Economia

Saída da OGX do Ibovespa tende a reduzir instabilidade do índice

Perspectiva de fim de estímulo nos EUA deve ditar comportamento do mercado

Para Paulo Bittencourt, da Apogeo, Bolsa volta a refletir a economia
Foto: Eliaria Andrade / Agência O Globo
Para Paulo Bittencourt, da Apogeo, Bolsa volta a refletir a economia Foto: Eliaria Andrade / Agência O Globo

SÃO PAULO E RIO - Após meses de muita turbulência, os analistas do mercado financeiro avaliam que a exclusão dos papéis da OGX Petróleo da carteira do Ibovespa, a principal referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), deixará o comportamento do índice menos instável.

Na sexta-feira passada, a OGX deixou automaticamente de integrar o Ibovespa - no qual tinha participação de 2,2% - ao entrar com um pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Empresarial do Rio. Apesar da expectativa de menos oscilações bruscas no índice, especialistas ressaltam que o Ibovespa tem espaço limitado para ganhos no ano, em razão da incerteza quanto ao cenário econômico interno e do possível começo da retirada de estímulos à economia nos EUA.

- Uma ação de peso no índice que vale centavos, capaz de subir 30% em um dia e cair 40% no outro, afeta a referência do mercado. A saída da OGX é uma notícia excelente nesse sentido. Mas a possibilidade de redução das recompras de títulos nos EUA ainda pode trazer incertezas pela frente - diz Felipe Ruppenthal, analista da Geração Futuro, em referência aos volume de US$ 85 bilhões em títulos adquiridos mensalmente pelo Tesouro americano para impulsionar a recuperação econômica.

Uma simulação feita pela consultoria Economatica mostra que a presença da OGX no principal índice de referência do mercado - com as variações bruscas de preço em decorrência da crise de credibilidade das companhias de Eike Batista - trouxe mais volatilidade para o Ibovespa nos últimos 12 meses até quinta-feira. Segundo a Economatica, o Ibovespa teria apresentado valorização de 5,03% nos últimos 12 meses até a quinta-feira passada, em vez da perda de 4,93% registrada no período. As ações da petroleira acumularam baixa de 97,24% nesse intervalo. No ano, o Ibovespa poderia ter recuado menos: 2,08%, em vez de 10,99%.

Em janeiro, o índice já deveria ficar menos sujeito a mudanças bruscas de rumo com a entrada em vigor da nova metodologia divulgada pela BM&FBovespa. As novas regras preveem que ações chamadas de penny stocks (que valem centavos) deixariam de fazer parte do índice. A recuperação judicial da OGX acabou antecipando a saída da empresa.

- O índice seguirá concentrado em ações como Petrobras, Vale e siderúrgicas, o que não elimina o risco de fortes oscilações - opina Alvaro Bandeira, diretor da Órama Investimentos.

Amerson Magalhães, diretor da Easynvest Título Corretora, lembra que a alteração deve dificultar a tarefa de investidores que tentam “mexer” no índice:

- Com pouco dinheiro, era possível fazer um “estrago” no Ibovespa operando OGX.

Petrobras no radar

Segundo Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, o Ibovespa se volta, agora, para os fundamentos das empresas e as perspectivas econômicas:

- Essas perspectivas estão ruins, com inflação em torno de 6%, crescimento de apenas 2,5% do PIB, déficit primário crescente. Não há catástrofe à vista, mas também não existem dados econômicos capazes de levar o Ibovespa aos 60 mil pontos em dezembro. O índice pode subir um pouco e ficar entre 56 mil e 57 mil pontos até o fim do ano.

Para Sergio Goldman, sócio da gestora Maximizar, o único evento capaz de mexer com o Ibovespa nos próximos meses é o anúncio da nova política de preços da Petrobras.

- Só este anúncio pode influenciar positivamente, já que Petrobras tem peso de quase 12% no índice. Se nada de concreto for anunciado, o índice vai ficar de lado - disse Goldman.