Política Protestos no Brasil

Médicos de nove estados paralisam atendimento em protesto contra programa do governo

Insatisfeitos com o Mais Médicos e vetos à lei que regulamenta o exercício da medicina, eles prometem mais atos no fim deste mês

Em Recife, médicos fizeram o enterro simbólico do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em frente ao Hospital da Restauração
Foto: Reprodução
Em Recife, médicos fizeram o enterro simbólico do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em frente ao Hospital da Restauração Foto: Reprodução

RIO E BRASÍLIA - Insatisfeitos com o programa Mais Médicos, do governo federal, e com os vetos à lei conhecida como Ato Médico, profissionais de, pelo menos nove dos 12 estados que confirmaram paralisação para o dia de hoje, suspenderam o atendimento médico: Acre, Ceará, Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Amazonas e Bahia. No Distrito Federal, os médicos realizaram ato, no início da manhã, no Hospital Regional da Asa Norte, usando roupas, tarjas ou laços pretos em sinal de protesto, mas as atividades não foram afetadas.

Na manhã desta terça-feira, os médicos de Pernambuco realizaram ato em frente do Hospital Estadual da Restauração, em Recife. O alvo principal dos manifestantes foi o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que ganhou dos profissionais um enterro simbólico. Durante todo o dia estão suspensas cirurgias, consultas e atendimento do Programa Saúde da Família. Foram mantidos apenas serviços de emergência, urgência, quimioterapia, hemodiálise, radioterapia e hemoterapia.

No total, o estado possui 15 mil médicos ativos, segundo o principal sindicato da categoria. Destes, oito mil atuam no Sistema Único de Saúde (SUS). A paralisação atinge todos os 26 hospitais públicos estaduais, além de unidades federais, municipais e privadas. Os médicos também devem cruzar os braços nos próximos dias 30 e 31.

— No sepultamento simbólico, enterramos as ideias de Padilha. Nosso sentimento é de revolta com este programa do governo Dilma. Mas o nosso objetivo não é de deixar a população sem atendimento. Pelo contrário. Paralisamos apenas os serviços que podem ser reagendados. Queremos chamar a atenção da população e debater o assunto — afirmou ao GLOBO Mario Jorge Lobo, presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe).

As principais entidades médicas do país são contra o programa do governo federal. Elas discordam, principalmente, de dois pontos da medida provisória que criou o Mais Médicos, assinada pela presidente Dilma Rousseff no último dia 8: a possibilidade de trazer médicos estrangeiros ao país sem revalidação do diploma; e a obrigatoriedade de os estudantes de medicina que começarem o curso a partir de 2015 terem de trabalhar por dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) para obter o diploma.

Os atos de hoje fazem parte do calendário estabelecido para protestos contra o programa e também contra os vetos presidenciais à lei conhecida como ato médico, que regulamenta o exercício da medicina do país. O texto, antes dos vetos, restringia aos médicos a prescrição de medicamentos e diagnóstico de doenças. Profissionais da saúde de outras carreiras — como enfermeiros e psicólogos —fizeram campanha pelo veto e foram atendidos pela presidente Dilma Rousseff.

Em Goiás, 40 mil pessoas marcaram consultas para hoje, mas elas estão suspensas

No Acre, os médicos entraram em greve por tempo indeterminado a partir desta terça. O sindidato do estado (Sindmed-AC) critica a importação de profissionais estrangeiros sem a apliação da prova de revalidação do diploma. Além disso, a categoria exige a abertura de concurso público e melhores condições de trabalho. Os atendimentos prioritários estão funcionando com 50% dos serviços.

No Mato Grosso do Sul, tanto a rede pública quanto a rede particular paralisam parte do atendimento médico nesta terça também. Somente as unidades de urgência e emergência estão funcionamento.

Em Goiás, o sindicato local (Simego) autorizou a paralisação do SUS, dos serviços médicos eletivos, dos serviços de perícia, da residência médica e dos serviços privados, incluindo convênio. O serviço está mantido apenas nas emergências, urgências e nos plantões em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). No Hospital das Clínicas, um dos maiores do estado, 1.200 pessoas deixarão de ser atentidas hoje. De acordo com a Globonews, os números da Central de Regulação de Vagas mostram que cerca de 40 mil pessoas aguardam consultas hoje, e outras quatro mil esperam por uma cirurgia eletiva, ou seja, marcada com antecedência.

Em Curitiba, no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, o maior do Estado, pelo menos duas mil pessoas, segundo a Globnews, deixarão de ser atendidas hoje. Por causa da suspensão do serviço, muitos pacientes que foram à capital em busca médicos, precisaram retornar sem atendimento. Há 17 mil médicos no estado, e a orientação é para que o atendimento seja realizado apenas nas emergências e urgências. Consultas particulares e de planos de saúde também foram canceladas. Os médicos prometem suspender atividades também na semana que vem, nos dias 30 e 31 de julho.

No Ceará, panfletagem e exposição de fotografia

No Rio Grande do Norte, estão suspensos os atendimentos ambulatórios nesta terça. O sindicato do estado (Sinmed-RN) orienta a classe para manter os serviços de urgência e emergência. Na capital, médicos partiram às 9h da sede do Sinmed-RN rumo ao centro de Natal. Já no Ceará, segundo o sindicato de médicos local (Simec), as urgências e emergências não entraram em greve, mas, na capital, os postos de saúde dos bairros de Fátima e Mucuripe não estão funcionando. Está agendada uma exposição com fotografias da situação da saúde do estado e panfletagem no terminal de ônibus do Papicu, às 16h desta terça.

O Sindicato dos Médicos do Estado do Amazonas (Simeam) deflagrou greve nesta terça e deve paralisar as atividades também nos dias 30 e 31 deste mês. Dois mil médicos devem se unir à causa. A classe denuncia exploração da mão de obra da categoria e a precarização das formas de trabalho do profissional. Todas as atividades médicas de rotina estão suspensas na esfera municipal, estadual e federal. Apenas urgências e emergências em funcionamento.

Na Bahia, o sindicado da categoria (Sindmed-BA) anunciou que os médicos voltam às ruas nesta terça para se manifestar contra as recentes medidas do governo federal. Estão paralisados os atendimentos da rede pública e privada, incluindo os planos de saúde, mas as urgências e emergências estão em funcionamento normal. Os médicos protestam, a partir das 14h, em frente ao Shopping Iguatemi, onde uma feira de saúde planeja prestar atendimento gratuito à população. O Sindmed-BA defende a revalidação do diploma estrangeiro e discorda do aumento de dois anos do curso de Medicina.

Em Brasília, segundo a Associação Médica de Brasília, o uso de tarjas pretas tem como objetivo é esclarecer a população sobre a posição da categoria, que revindica melhorias rede na saúde e é contra à vinda de médicos estrangeiros ao país. A associação informou que durante todo o dia os profissionais vão atender os pacientes com calma, sem pressa. Todos os médicos da rede pública, incluindo os postos de saúde foram convidados a participar da mobilização. Na semana que vem, nos dias 30 e 31 de julho, os médicos deverão promover nova paralisação e não serão realizadas consultas nem cirurgias eletivas. Os atendimentos de emergência e urgência serão mantidos.