Economia

BC americano surpreende e anuncia manutenção dos estímulos à economia

Federal Reserve diz que prefere ter mais evidências de recuperação antes de começar a reduzir compra mensal de títulos de US$ 85 bi

Washington - O Federal Reserve, o banco central americano, surpreendeu o mercado internacional e anunciou agora há pouco que vai manter os estímulos monetários à economia dos Estados Unidos. O anúncio da medida fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) disparar e acentuou a queda do dólar para quase 2%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones e o S&P 500, da Bolsa de Nova York, também atingiram patamares recordes.

"O comitê decidiu esperar mais evidências de que o progresso será sustentado antes de ajustar o ritmo de suas compras", afirmou o órgão, em comunicado.

A política do BC continuará a mesma que vem sendo adotada nos últimos meses. O Federal Reserve manterá a compra mensal de US$ 85 bilhões em títulos, explicou a entidade no comunicado.

"O Comitê decidiu continuar comprando US$ 40 bilhões por mês em papéis lastreados em hipotecas e US$ 45 bilhões por mês em títulos do Tesouro. Juntas, essas ações devem manter baixa a pressão nas taxas de juros de longo prazo, sustentando os mercados de hipoteca e ajudando a melhorar as condições financeiras, que, ao seu tempo, devem promover uma recuperação mais forte e ajudar a garantir que a inflação, ao longo do tempo, esteja a uma taxa mais consistente", afirmou o banco na nota divulgada.

Em entrevista coletiva, o presidente do Fed, Ben Bernanke, lembrou que o programa de compra de títulos foi iniciado em setembro de 2012, já prevendo que seria abandonado quando a taxa de desemprego alcançasse 6,5%, e a inflação se aproximasse da meta de 2% ao ano do Fed.

- O comitê concordou hoje em manter esse programa, nas mesmas condições do ano passado. Ainda que progressos significativos tenham sido feitos, as condições do mercado de trabalho ainda estão longe do ideal - disse Bernanke.

Ele destacou que a taxa de desemprego caiu de 8,1% em setembro de 2012 para 7,3% no mês passado, com a criação de 1,3 milhão de vagas em um ano.

- Estes ganhos foram obtidos mesmo com uma política fiscal restritiva.

Segundo Bernanke, os dirigentes do Fed não têm "comprovação suficiente" de que suas perspectivas sobre as tendências dos indicadores econômicos estão corretas, e, portanto, optaram por manter as medidas de estímulo, que serão reavaliadas em dezembro.

Bernanke reiterou que apesar de a retirada dos estímulos poder ter início ainda este ano, o ritmo será indicado pelas condições econômicas:

- Mesmo que comece a acontecer este ano, estamos amarrados aos dados (de emprego e inflação). Não temos um calendário fixo.

O presidente do Fed não quis comentar a possibilidade de cumprir um terceiro mandato.

- Se me permite, quero focar nos dados de hoje - disse ele, respondendo a um jornalista da NBC.

Perguntado sobre a possibilidade de um "colapso" no governo, o presidente do Fed disse que as discussões sobre a elevação do teto da dívida (que é de US$ 16 trilhões) no Congresso americano preocupam o comitê de política monetária. Se não for alcançado um acordo entre democratas e republicanos, ele admite, haverá impactos no mercado e na economia.

- E, claro, se isso acontecer, terá que ser levado em consideração pelo comitê. Nossa capacidade de absorver estes choques é bastante limitada, portanto é importante que os políticos discutam e cheguem a um acordo que permita aos EUA pagar suas dívidas. É preciso evitar qualquer evento como o de 2011 (quando a indefinição política provocou insegurança no mercado).

Previsão  do PIB revisada para baixo

O Fed rebaixou sua previsão de crescimento do PIB em 2013 para entre 2% e 2,3%, contra 2,3% a 2,6% estimados em junho. Para o próximo ano, o corte nas expectativas foi ainda maior: de 3% a 3,5% para 2,9% a 3,1%.

Esther George, do Fed de Kansas, novamente divergiu, dizendo-se preocupada com bolhas financeiras provocadas pela política de taxas baixas de juros do banco central.

A maioria dos formuladores de política do banco central dos EUA - 12 de 17 - também projetaram que o primeiro repique da taxa de juros deverá vir em 2015. Isso apesar de o desemprego ter potencial para alcançar no próximo ano o patamar de 6,5%, a partir do qual a alta da taxa será considerada.