Economia

Com deságio de 42%, ‘azarão’ leva a BR-050

Consórcio Planalto terá de investir R$ 3 bilhões em 30 anos. Cobrança de pedágio deve começar já em 2014
O ministro dos Transportes César Filho (ao centro), os representantes do consórcio vencedor, Carlos Eduardo Prado (à esqueda) e Letícia Queiroz de Andrade (ao fundo), e o diretor-geral da ANTT, Jorge Bastos (à direita) Foto: MichelFilho / Agência O Globo
O ministro dos Transportes César Filho (ao centro), os representantes do consórcio vencedor, Carlos Eduardo Prado (à esqueda) e Letícia Queiroz de Andrade (ao fundo), e o diretor-geral da ANTT, Jorge Bastos (à direita) Foto: MichelFilho / Agência O Globo

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO - Com um lance que surpreendeu os concorrentes, o consórcio Planalto, “azarão” formado por nove empresas nacionais de médio e pequeno porte, venceu nesta quarta-feira o leilão de concessão da rodovia BR-050 (Minas-Goiás), o primeiro do governo Dilma. O lance foi de R$ 0,04534 de tarifa por quilômetro (R$ 4,534 a cada cem quilômetros), cifra com um deságio de 42,38% em relação ao teto fixado pelo governo, de R$ 0,07870 por quilômetro (R$ 7,87 a cada cem quilômetros). Com extensão de 436 quilômetros — entre Cristalina (GO) e Delta, na divisa de Minas com São Paulo —, o trecho foi concedido por 30 anos, ao longo dos quais o consórcio terá de investir R$ 3,03 bilhões.

Embora seus integrantes tenham experiência na prestação de serviços a concessionárias de rodovias, esta será a primeira concessão que o grupo vai operar. Letícia Queiroz de Andrade, sócia do Siqueira Castro Advogados, que assessorou o consórcio, reconheceu que o prazo para execução das obras é curto, mas assegurou que o Planalto está preparado e trabalha para executar 10% dos investimentos em menos de um ano, o que lhe permitirá iniciar a cobrança de pedágio já em 2014:

— Dá para fazer, e o grupo se preparou para isso. Mas é preciso começar já.

O maior temor, segundo fontes, é a capacidade de gestão e financiamento do vencedor. Mas as próprias concorrentes dizem que as empresas não são “aventureiras” em suas áreas, como fornecimento de pavimento e terraplenagem. O risco se refere à falta de experiência na operação. Segundo o representante do Planalto, Carlos Eduardo Prado, o consórcio pode buscar financiamento do BNDES. Também é estudada a participação de uma empresa voltada para a gestão:

— Não estamos fechados a nada.

O deságio de 42,38% permitiu ao consórcio Planalto vencer com folga os sete concorrentes. A Triunfo Participações, que deu o segundo lance, propôs R$ 0,04959 (deságio de 36,98%). No páreo, estavam Verdemar, Rodovia do Sertão, Queiroz Galvão, Invepar/Odebrecht, CPC e Arteris.

Um empresário que analisou a fundo o edital da BR-050 observou que os estudos de viabilidade econômica indicavam para um ágio de no máximo 35%. Considerou ousado o lance de 42,38% do Planalto.

Paulo Resende, especialista em logística da Fundação Dom Cabral, vê com apreensão o resultado, pois serão necessários grandes investimentos e uma boa gestão.

— O governo será testado mais uma vez, isso é algo preocupante.

Ele diz que é cedo para dizer se as empresas são “aventureiras”, mas ressalta que o BNDES deverá ser muito demandado pelo grupo. E que o preço do pedágio, de R$ 5 a cada cem quilômetros, será um desafio para os investimentos esperados.

O ministro dos Transportes, César Borges, classificou o evento como uma “etapa vitoriosa” do processo de concessões. A BR-262, que deveria também ter ido a leilão ontem, não teve interessados. Borges confirmou que o governo passará a usar o critério da atratividade para definir os próximos trechos que serão concedidos no Programa de Investimentos em Logística (PIL). Sobre o fato de o vencedor ser composto por empresas sem expertise em operar concessões, afirmou:

— Não se trata de tamanho, mas de compromisso no cumprimento do contrato. Acho uma surpresa boa, não podemos sair discriminando médios, pequenos. Ninguém nasce grande. Quem nasce grande é elefante. (Colaboraram Danilo Fariello e Henrique Gomes Batista)