Economia

Lucros em alta: empresas brasileiras ganham 12% a mais no 3º trimestre

Mesmo com economia fraca, companhias são beneficiadas por avanço do dólar e aumento de exportações

RIO - Em mais um trimestre de desafios na economia - com a atividade econômica em declínio de 0,12% entre julho e setembro, de acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) - o lucro líquido das companhias brasileiras de capital aberto avançou 12,1% no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a R$ 41,676 bilhões. São R$ 4,485 bilhões a mais, segundo estudo da consultoria Economatica, feito a pedido do GLOBO. Setores voltados ao mercado internacional tiveram seus resultados beneficiados por um câmbio mais valorizado - o dólar médio foi de R$ 2,29, ante R$ 2,03 do ano anterior -, pela recuperação econômica dos EUA e da Europa, além da demanda forte da Ásia.

Sem considerar Vale e Petrobras nos resultados, já que as duas gigantes podem distorcer as estatísticas, o avanço foi de 7,2%, para R$ 30,332 bilhões. Os resultados levam em conta os 274 balanços divulgados até a noite de quarta-feira.

Segundo especialistas, os destaques positivos ficaram por conta de setores como siderurgia, química, papel e celulose e mineração (influenciado pela Vale). Entre os negativos, destaque para alimentos e bebidas, telefonia e petróleo (impactado pela Petrobras). Segundo André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, os resultados mostram uma divisão entre setores beneficiados pela recuperação dos mercados externos e os que enfrentam o baixo crescimento brasileiro, além da inflação elevada e aumento da taxa de juros, que está em 9,5%.

- Minha expectativa já era de estagnação no terceiro trimestre, mas o que vemos é um resultado negativo. A grande decepção tem sido o varejo. Por outro lado, os mercados externos estão se recuperando. Nos EUA, há a melhora da economia. A China segue crescendo forte, em ritmo de 7%. É natural que os balanços reflitam essa divisão - diz Perfeito.

O lucro do setor de papel e celulose, por exemplo, cresceu de R$ 85 milhões para R$ 295 milhões do 3º trimestre de 2012 para o mesmo período deste ano. A Fibria, uma das gigantes do setor, saiu de um prejuízo de R$ 212 milhões para lucro de R$ 57 milhões. As maiores vendas para Europa, América do Norte e Ásia compensaram o aumento do endividamento em razão da alta do dólar. O setor siderúrgico passou pelo mesmo movimento: o lucro das empresas subiu de R$ 294 milhões para R$ 1,2 bilhão. Um dos destaques foi a Gerdau, maior produtora de aços longos das Américas. Com avanço de 57% nos ganhos, para R$ 642 milhões, a companhia, diz o vice-presidente executivo de Finanças da Gerdau, Andre Pires de Oliveira Dias, se beneficiou das vendas mais atraentes devido ao câmbio. A Vale, por exemplo, lucrou mais com o apetite chinês, país que responde por metade de suas vendas.

- Isso não quer dizer que o setor vai de vento em popa. É claro que o mundo não cresce em ritmo acelerado, e nem o Brasil. Mas o câmbio favoreceu essas empresas, mais do que outras - diz Marcelo Torto, analista da Ativa Corretora.

Teles decepcionam; bancos lideram

Nem todos os setores foram ajudados pelo câmbio. O lucro da Petrobras caiu 39%, para R$ 3,395 bilhões, influenciado pela diferença entre os preços dos derivados comprados no exterior e os vendidos no Brasil. Os frigoríficos também tiveram saldo negativo com a alta da moeda americana.

- Minerva e JBS conseguiram receita melhor com a exportação de carne em um cenário de dólar valorizado, mas o impacto da moeda na dívida foi grande. É um impacto sem efeito no caixa, mas o retrato não ficou bom. Na Minerva, o lucro caiu 93% ante 2012, ainda que a receita tenha sido recorde - diz Gabriel Ribeiro, da Um Investimentos.

Para analistas, a decepção ficou por conta das teles. O lucro líquido das empresas do setor encolheu 36% no 3º trimestre, para R$ 1,2 bilhão.

- O mercado de telecomunicações vive uma fase negativa. Não tem mais o ritmo de expansão do passado, e isso se deve em parte ao desempenho da economia. As pessoas estão sentindo a inflação e apertaram o cinto - diz o consultor Virgílio Freire.

Mesmo com o maior lucro da temporada, de R$ 12,4 bilhões, os bancos, diz João Augusto, da Lopes Filho & Associados, não tiveram um resultado “brilhante”. Para ele, o ganho está atrelado à redução dos empréstimos considerados de maior risco.

- Os balanços não estiveram brilhantes, pois, na média, compensaram o menor ritmo de empréstimos realizados com as menores despesas de provisionamento contra a inadimplência.