Economia

Máquinas industriais no Brasil são até 3 vezes mais antigas que em países ricos

Segundo Abimaq, idade média dos equipamentos brasileiros é de 17 anos, enquanto a dos americanos é de sete anos e dos alemães, de apenas cinco

Pedro Lúcio, presidente da RTS, ao lado do torno mecânico que já tem mais de 30 anos: “Não vejo incentivo para investir em produtividade”
Foto: Eliária Andrade
Pedro Lúcio, presidente da RTS, ao lado do torno mecânico que já tem mais de 30 anos: “Não vejo incentivo para investir em produtividade” Foto: Eliária Andrade

RIO - Por trás do desempenho da indústria brasileira, suas máquinas escondem uma marca nada invejável: a idade média é de 17 anos de uso, enquanto na Alemanha é de cinco anos e, nos Estados Unidos, de sete. A estimativa para média brasileira e alemã é da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), enquanto para a americana é da editora Gardner Business Media. Especialistas apontam que, quanto mais antigo é um maquinário, pior é seu desempenho, o que tende a comprometer a produtividade da indústria.

— O parque industrial no Brasil é muito antigo, isso tira competitividade e significa subinvestimento em maquinário — afirma o diretor-secretário da Abimaq, Carlos Pastoriza.

Professor de Economia da Unicamp e doutor em Economia Industrial, Edgard Antonio Pereira explica que o tempo de vida útil de uma máquina para fins contábeis é de dez anos. Isso porque a empresa pode depreciar 10% do valor do equipamento a cada ano, o que permite reduzir a base para o pagamento do Imposto de Renda.

— Se consideramos os 17 anos, a vida útil no Brasil é quase o dobro do nível de obsolescência física, isso para não falar na obsolescência tecnológica. Numa época em que o progresso técnico é tanto, os equipamentos ficam obsoletos mais rapidamente. É um nível preocupante — diz Pereira.

As máquinas não morrem, explica o brasileiro Mario Winterstein, diretor de desenvolvimento de negócios da Associação dos Fabricantes de Manufatura dos Estados Unidos (AMT, na sigla em inglês), que é a equivalente à Abimaq nos EUA. A questão é que o desempenho vai se reduzindo e acabam sendo usadas para operações mais simples, afirma:

— O uso das máquinas indica o nível de desenvolvimento no país. O pique de performance de um equipamento é em torno dos seis, sete anos, até que uma tecnologia nova apareça. Com uma máquina nova, é possível produzir mais, com mais qualidade e menor custo. Uma máquina obsoleta, por exemplo, pode perder uma parte da produção porque as peças têm algum problema.

O impacto na produtividade é o principal problema de um maquinário antigo. E o Brasil deixa a dever neste quesito. Dados do Conference Board citados em estudo de Regis Bonelli e Julia Fontes, pesquisadores do Ibre/FGV, mostram que a produtividade do trabalho no Brasil correspondia a 18% da registrada nos Estados Unidos — país usado como parâmetro — em 2012, a menor taxa entre Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. A Argentina, com 36%, é o país mais produtivo, neste grupo selecionado de seis países da América Latina. No caso do Brasil, foi um aumento de apenas 1% entre 2000 e 2012.

A comparação com outros emergentes também não é animadora: a produtividade do trabalho na China correspondia à 17% da americana em 2012, mas isso representava um avanço de 10,4% desde 2000.

— Sem dúvida o Brasil tem investido pouco na renovação de máquinas e equipamentos, como investe pouco em geral. Quanto mais se dá capital (investimento) para o trabalhador, mais aumenta a produtividade dele — diz Bonelli, negando, no entanto, que a média de 17 anos de uso do maquinário seja alta.

O pesquisador explica que o crescimento da produtividade do trabalho depende da soma entre a produtividade total dos fatores mais o aprofundamento do capital, que é o aumento da dotação de capital por trabalhador.

— A produtividade de uma empresa é inversamente proporcional à idade de suas máquinas — preconiza Mario Winterstein.

Winterstein acredita que países como México, Rússia e Índia tenham idade média de uso dos equipamentos semelhante ao do Brasil. Já na China a média é inferior a dez anos. É um caso específico, no entanto, porque parque industrial do país cresceu muito nos últimos anos, então é natural que seja novo.

Obstáculos para investimentos no Brasil

A RTS Indústria e Comércio de Válvulas, que produz válvulas industriais, é um dos exemplos de indústria com maquinário mais antigo, com a idade dos equipamentos variando entre cinco e mais de 30 anos. O torno mecânico já tem mais de 30 anos, mas ainda é usado quando não são necessárias medidas exatas nas peças.

— Hoje é mais barato fabricar na Alemanha que no Brasil. Nossa cadeia de impostos é absurda. Não vejo incentivo para investir em produtividade, com essa invasão de produtos importados — diz o presidente da RTS, Pedro Lucio.

A baixa lucratividade, a falta de confiança no crescimento sustentado da economia e a ausência de políticas para conter a competição dos importados são apontados como razões para os investimentos fracos.

— A baixa lucratividade dificulta a manutenção do parque fabril atualizado. É um ciclo vicioso: a baixa competitividade sistêmica do Custo Brasil não estimula investimento. E sem investimentos não melhoramos a competitividade — diz o diretor-secretário da Abimaq.

Pastoriza afirma uma linha de financiamento de longo prazo e com o juro baixo como é o BNDES PSI - Bens de Capital é excelente e tem ajudado o empresário a investir, mas “não é suficiente”.

— As linhas do BNDES ajudam, mas não resolvem o problema que custa o dobro comprar bens de capital no Brasil que no exterior — defende Mario Winterstein.