Economia

O ‘K’ das empresas ‘X’, de Eike

Negociador, Ricardo Knoepfelmacher volta aos holofotes como o executivo da reestruturação do Grupo EBX

Em ação. Ricardo Knoepfelmacher reestrutura as empresas do grupo de Eike Batista, com executivos com quem trabalhou na Brasil Telecom
Foto: Daniel Wainstein / Valor
Em ação. Ricardo Knoepfelmacher reestrutura as empresas do grupo de Eike Batista, com executivos com quem trabalhou na Brasil Telecom Foto: Daniel Wainstein / Valor

RIO - Desde que deixou o comando da antiga Brasil Telecom (BrT), em 2008, e voltou à rotina de sua consultoria especializada em reestruturações, a Angra Partners, o carioca Ricardo Knoepfelmacher vinha se dedicando a um trabalho de bastidores sem muito glamour. Aos amigos confessava que sentia falta da “vida de Brasília”, quando encontros com autoridades e executivos eram frequentes e as viagens, intensas. Em declarações à imprensa, chegou a dizer que seu novo projeto era “caçar um grande elefante corporativo”.

Ricardo K, como é conhecido devido ao sobrenome quase impronunciável, parece ter encontrado seu elefante. A reestruturação do grupo X, de Eike Batista, que ele e seu time assumiram no fim de agosto, envolve o maior processo de recuperação judicial da América Latina. As dívidas das duas subsidiárias que recorreram à proteção da Justiça, a petroleira OGX e a empresa do ramo naval OSX, somam R$ 15,5 bilhões.

Com tamanho desafio, K voltou a ter um dia a dia frenético. Divide-se entre São Paulo, onde mora a família; Rio de Janeiro, sede do grupo X; e Nova York, onde ficam os principais credores da petroleira. Não por acaso, costuma andar com uma mala a tiracolo. No Rio, dá expediente no tradicional edifício Serrador, no Centro, sede do conglomerado de Eike, mas não interage com a maior parte dos funcionários. Ocupa uma sala no último andar do prédio, mantendo linha direta com o empresário. Workaholic assumido, chega por volta das 8h e não tem hora para sair.

Descrito como hábil negociador, objetivo e discreto, K conquistou a confiança de Eike e só ganha espaço no grupo. Dizem que nenhuma decisão é tomada sem que seja consultado. Quem o apresentou a Eike foi o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel, representante do Valor Capital Group, fundo de investimentos parceiro da Angra Partners.

Com os negócios se esfacelando e insatisfeito com a assessoria prestada pelo BTGPactual, de André Esteves, Eike buscava um líder que desse novo rumo a suas empresas. Decidiu selar acordo com K para reestruturar a holding EBX. O contrato, inicialmente de três meses, será provavelmente prorrogado. Em poucas semanas, K traçou uma radiografia precisa do grupo e mudou a direção de negociações cruciais.

- Ricardo K é o time. Sozinho, não é nada - diz uma fonte, ao citar os nomes que acaba de levar para as empresas de Eike.

É essa característica lembrada pelo ex-presidente de uma empresa de telecom. Uma de suas especialidades, além de remodelar empresas em crise, é montar times com nomes de sua confiança. Ele lembra quando Ricardo K chegou à BrT, indicado em 2004 pelos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Funcef (da Caixa), além do Citi. Sua missão era “arrumar” a tele, que sofria com briga entre os sócios, e preparar a companhia para a venda para a Telecom Italia, na época - negócio que acabou não saindo do papel:

- O Ricardo K era novo, não tinha conhecimento em telecom, mas inteligente. Por isso, decidiu contratar nomes com experiência. Foi quando levou para a BrT Paulo Narcélio Simões, ex-diretor financeiro da antiga Telecomunicações Centro-Oeste (hoje Vivo) e com passagem na TIM Nordeste, e Luiz Francisco Tenório Perrone (ex-diretor da Embratel e da Agência Nacional de Telecomunicações). Ele colocou expoentes abaixo dele - disse.

Nove anos depois, uma história parecida. O primeiro passo foi fazer uma faxina na EBX: demitiu o tunisiano Aziz Ammar, até então homem de confiança de Eike, e outros executivos. Depois, foi a vez da diretoria da OGX. Foi quando K levou para a petroleira Paulo Narcélio Simões, hoje presidente da OGX. Outra pessoa de “seu time” é Darwin Lourenço Correa, ex-diretor jurídico da BrT e sócio do Pereira Cezar Advogados, escritório que também passou a coordenar a reestruturação da OSX.

Aos 47 anos, casado pela segunda vez e pai de cinco filhos, Ricardo K é tido como “prodígio”. Entrou na faculdade de economia da Universidade de Brasília (UnB) aos 16 anos. Com pouco mais de 30, já assumia a presidência da Caloi. Uma fonte do setor de telefonia diz que ele foi indicado pela presidente Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil, para comandar a chamada supertele, resultado da compra da BrT pela Oi, em 2008. Sem o cargo, Ricardo deixou as telecomunicações, falando, nos bastidores de Brasília, que “não voltaria mais para o setor”.

- Dilma tinha relacionamento próximo com as teles na época e o considerava um expoente do setor. Mas isso não quer dizer muita coisa também, já que a presidente já falou que Eike era o exemplo para o Brasil - compara esse executivo.

‘Marketing pessoal’ é um dos trunfos

Preocupado sempre com imagem e vaidoso, lembra uma outra fonte, um dos trunfos é seu “marketing pessoal”. Por isso, dizem, não costuma ter muitos desafetos.

- Ele é muito direto e objetivo. Na BrT, já em meio ao processo de união com a Oi, ele contratava executivos dando garantias caso a fusão implicasse demissões. Ele sabe lidar com reestruturações. Há 13 anos, ele assumiu a Pegasus (empresa de tecnologia da informação) para vender para a Oi. Assumiu a gestão das usinas térmicas da Bertin num momento que o frigorífico não tinha caixa. Este é o perfil dele - diz um executivo.

Habituado a situações de crise, Ricardo K, ao chegar na EBX, encontrou os executivos em um ambiente de total divergência e desmotivação.

- Já chegou metendo o pé na porta e fazendo uma limpeza geral - disse um executivo do grupo. - É duro nas negociações, mas incapaz de levantar a voz ou dar murros na mesa.

Aficionado por temas ligados à Segunda Guerra Mundial, K segue na reestruturação do Grupo X. Na última semana, foi a vez do ex-presidente da OSX Marcelo Gomes, que também é diretor da Alvarez & Marsal, consultoria que cuidava da reestrutração da empresa naval e que também já ficou para trás.