Economia

Dólar fecha em queda de 1% cotado a R$ 2,26 de olho no Fed; Bolsa subiu seguindo pregões americanos

Investidores estão na expectativa se banco central americano começará redução dos estímulos à economia

SÃO PAULO - À espera da reunião do Federal Reserve, o banco central americano, que pode iniciar a redução do programa de estímulo à economia americana, o dólar comercial encerrou em queda frente ao real. A moeda americana se desvalorizou 1% e encerrou cotada a R$ 2,258 na compra e R$ 2,260 na venda, a menor cotação desde o dia 26 de julho, quando a divisa fechou a R$ 2,256. Na máxima do dia, o dólar subiu a R$ 2,286 e, na mínima, bateu em R$ 2,254.

Uma parte dos analistas acredita que o Fed vai reduzir as compras mensais de títulos de US$ 85 bilhões para US$ 75 ou US$ 70 bilhões. Outros especialistas avaliam, entretanto, que embora a economia americana esteja em crescimento, os números mais recentes não indicam um ritmo forte e consistente, o que justificaria a manutenção dos estímulos no atual patamar, com a redução começando em dezembro. Além disso, o desemprego ainda permanece num patamar elevado - de 7,3%.

Analistas avaliaram que o real passou hoje por uma correção técnica. Na segunda, o dólar se desvalorizou em todo o mundo frente a outras divisas, depois da desistência de Lawrence Summers em concorrer à presidência do Federal Reserve. Mas, no Brasil, encerrou com leve alta em relação ao real.

- As intervenções do Banco Central no câmbio hoje também potencializaram a queda da moeda americana frente ao real - diz um operador de câmbio.

O BC deu sequência ao seu plano de ação para fortalecer o real frente ao dólar e fez mais um leilão programado de contratos de swap cambial tradicional, uma operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Foram vendidos dez mil contratos totalizando US$ 496,9 milhões. O BC também rolou 40 mil contratos que estavam vencendo, totalizando US$ 1,965 bilhão. O Banco Central já havia anunciado a rolagem desses contratos exatamente na semana em que o Fed se reúne, prevendo algum nervosismo do mercado. Amanhã serão rolados mais 55.300 contratos no valor de US$ 2,7 bilhões, além do leilão diário dos 10 mil contratos novos, no valor de até US$ 500 milhões.

Para o sócio da corretora NGO, Sidnei Nehme, a taxa de câmbio que reflete os atuais fundamentos da economia fica entre R$ 2,25 a R$ 2,30. Ele acredita que as atuações diárias do BC poderão fazer a moeda americana ficar nestes níveis até o final do ano.

Mas, se o banco central americano decidir reduzir agora seu programa de estímulo à economia, o dólar poderá atingir R$ 2,35.

- Nesse caso, o programa de atuação do BC brasileiro poderá ser ampliado em volume financeiro, o que faria o dólar retroceder a R$ 2,30 - diz.

Ontem, o mercado ficou entusiasmado com a desistência de Lawrence Summers, ex-secretário de Tesouro dos EUA, da corrida para presidência do Federal Reserve (Fed). Para o estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, Summers tinha uma postura contrária ao dinheiro barato injetado na economia todos os meses, o que o levaria a retirar os estímulos de forma mais rápida. Isso desagradava o mercado.

- O mercado ficou animado com a desistência de Summers, que tinha uma postura contrária ao dinheiro barato injetado na economia todos os meses. Mas a cautela voltou à pauta - diz Pedro Galdi, estrategista da corretora SLW.

Bolsa sobe à espera do Fed

Na Bolsa de Valores de São Paulo, o principal índice, o Ibovespa, apresentou volatilidade, com os investidores cautelosos com a reunião do Fed. Mesmo assim, o índice subiu 0,84% aos 54.271 pontos e volume negociado de R$ 6,3 bilhões, bem abaixo da média diária de mais de R$ 8 bilhões registrada em agosto, mostrando pouco interesse do mercado em tomar posições.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA caiu 0,66% a R$ 32,98; Petrobras PN ganhou 0,43% a R$ 18,53; OGX Petróleo ON teve alta de 5,26% a R$ 0,40; Itaú Unibanco PN subiu 1,60% a R$ 31,59 e Bradesco PN teve alta de 1,03% a R$ 30,24.

- O baixo volume mostrou que os investidores estão à espera da decisão do Fed. Além disso, a sucessão de Ben Bernanke, presidente do Fed, ganha destaque, depois da desistência de Summers. Acredito que nesta quarta, o Fed deverá começar a reduzir os estímulos entre US$ 10 e US$ 15 bilhões, o que pode causar algum stress no mercado, já que a Bolsa acumula ganhos de mais de 7% no mês - avalia Luis Gustavo Pereira, estrategista da corretora Futura.

Os papéis da OGX tiveram a maior alta do pregão após a divulgação de que a empresa negocia com a Exxon Mobil 50% do bloco POT-M-475, na Bacia Potiguar, arrematado na 11ª Rodada de Licitações, segundo noticiou o jornal Valor Econômico. Já as ações da MMX apresentaram desvalorização de 3,40% a R$ 1,71, a terceira maior do pregão, após a notícia, também divulgada pelo Valor, de que a empresa pode ter que pagar multa de até R$ 1 bilhão por não cumprir um contrato de transporte de minério de ferro firmado com a MRS Logística.

A maior queda do Ibovespa foi apresentada pelos papéis ON da Kroton, com baixa de 3,79% a R$ 30,98, seguida pelos papéis ON da Anhanguera, com baixa de 3,65% a R$ 13,20.

Os papéis da Kroton foram a leilão nesta terça e tiveram o maior giro financeiro do pregão, com volume de R$ 484,5 milhões. Foram vendidas 10 milhões de ações, equivalentes a 3,72% do capital total da empresa, ao preço de R$ 31,00 por ação. A operação movimentou R$ 331,4 milhões. As ações da Kroton e da Anhanguera passam a andar juntas, já que as duas universidades se fundiram. Os papéis de ambas também deverão ser unificados.

Nos Estados Unidos, os principais índices acionários fecharam em alta. O S&P500 subiu 0,42%; o Dow Jones se valorizou 0,23% e o Nasdaq teve alta de 0,75%. O índice de preços ao consumidor subiu 0,1% em agosto frente a julho, enquanto o mercado esperava uma alta de 0,2%.

Na Alemanha, o índice de expectativas econômicas pesquisado pelo instituto ZEW, que sinaliza o sentimento do investidor para os próximos seis meses, subiu de 42 em agosto para 49,6 em setembro, acima da expectativa dos analistas. Mesmo assim, as principais Bolsas fecharam em queda na expectativa da reunião do Fed. O índice Dax, do pregão de Frankfurt, caiu 0,19%; o Cac, da Bolsa de Paris, perdeu 0,16% e o FTSE, da Bolsa de Londres, recuou 0,80%. As Bolsas europeias também refletiram uma desaceleração maior que o previsto do crescimento do investimento direto na China.

Juros futuros recuam com queda do dólar

As taxas do mercado futuro de juros fecharam em queda, acompanhando o dólar e o recuo das taxas dos títulos do Tesouro americano. A expectativa pela decisão do Fed também trouxe cautela aos investidores. Na BM&F, o DI para janeiro de 2017 teve taxa de 11,65%, frente aos 11,76% de ontem. O DI para janeiro de 2015 encerrou com taxa de 10,36% frente aos 10,44% de ontem. E o DI para janeiro 2014 apresentou taxa de 9,27% ante 9,28% de ontem.