 2013 e com os efeitos de um câmbio volátil sobre os preços. E tudo isso num cenário de juros próximos da casa de dois dígitos. A Selic já está em 9,5% ao ano — maior taxa real do mundo — mas o mercado aposta que o ciclo de alta vai continuar.

Previsões frustradas

O crescimento robusto da economia era uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff no começo do governo, assim como a redução dos juros e o aumento dos investimentos. Os juros, de fato, chegaram a 7,25% ao ano, os mais baixos da história, mas tiveram que subir para segurar a alta da inflação. A taxa de investimentos está em torno de 18% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), longe dos 23% que o governo projetava para o final de 2013.

No início de 2011, o Ministério da Fazenda apostava que o PIB teria um crescimento de 5%, sendo que essa taxa chegaria a 6,5% em 2014. No entanto, o crescimento foi de apenas 2,7% em 2011 e deve ficar em torno de 2,5% em 2013. Considerando as estimativas da Fazenda para o comportamento do PIB em 2013 (2,5%) e 2014 (3%), a taxa de crescimento média do governo Dilma ficará em 2,3%.

Para Alexandre Schwartzman, ex-diretor do BC, é certo que 2014 será um ano de aceleração da inflação. Ele aposta que o IPCA voltará a ultrapassar a casa dos 6%, mas não chegará a estourar o teto da meta. E alerta para um novo fator de pressão sobre os preços: a mudança no indexador das dívidas dos estados e municípios. A alteração, que está prestes a ser aprovada pelo Congresso, abre espaço para que esses governos possam gastar mais e, com isso, impactar os preços.

— É basicamente uma licença para matar — afirma o ex-diretor do BC.

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzo, um dos principais conselheiros da presidente Dilma, é difícil que o BC consiga fazer a inflação voltar ao centro da meta, pois, além dos problemas conjunturais, o Brasil tem um resquício de indexação difícil de ser eliminado. Ele afirma que mesmo com o incentivo da Petrobras e das concessões, 2014 não será um ano espetacular, pois o mercado vive um momento de mau humor e pessimismo.

— O Brasil vai crescer pouco — garante Belluzzo, que aposta em uma expansão de cerca de 2,5%.

Outro desafio, segundo os analistas, está na área fiscal. Para os especialistas, a meta de superávit primário para 2014, já com os descontos, terá efeito expansionista na economia e ajudará a pressionar os preços, já que ficará menor do que a deste ano. Além disso, o mercado passou a desconfiar do compromisso da equipe econômica com o equilíbrio das contas públicas.

O economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, afirma que outro desafio de 2014 será ancorar as expectativas. E, nesse quesito, todo o governo falha, segundo ele. O economista faz coro com os colegas que destilam queixas sobre a interferência da presidente na condução da equipe econômica.

— Não temos liderança política que ancore as expectativas. A presidente Dilma não está conseguindo, o Mantega nunca consegue e o Tombini deixou de conseguir — afirma Perfeito.

Para o economista Paulo Rabello de Castro, o governo perdeu a oportunidade de melhorar as contas públicas. Ele ressalta que, ao invés de fazer uma ampla desoneração da economia, a equipe econômica fez reduções de tributos pontuais para setores, o que pouco contribuiu para a redução da carga tributária no país. Ao mesmo tempo, os gastos públicos mantiveram uma trajetória de alta, o que deve continuar ocorrendo em 2014.

— O modelo é ruim. O governo nunca contratou sua saída de uma crise de mediocridade — afirma Rabello de Castro.

Holland vê cenário otimista

Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, no entanto, o cenário de 2014 é melhor do que o de 2013. Ele destaca que a atividade econômica vem se acelerando desde o segundo trimestre de 2012, mesmo com as turbulências no mercado internacional.

— O Brasil se saiu bem diante das turbulências. O país continuou recebendo recursos externos e as taxas (cobradas pelos investidores) caíram. Se isso aconteceu num cenário de extrema incerteza em 2013, podemos dizer que 2014 será melhor — disse.

Holland destaca que a alta de preços de 2013 teve como principal causador os alimentos, que sofreram um choque de oferta que não deve se repetir no próximo ano. Ele não acredita que o represamento das tarifas públicas este ano possa ter um impacto mais forte sobre os índices:

— Vamos ter um processo inflacionário bem mais acomodado.