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Crítica: Com muitas músicas e algumas labaredas, Metallica esquenta multidão

Num show que teve 18 canções, público cantou desde as mais pesadas até as mais comerciais

Show do Metallica no Rock in Rio
Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo
Show do Metallica no Rock in Rio Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo

RIO - A multidão já estava impaciente quando os telões começaram a exibir, à meia-noite e trinta e cinco, o preâmbulo do show do Metallica, um clipe do filme "Três homens em conflito" com a música orquestral "The ecstasy of gold", de Ennio Morricone. Imediatamente, a massa começou a solfejar a melodia. Lembrava um canto orfeônico, daqueles que Villa-Lobos usava para educar a juventude, só que dos infernos, já que logo foi emendado com as músicas "Hit the lights" e "Master of puppets", do começo da carreira da banda, quando seu estilo era thrash metal. Quem viu a apresentação pela TV pode não ter percebido, mas era impressionante a quantidade de gente que cantava as letras dessas canções, de 1983 e 1986. Vale lembrar que elas nunca ganharam videoclipes ou tocaram em grandes rádios.

Antes da terceira música, o cantor e guitarrista James Hetfield se dirigiu ao público dizendo que era ótimo ir trabalhar e dar de cara com uma multidão como aquela, acrescentando que não poderia chamar o que faz de trabalho. Bem-humorado, ele soube se comunicar com os fãs, mesmo só falando inglês. No fim do show, por exemplo, fingia entregar a guitarra a um assistente, arrancando vaias, para logo em seguida empunhá-la de novo sob aplausos, repetindo o ritual mais algumas vezes. Em determinado momento, perguntou: "estão prontos?", ao que a multidão berrou um "sim". Então, ele retrucou: "eu estava falando com meus colegas de banda".

O guitarrista solo, Kirk Hammett, também fez sua graça, tocando so temas de "Super-homem" e "Star Wars" (ambos do compositor John Williams) num intervalo entre as faixas "Harvester of sorrow" e "The day that never comes". Quando ia começar o solo desta última, houve um descompasso entre ele e Hetfield, um dos poucos erros da noite. Esta balada, aliás, foi a única coisa tirada do último disco do Metallica, "Death magnetic", de 2008. As outras 17 músicas foram bem mais antigas, indo só até o famoso disco de capa preta de 1991, com exceção da cover "The memory remais", gravada posteriormente. Muitas vezes, quando conversava com a plateia, Hetfield usava o termo "família Metallica" para se referir a todos que estavam ali. Os fãs apadrinhados retribuíram com coros tanto para as músicas mais rápidas e pesadas, como "Seek and destroy", quanto para as mais comerciais, como "Nothing else matters". O baterista, Lars Ulrich, como de costume, terminou algumas músicas tocando de pé, acertando os pratos com as baquetas, e o baixista, Robert Trujillo, perambulou bastante pelo palco e rodopiou com seu instrumento.

Sem passinhos coreografados ou sucessos da moda, a banda fez um show empolgante apenas com sua música e seu carisma. Bem, houve algumas presepadas como labaredas e fogos de artifício em "One", que recria um ambiente de guerra com explosões no palco, "Blackened" e "Enter sandman". Mas labaredas, fogos e explosões são presepadas dignas do heavy metal e não foram empregadas como distração para encobrir deficiências musicais. Playback foi usado. Mas foi apenas em curtíssimas introduções como a de "Wherever I may roam" ou a de "...And justice for all".

Uma crítica que os moderninhos radicais gostam de fazer ao Rock in Rio é a presença avassaladora, sobretudo no palco Mundo, de artistas com décadas de estrada e que são figurinhas fáceis no festival. Nessa quinta-feira, a banda que abriu e a que fechou aquele palco se enquadravam nesse perfil. Tanto o Sepultura (acompanhado do Tambours du Bronx) quanto o Metallica são veteranos e haviam tocado na edição de 2011. Mas a segunda banda a figurar ali, o Ghost, era uma grande novidade, que vem sendo badalada e tem propostas visual e sonora originais. Pois depois de tocar oito músicas, o cantor do Metallica declarou que vira o show do Ghost (de quem é fã assumido) e pediu a opinião do público. A reação foi negativa. Hetfield brincou: "pobre Ghost! Vocês ficaram assustados, eu entendo. É como uma missa". O fato é que os devotos do Metallica, após mais de duas horas de show, saíram muito mais felizes e, visto que Hetfield fez questão de lembrar que estão em atividade há 32 anos, ninguém cogitou questionar o valor dos dinossauros.

Cotação: Bom