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Quase um terço de usuários de planos recorre ao SUS ou paga consulta

Pesquisa do Datafolha para a Associação Paulista de Medicina mostra que procura pela rede pública e não credenciada cresceu 50% em SP
Super lotação e demora no atendimento incomodam consumidores Foto: FOTO: SXU
Super lotação e demora no atendimento incomodam consumidores Foto: FOTO: SXU

RIO - Pesquisa encomendada pela Associação Paulista de Medicina (APM) ao Instituto Datafolha indica que 79% dos beneficiários de planos de saúde no estado de São Paulo tiveram algum tipo de problema nos últimos 24 meses. Com isso, 30% dos clientes acabaram recorrendo ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou a serviços particulares no mesmo período, uma alta de 50% frente ao registrado na sondagem anterior, realizada no ano passado.

De acordo com o levantamento, 41% da população de São Paulo — 13,2 milhões de pessoas — têm planos de saúde e 32% desse total (10,4 milhões) utilizaram algum serviço credenciado nos últimos dois anos. Com base nesse público-alvo, a sondagem identificou que 80% tiveram problemas em pronto atendimento; 66%, na marcação de consultas; 61%, na liberação de exames; 47%, na marcação de exames; 41%, em internação; e 24%, para a realização de cirurgias.

Para o presidente da APM e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Florisval Meinão, a pesquisa confirma a percepção de que o problema não está na qualidade da rede privada, mas na dificuldade em acessá-la.

— Parte dos beneficiários é formada por pessoas que saíram do SUS por causa da dificuldade de acessar os serviços. Agora, se encontram na mesma situação. As operadoras têm que ampliar a rede. Mas optam por uma rede enxuta porque é mais barato.

Meinão considera inaceitável que um beneficiário de plano de saúde leve quatro meses para conseguir uma consulta com um cardiologista por exemplo. E afirma que a falta de disponibilidade na agenda de médicos especialistas acaba contribuindo para o inchaço nos prontos-socorros.

— As empresas dizem que não conseguem ampliar a rede porque não encontram profissionais, mas elas têm que remunerar adequadamente e garantir também contratos mais equilibrados, claros.

‘fator econômico prevalece’

Os usuários dos planos de saúde em São Paulo têm opiniões críticas quanto às operadoras. Para 67%, os planos dificultam a realização de exames mais caros, outros 60% acham que as empresas não cumprem todas as regras do contrato, enquanto 54% consideram que as operadoras demoram para autorizar exames e procedimentos.

A pesquisa indica que apenas 15% dos beneficiários apresentaram algum tipo de queixa contra as operadoras. Desses, 11% reclamaram diretamente nas empresas, 2% no Procon e apenas 1% na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Já o índice de judicialização chega a 2% dos beneficiários (200 mil pessoas).

— É muita coisa. A ANS está mais atuante nos últimos anos, mas ainda não age de forma suficiente. É preciso disponibilizar outros canais de atendimento, agir de maneira mais eficaz. Não é possível haver tantos casos no Judiciário.

Meinão considera que a pesquisa feita em São Paulo mostra um cenário parecido com o de outros grandes centros urbanos do país. Por isso, o levantamento será encaminhado à ANS e ao Ministério da Saúde:

— As dificuldades são as mesmas. A sugestão é que a rede seja ampliada. Infelizmente, o fator econômico é o que prevalece.

A pesquisa foi feita com 861 pessoas das quais 422 residentes na região metropolitana de São Paulo e 439, no interior. Na amostragem projetada, estimou-se que 79% de um universo de 10,4 milhões de usuários ou 8,2 milhões tiveram algum tipo de problema relacionado ao plano de saúde. Cada uma relatou, em média, 4,3 questões de conflito.