Economia

Mundo não alcançará meta de eliminar piores formas de trabalho infantil até 2016, diz OIT

Dilma: ‘Combater essa chaga é talvez uma das grandes tarefas morais, éticas, sociais, econômicas que nos cabe’
Menina de 15 anos encontrada pela fiscalização do Ministério de Trabalho em situação de trabalho escravo Foto: Divulgação / Ministério do Trabalho e Emprego - 9/5/08
Menina de 15 anos encontrada pela fiscalização do Ministério de Trabalho em situação de trabalho escravo Foto: Divulgação / Ministério do Trabalho e Emprego - 9/5/08

BRASÍLIA - O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, afirmou nesta terça-feira que ainda há, no mundo, 168 milhões de crianças trabalhando. Embora o número represente uma redução de 31% na comparação com a estimativa de 2000 - quando havia 246 milhões de crianças trabalhando -, o diretor-geral disse que "essa é uma péssima notícia". Ele afirmou ainda que, pela taxa atual de progresso, o mundo não alcançará a meta de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2016.

- Isso é um fracasso de política coletivo. Temos que fazer melhor - afirmou.

Ele destacou ainda que a maior parte das crianças que trabalham no mundo está no setor agrícola. Mas reiterou que o trabalho infantil está em ascensão no setor de serviços:

- E uma das questões principais é que existe uma demanda por essas crianças - destacou.

Em termos regionais, a Ásia e o Pacífico concentram o maior número de crianças trabalhando.

- A África Subsaariana continua com a maior proporção de crianças trabalhando - disse Ryder, que destacou a necessidade de melhoria na qualidade da educação.

Dilma defende Brasil

A presidente Dilma Rousseff defendeu que a erradicação do trabalho infantil passa pelo aumento da renda e do emprego entre os pais e mães de família. Segundo ela, entre 2002 e 2012, o Brasil reduziu em 67% o número de crianças entre 5 e 14 anos que estavam trabalhando, mais do que a média global, de 36%. Dilma participou na manhã desta terça-feira da abertura da III Conferência Global sobre Trabalho Infantil, realizada em Brasília.

- O fim do trabalho infantil depende de oportunidades de emprego e da geração de renda dos adultos das famílias com as nossas crianças - afirmou Dilma. - Os dados da OIT registram a existência de 200 milhões de desempregados em todo mundo, número que poderá continuar crescendo - acrescentou. - Nesse contexto, os principais efeitos da crise tendem a recair muito sobre as crianças, os jovens, justamente a quem nós devemos nossos maiores esforços de proteção. A saída da crise não virá pela redução da da renda dos trabalhadores, pela diminuição do emprego formal, pela restrição às liberdades sindicais ou pela degradação das políticas sociais - continuou a presidente.

Ela e o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, que também participou do evento, afirmaram que o trabalho infantil prejudica o futuro dessas crianças.

- As crianças devem estudar para que possamos evitar a repetição entre gerações do ciclo da pobreza. Para nós, essa é uma convicção profunda, o caminho da superação da miséria para as crianças é renda e trabalho para os adultos das famílias, e educação para elas - afirmou Dilma.

- Trabalho infantil mina um trabalho decente para adultos- disse o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder.

Dilma defendeu programas do seu governo - como o Brasil Sem Miséria e o Bolsa Família - como exemplos de ações que ajudam a combater o trabalho infantil. Ela também disse que o problema é mais grave nos países pobres, embora ocorra em todo o mundo.

- Combater essa chaga é talvez uma das grandes tarefas morais, éticas, sociais, econômicas que nos cabe. É um imperativo moral sim, pois as crianças são o segmento mais vulnerável e indefeso de nossas sociedade. E são sempre nosso presente e futuro. É também um desafio global. E o trabalho infantil não corresponde a uma diferenciação, uma clivagem entre o Norte e o Sul do mundo - disse a presidente.

- Não há região do mundo totalmente livre dessa problema. No entanto sabemos que a fragilidade do trabalho infantil tem uma situação muito mais perversas nos países mais pobres do mundo. Por isso tenho certeza que a questão do trabalho infantil é também uma questão de cada homem e mulher deste planeta - afirmou Dilma.

América Latina e Caribe têm 12,5 milhões de crianças trabalhando

Diante dos números ainda alarmante de crianças trabalhando, as agências da Organização das Nações Unidas lançaram nesta terça-feira o documento "Prioridades do Sistema das Nações Unidas para enfrentar o trabalho infantil na América Latina e Caribe - Um Compromisso Comum".

A diretora regional da OIT para a América Latina e o Caribe, Elizabeth Tinoco, disse que a região tem, hoje, 12,5 milhões de crianças trabalhando. Dessas, 9,6 milhões estão nas piores formas de trabalho infantil, expostas a riscos em atividades relacionadas, por exemplo, à agricultura e ao trabalho doméstico.

Ela concordou que, dificilmente, não apenas o mundo, mas também a América Latina e o Caribe não conseguirão erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016. A seu ver, se forem aplicadas medidas urgentes e envolvendo diversos setores da sociedade, há a possibilidade de se alcançar a meta em 2022.

- O primeiro passo conjunto será combater o trabalho infantil doméstico - afirmou a diretora regional, que destacou a dificuldade de se fiscalizar a atuação de crianças dentro das residências e citou a sua exposição, por exemplo, à violência sexual.