Economia

Dólar volta a fechar a R$ 2,30; Bolsa encerra em queda com baixo volume de negócios

Na Europa, principais Bolsas fecharam em queda após vendas no varejo mais fracas

SÃO PAULO - Sem a presença do Banco Central fazendo intervenções no mercado de câmbio, o dólar comercial manteve a tendência de alta frente ao real desde a abertura e fechou com valorização de 0,65%. A moeda americana encerrou negociada a R$ 2,301 na compra e R$ 2,303 na venda, a maior cotação desde o dia 31 de março de 2009. Na máxima do dia, o dólar comercial foi negociado a R$ 2,307 e na mínima bateu em R$ 2,288. Para analistas, desde a semana passada, o dólar se consolidou no patamar de R$ 2,30 frente ao real. O dólar turismo, utilizado pelos brasileiros que viajam ao exterior, terminou cotado a R$ 2,420 na venda, uma alta de 0,83% em relação ao fechamento de sexta-feira. Dados mais fortes do setor de serviços da economia americana, sinalizando que ela continua em recuperação, reforçaram a tendência de valorização do dólar frente a outras divisas.

- Mesmo com o dólar mantendo a trajetória de alta desde a abertura, o BC não interveio, o que causou surpresa. Havia muitos importadores aguardando a atuação do BC para comprar moeda a R$ 2,28 ou R$ 2,29. O dólar subiu pelos motivos já conhecidos: a saída de recursos pela conta financeira, a perspectiva de baixo crescimento do país e indicadores mais consistentes da economia americana. A tendência para o dólar continua sendo de valorização frente ao real - diz Fernando Bergallo, gerente de câmbio da Tov Corretora.

Segundo operadores de câmbio, os estrangeiros também voltaram a aumentar sua posições compradas em dólar no mercado futuro, apostando na alta da moeda. Isso elevou a pressão sobre a divisa no mercado doméstico. Na quinta-feira passada, último dia útil do mês, a posição comprada dos estrangeiros era de US$ 11 bilhões. Dados da BM&F mostram ela subiu a US$ 13,65 bilhões, incluindo contratos de dólar futuro e cupom cambial. É o maior patamar desde 3 de março de 2009, quando eles estavam comprados em US$ 13,97 bilhões.

Para o sócio-diretor da corretora de câmbio NGO, Sidnei Nehme, os leilões de contratos de swap cambial tradicional que o BC vem fazendo desde maio perderam a capacidade de frear tendência de alta da moeda americana. Em pouco mais de dois meses, o BC já fez 34 intervenções oferecendo US$ 31 bilhões através de contratos de swap cambial tradicional no mercado futuro. Mas o dólar continua subindo frente ao real, trazendo mais pressão para a inflação.

- O Banco Central precisa alterar a sua estratégia de intervenção no câmbio. A pressão altista agora tem origem no mercado de câmbio à vista. Ainda há procura por hedge (proteção) no mercado futuro, mas o mercado está também com demanda crescente por moeda efetiva - analisa Nehme em relatório.

Na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, índice de referência do mercado, fechou praticamente estável, com leve baixa de 0,08% aos 48.436 pontos e apenas R$ 4,6 bilhões negociados. Foi a quinta queda em seis sessões da Bovespa. Pesaram sobre o índice a desvalorização das ações de bancos e da Petrobras.

A média diária negociada na Bovespa caiu 32,5% entre junho e julho, segundo informou a BM&FBovespa, nesta segunda-feira. A média diária passou de R$ 8,94 bilhões para R$ 6,03 bilhões, com ausência de investidores estrangeiros por causa das férias de verão nos Estados Unidos e Europa.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA subiu 1,19% a R$ 28,74; Petrobras PN teve queda de 0,95% a R$ 16,65; OGX Petróleo ON teve alta de 1,69% a R$ 0,60; Itaú Unibanco PN caiu 1,57% a R$ 29,45 e Bradesco PN recuou 2,05% a R$ 27,62.

A maior alta foi apresentada pelos papéis ON da Oi, com valorização de 5,04% a R$ 4,79, seguidos pelas ações ON da empresa, que subiram 4,50% a R$ 4,41. Segundo analistas, as ações da Oi têm apresentado volatilidade, depois que a empresa suspendeu o pagamento de dividendos equivalentes a R$ 1 bilhão em agosto e vendeu ativos. Na semana passada, os papéis ON da empresa recuaram 11,11% enquando as ações PN perderam 12,63%. Nesta segunda, relatório do Bank of America Merrill Lynch informou que a Portugal Telecom poderia vender ativos na África, se capitalizando para uma possível injeção de recursos na Oi, o que foi recebido positivamente pelo mercado.

As ações ON da BR Malls Part. tiveram a maior perda do dia, com baixa de 3,62% a R$ 19,68.

As taxas de juros no mercado futuro começaram o dia em alta, acompanhando o avanço do dólar, mas cederam no fim do dia à espera de dados de inflação. O papel com vencimento em janeiro de 2015 teve taxa de 9,69% frente aos 9,72% de sexta. O contrato com vencimento em janeiro de 2017 recuou de 10,86% para 10,80% enquanto o DI com vencimento em janeiro de 2014 se manteve estável a 8,90%.

No mercado doméstico, os investidores analisaram os dados do boletim Focus, compilação feita pelo Banco Central junto a economistas do mercado. A perspectiva para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 caiu de 2,28%, na semana passada, para 2,24%. Em relação à inflação, a projeção para o IPCA foi mantida em 5,75%, enquanto a estimativa para o dólar ficou em R$ 2,25 neste ano e R$ 2,30 em 2014.

No exterior, investidores analisam dados do setor de serviços

No exterior, foram divulgados indicadores do setor de serviços de diversos países. Na China, a Associação de Logística e Compras da China (CFLP, na sigla em inglês) informou que o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor subiu para 54,1 pontos em julho, de 53,9 pontos em junho. Já o instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o HSBC, que também acompanham o desempenho do setor, informaram que o índice ficou estável em 51,3 pontos em julho, mesma leitura de junho.

Nos Estados Unidos, o indicador deu um salto expressivo e subiu para 56 pontos, enquanto a expectativa do mercado era que o número ficasse em 53,2 pontos em julho, depois de ter alcançado os 52,2 pontos em junho. Mas os principais índices de ações fecharam em queda nos EUA, devolvendo as máximas alcançadas na sexta-feira. O S&P 500 recuou 0,15%; o Dow Jones teve baixa de 0,30% e o Nasdaq fechou praticamente estável com leve alta de 0,09%.

Os dados mais fortes do setor de serviços nos EUA sinalizam que a maior economia do mundo pode estar se recuperando mais rápido do que o esperado. Com isso, crescem as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode começar a reduzir os estímulos até o fim do ano. Para o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, o órgão já deveria começar a reduzir o volume mensal de compra de ativos a partir do outono no hemisfério norte (primavera no Brasil), deixando claro que este tipo de medida é inevitável, afirmou Fisher. A sinalização da redução dos estímulos faz com que o dólar ganhe força globalmente.

Na zona do euro, o PMI dos serviços subiu a 49,8 pontos em julho, de 48,3 pontos em junho, de acordo com o instituto Markit Economics. Números acima de 50 pontos, indicam expansão da atividade econômica.

As principais Bolsas europeias se desvalorizam após as vendas no varejo da zona do euro caírem 0,5% em junho, na comparação com maio, quando cresceram 1,1%. Na comparação com junho do ano passado, o varejo da zona do euro encolheu 0,9%. O índice Dax, do pregão de Frankfurt, perdeu 0,10% enquanto o índice FTSE, da Bolsa de Londres, recuou 0,43%.