Economia

Dólar acumula queda de 5% no mês e cria oportunidade para quem vai viajar

Moeda caiu após decisão do Fed e leilões diários do BC

SÃO PAULO - A expectativa do mercado era grande e a surpresa foi ainda maior. O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira que vai manter os estímulos à economia americana, à espera de dados mais consistentes de recuperação econômica. Com isso, continuará comprando US$ 85 bilhões em títulos do mercado mensalmente. A reação do mercado foi imediata: o dólar despencou e a Bolsa disparou. A moeda no câmbio comercial caiu 2,92%, a R$ 2,194, menor cotação desde 26 de junho. O câmbio turismo teve quase o mesmo desempenho: recuo de 2,52%, a R$ 2,32 para venda. No mês, o dólar turismo já acumula desvalorização de 5,18%, segundo dados da CMA.

Em valores absolutos, a diferença é significativa: R$ 0,19. A moeda encerrou agosto vendida a R$ 2,51 no câmbio turismo. A cada US$ 1 mil comprados para gastar na viagem ou usados para comprar um pacote, são R$ 190 a menos — quase mil reais em um total de US$ 5 mil, por exemplo. É, portanto, o que os especialistas chamam de uma nova “janela de oportunidade” para fechar a viagem em moeda americana ou comprar dólares para levar ao exterior.

No mercado, já começam a surgir apostas de que o dólar pode terminar o ano em R$ 2,10. Esta é a previsão do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Antes da decisão do Fed, a estimativa era de que o câmbio encerrasse o ano em R$ 2,20.

- O dólar tende a se depreciar frente ao real, a não ser que o governo, mais uma vez, reverta sua política com o câmbio - diz Perfeito, em relatório.

Para alguns operadores, o recuo do dólar após a decisão do Fed é apenas uma correção dos excessos do mercado, com as apostas de que o Fed começaria a retirar os estímulos este mês.

- O mercado havia se antecipado para o pior cenário, que era a retirada dos estímulos já na reunião de setembro. Por isso, o dólar subiu muito e chegou até R$ 2,40, em agosto. Essa queda acentuada da moeda americana que vemos agora, na verdade, é um movimento de volta ao patamar de equilíbrio - algo entre R$ 2,20 e R$ 2,30. A sinalização do Fed é que a retirada dos estímulos será mais gradual do que se esperava - analisa Fernando Bergallo, diretor de câmbio da corretora TOV.

Para Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, porém, o dólar deve se acomodar nos próximos dois a três dias e passar a flutuar entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Mesmo assim, diz ele, a tendência de desvalorização do real frente à moeda americana se mantém, já que a percepção de risco Brasil piorou, com as contas públicas do país em situação ruim e o baixo crescimento da economia.

Muitos brasileiros que estavam se preparando para as férias desistiram ou modificaram os planos. As agências de viagens registraram uma queda de 10% nos últimos meses na procura por pacotes para o exterior.

O dólar engatou uma escalada frente ao real desde maio, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que os estímulos à economia americana poderiam ser reduzidos. Todo mês, o Fed compra US$ 85 bilhões em títulos nos EUA, colocando mais dólares em circulação. Como por lá os juros estão muitos baixos, esses dólares voaram para países emergentes em busca de melhor oportunidades de ganhos. Um dos destinos foi o Brasil. Por isso, com muitos dólares chegando, a cotação vinha se mantendo em torno de R$ 2.

Com a sinalização de que esse volume de dólares injetado na economia americana iria diminuir, os recursos que vieram para cá estavam migrando de volta para os EUA. Os juros dos títulos americanos ficaram mais atraentes e esses papéis são considerados os mais seguros do planeta, já que o risco de calote do governo americano é muito baixo. E a cotação da divisa americana passou a subir frente ao real e a um grupo de moeda de países emergentes, como a Índia e a Indonésia. Também ajudou na queda da cotação os leilões diários da moeda americana que vêm sendo feitos pelo BC brasileiro.

Vale lembrar que o Banco Central lançou recentemente uma ferramenta que ajuda o viajante a pesquisar. Trata-se do “câmbio legal”, aplicativo para celulares em que se pode pesquisar a cotação do dólar. Por meio da ferramenta é possível localizar os pontos de câmbio em todo o país e assim encontrar o local mais próximo para comprar e vender moeda estrangeira, além de sacar ou trocar moedas por reais. O sistema informa o endereço, telefones, horário de funcionamento, serviços e tipos de atendimento da instituição selecionada. O aplicativo Câmbio Legal está disponível para download gratuito na App Store e no Google Play para os aparelhos que utilizam os sistemas IOS e Android.