Economia

Dólar sobe 4,5% na semana, mesmo com ação de BC e Tesouro

Moeda americana atingiu máxima de R$ 2,27 e Banco Central voltou a intervir no câmbio

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO – Após uma sequência de cinco altas, o dólar comercial fechou nesta sexta-feira em queda de 0,62%, negociado a R$ 2,244. Mesmo assim, a moeda americana acumula valorização de 4,5% na semana, apesar da ação conjunta do Banco Central e do Tesouro Nacional para frear a escalada da divisa. No ano, a moeda americana sobe 9,59%.

Na sessão de nesta sexta-feira, o dólar alcançou a máxima de R$ 2,276 durante a manhã, o que levou o Banco Central a intervir com um leilão de swap cambial tradicional, operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro, por volta do meio-dia.

A autoridade monetária vendeu 37.300 contratos dos 40 mil ofertados, o equivalente a US$ 1,828 bilhão. Esta foi a décima primeira intervenção desde 31 de maio. No total, o BC já injetou US$ 20 bilhões no mercado futuro. Ainda assim, a moeda retomou a tendência de alta e somente depois das 15h passou a cair.

Analistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que o recuo do dólar acompanhou um movimento verificado no exterior. Divisas de países exportadores de commodities se recuperaram em relação ao dólar à tarde, após declaração do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de St. Louis, James Bullard, de que a autoridade monetária deveria intensificar o programa de estímulo à economia americana, que despeja US$ 85 bilhões no mercado a cada mês.

Os comentários contrastam com as declarações feitas pelo presidente da instituição, Ben Bernanke, na última quarta-feira, que sinalizou o fim do programa de recompra de títulos até meados do próximo ano. Bullard foi um dos dois integrantes do Fed que votaram contra o comunicado aprovado nesta semana.

O real acabou sendo uma das moedas que mais subiram frente ao dólar. A maior valorização foi do rand sul africano (0,79%). Em seguida ficou o real e, depois, o peso mexicano (0,46%).

— A declaração de Bullard freou a alta do dólar. Ele foi um dos dois diretores que votaram contra a redução do programa — disse o operador de uma corretora de câmbio de São Paulo.

Bullard disse que a sinalização de redução no programa foi feita em momento inapropriado e que, se os preços caírem nos EUA, o Fed pode continuar com a compra de ativos, mantendo a meta de 2% para a inflação.

— Mesmo assim, a tendência do dólar é de valorização. A sinalização do Fed frustrou a expectativa do Brasil de atrair investimentos estrangeiros para melhorar o fluxo cambial para o país — diz Sidnei Nehme, sócio da corretora de câmbio NGO.

Recompra de dívida

Com a perspectiva de melhora nos EUA, investidores estão retirando recursos de países emergentes para investir em títulos americanos quando os juros subirem lá. O movimento afeta as taxas dos papéis da dívida pública brasileira e, por isso, o Tesouro voltou nesta sexta-feira a fazer leilões extraordinários de compra e venda. Foi a terceira atuação, nesta semana, para reduzir a turbulência.

Foram realizados seis leilões — três de venda e três de compra — com títulos prefixados (LTN e NTN-F) e corrigidos pelo IPCA (NTN-B), com vencimentos entre 2013 e 2050. O Tesouro se dispôs a recomprar seis milhões de papéis, mas só levou 10,5 mil de NTN-B.

Não houve interesse do mercado em vender prefixados. Para técnicos do governo, isto mostra melhora no humor do mercado. Quando há volatilidade, os investidores tentam se desfazer de títulos, o que os desvaloriza. É quando o governo atua. Por isso, o Tesouro anunciou que volta a atuar na segunda-feira.

— Sem notícias negativas, as taxas recuam, e a intenção de recompra do Tesouro também contribui para acalmar o mercado — disse Rogério Braga, gestor de renda fixa da Quantitas.

Ao mesmo tempo em que faz leilões de recompra, o Tesouro vende papéis para mostrar que há demanda. Foi feita uma oferta de 2,05 milhões de títulos, com demanda por 1,475 milhão. Assim, houve emissão de R$ 1,860 bilhão com as operações. Como o Tesouro pagou R$ 25,04 milhões na recompra, a emissão líquida foi de R$ 1,834 bilhão.