Rio

‘Manifestódromo’ liberaria vias vitais e evitaria caos no trânsito

PM defende espaços exclusivos para atos populares e divide opiniões

RIO - Alvo de críticas por excesso do uso de força durante os últimos protestos, a Polícia Militar defende a criação de espaços exclusivos para as manifestações e está disposta a discutir o assunto com a sociedade civil. Mas a proposta de “manifestódromos” divide opiniões.

— O debate é importante. Temos que garantir as manifestações, mas precisamos adotar medidas para liberar as vias. Quinta-feira, ficamos negociando com o grupo que fechou a Avenida Rio Branco, mas os manifestantes não queriam sair. Ponderamos que, se tocássemos em algum deles, poderia parecer provocação. O movimento, por causa da hora do almoço, era grande, e achamos melhor esperar. Não queríamos confronto — disse o porta-voz da PM, tenente-coronel Cláudio Costa, respondendo às críticas de que a polícia e os agentes municipais não teriam agido para evitar o caos no trânsito no Centro.

O antropólogo Luiz Antonio Machado, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, ressalta que, em alguns países da Europa e nos EUA, há uma definição sobre os locais em que pode haver protestos:

— Esses lugares são definidos em negociação com a sociedade. Aqui no Brasil, os governos deveriam fazer a mesma coisa, como ocorre no mundo inteiro. Mas não estão sabendo lidar com isso. A PM tem que reprimir seletivamente, identificando os subgrupos que vandalizam. A polícia age como se estivesse contra os manifestantes.

Paris é exemplo, diz Osorio

Para a professora do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos, da UFF, Lucia Eilbaum, que nasceu na Argentina, o país vizinho já assimilou a cultura dos protestos, e a população conhece os locais mais utilizados e busca rotas alternativas.

— É bom que a PM queira chegar a um consenso, mas para isso deve ouvir a população e não impor e restringir um local. O maior problema das manifestações atuais não tem sido o direito de ir e vir das pessoas, mas a forma como a polícia interveio, ou seja, de forma repressiva e violenta. Não vejo como um “manifestódromo” vá necessariamente mudar isso.

O secretário municipal de Transportes, Carlos Osorio, ressalta que cabe às forças de segurança o papel de definir quando uma via tem que ser fechada ou reaberta. Para ele, no episódio de quinta-feira — em que 200 manifestantes conseguiram fechar a Rio Branco por sete horas —, a PM não soube negociar:

— A melhor ferramenta é a informação antecipada, para que possamos buscar e divulgar rotas alternativas. Infelizmente, não houve consenso. Em Paris, os protestos são rotineiros, mas existem regras claras de ocupação das áreas públicas que podem ou não ser afetadas. Eles lidam melhor com isso do que nós. O assunto merece reflexão.