Economia

Chineses serão fiel da balança em consórcio vencedor do leilão

Empresas não terão poder de decisão. Mercado previa apetite maior

SÃO PAULO E RIO - As estatais chinesas China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e China National Petroleum Corp (CNPC) serão uma espécie de fiel da balança no consórcio vencedor de Libra. Com 10% cada, elas não terão, sozinhas, poder de decisão nos rumos da exploração da área, mas poderão balançar entre um extremo e outro do consórcio: as petrolíferas privadas Total e Shell (com 20% cada) e a estatal Petrobras (com 40%).

Era amplamente esperado pelo mercado que as chinesas viessem com mais força. Segundo uma fonte que participou da formação do consócio, o menor apetite asiático deve-se a um misto de cautela do modelo de negócios das estatais asiáticas e à baixa disposição para investir em um ativo cuja produção só se vislumbra a longo prazo. Os mais otimistas dizem que Libra só começará a produzir na virada da década.

— O modelo de negócios da CNPC é entrar em campos já em produção, visando ao consumo imediato (do petróleo). Libra está competindo com outros ativos no mundo de grande valor. Os chineses não estavam dispostos a financiar um programa de investimento bilionário e esperar tanto para ter acesso ao óleo. A posição de minoritário preenche esses objetivos — disse uma fonte.

Primeiro passo no Brasil

As duas empresas foram fundadas nos anos 80, quando o governo de Pequim reestruturou o setor de petróleo no país. Elas tiveram seu capital aberto ao mercado e reduziu-se o controle direto que era exercido pelo Ministério do Petróleo. A CNOOC é especializada na exploração de óleo no mar (offshore). Suas ações são negociadas na Bolsa de Hong Kong, mas 70% do seu capital pertence ao governo da China. No ano passado, registrou lucro líquido de US$ 11,14 bilhões.

Já a CNPC especializou-se na exploração de petróleo em terra (onshore). Está presente em 27 países, inclusive os sul-americanos Venezuela, Peru e Equador. Na África, tem operações na Argélia, Chade, Líbia, Nigéria, Sudão. Seu lucro líquido em 2012 foi de U$$ 10,2 bilhões.

No ranking “Energy Intelligence Top 100: Global NOC & IOC Rankings”, baseado em seis indicadores da indústria do petróleo, entre eles capacidade de produção, a CNPC aparece em quarto lugar e a CNOOC, em 33º. Em ambos os casos, será o primeiro negócio no Brasil, completando o avanço das estatais chinesas do setor de petróleo no país. Sinopec e Sinochem já atuam no Brasil. A Shell ocupa 7º lugar no ranking, seguido da Total, em 8º. Petrobras está em 15º.

Alexandre Chequer, sócio daTauil & Chequer Advogados associado a Mayer Brown, que assessorou a CNOOC no pré-sal, afirma que a participação não foi pequena:

— Dez por cento de Libra não é pouca coisa. E temos que lembrar que foi a entrada destas duas empresas no Brasil, que juntas ficaram com 20%. Os chineses tem um estilo mais cauteloso mesmo — afirmou o advogado.

Chequer diz que, no começo das negociações, a maior preocupação dos chineses era sobre como funcionavam os negócios no Brasil. Segundo ele, a exigência de elevado percentual de equipamentos com conteúdo nacional não preocupa os chineses:

— Certamente esse foi apenas o primeiro passo, eles vão ampliar os investimentos no Brasil. E eles, junto com as outras três chinesas que agora atuam aqui, podem facilitar a chegada de outras asiáticas para a cadeia produtora do petróleo — disse o advogado.

Shell diz não temer chineses

O presidente da Shell no Brasil, André Araújo, disse não temer uma eventual pressão chinesa nas decisões estratégicas no consórcio

— Já somos parceiros dessas empresas dentro e fora da China. Não existe esse negócio de troca (de dinheiro) por petróleo — disse ele. — Vamos agregar nossa experiência

Araújo disse que serão perfurados dois poços e mais um poço de teste, além de ser feita uma análise sísmica detalhada. Esta será a primeira fase da exploração de Libra. Ele não deu prazo para iniciar a exploração.

A Shell é uma das empresas pioneiras em exploração de óleo e gás em águas profundas, com 330 mil barris de óleo equivalente por dia de produção mundial nessa condição em 2012. A Total tem participação de 13 blocos no Brasil, nenhum deles ainda em produção. A empresa tem experiência em águas profundas em blocos no Oeste da África, cuja geologia é semelhante ao pré-sal brasileiro.

Colaborou Clarice Spitz