Economia

Dólar fecha a R$ 2,283, queda de 0,26%; Bolsa cai com balanços e política fiscal

Ações da Vale sobem na expectativa de bons resultados no terceiro trimestre

SÃO PAULO e RIO - Depois de subir quase 2% ontem, o dólar comercial fechou em queda nesta quarta-feira frente ao real, acompanhando o comportamento da moeda no cenário externo. A moeda americana terminou cotada a R$ 2,281 na compra e R$ 2,283 na venda, uma desvalorização de 0,26%. Pela manhã, o dólar chegou a subir e encostou em R$ 2,30. Na máxima do dia, a moeda foi negociada a R$ 2,299 (alta de 0,43%) e na mínima a R$ 2,270 (queda de 0,83%).

O dólar avançou nos últimos dias com a desconfiança do mercado em relação à política fiscal brasileira e o pessimismo externo. Desde 31 de outubro, quando o Banco Central (BC) divulgou que o déficit fiscal primário brasileiro em setembro foi o pior para o mês desde 2001, o real teve uma desvalorização de 2,14%. Foi o pior desempenho entre 31 principais moedas do mundo acompanhadas pela Bloomberg News, à frente do rand sul-africando (-2,10%).

Hoje o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que o governo poderá realizar um superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) inferior aos 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) prometidos pela equipe econômica para 2013.

- O descontrole de gastos do governo ainda está no radar dos investidores. Mas, hoje, o cenário externo faz o dólar recuar um pouco, com números mais positivos da Europa. Mesmo assim, o real se valoriza menos do que outras moedas por causa das fragilidades da política fiscal - analisa Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

Nesta quarta, as principais Bolsas europeias sobem e a taxa dos títulos do Tesouro americano recuam. Números mais positivos da economia da zona do euro trouxeram um pouco de otimismo aos investidores. O PMI de serviços da região teve expansão pelo terceiro mês consecutivo, ficando acima de 50 pontos, o que indica expansão econômica. Com isso, a questão fiscal brasileira acaba ficando em segundo plano hoje.

Outro operador de câmbio lembra que o Brasil tem problemas tipicamente seus que fazem o dólar ter um comportamento ‘descolado’ da trajetória da moeda americana no exterior. Na prática, quando o dólar se valoriza por aqui, sobe com mais força do que lá fora. E quando perde força em relação ao real, esse movimento também é menos intenso do que em relação a outras divisas.

- Nossa realidade econômica tem peso suficiente para impor ao preço dólar no nosso mercado um valor bem acima do que vinha sendo praticado, em torno de R$ 2,18 - diz o operador.

Nesta manhã, o Banco Central brasileiro voltou a intervir no câmbio, através de um leilão de contratos de swap cambial tradicional. Foram ofertados 10 mil papéis, o equivalente a US$ 496,2 milhões, mas a trajetória do dólar continua sendo de valorização frente ao real.

Fed: incertezas sobre a redução dos estímulos persistem

Declarações de membros regionais do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizaram que a redução dos estímulos poderá ficar mesmo para 2014, diante de dados que mostram crescimento ainda não tão robusto da economia americana. O mercado aguarda para esta sexta a divulgação de dados do mercado de trabalho nos EUA, segundo analistas, um indicador importante para que o Fed tome sua decisão. Mesmo assim, uma parte do mercado aposta que os estímulos podem começar a ser reduzidos já em dezembro.

- O Fed sinalizou que não vai iniciar a redução dos estímulos monetários este ano. Os dados têm mostrado uma recuperação econômica apenas moderada, especialmente no mercado de trabalho. Esperamos que o crescimento melhore em 2014, mas o Fed deve esperar pela confirmação desta tendência para só então iniciar a redução dos estímulos. Acreditamos que isso ocorra apenas em março do próximo ano - diz relatório do banco Itaú Unibanco divulgado nesta quarta.

Ministra volta a defender política fiscal

No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DIs) abriram o dia em forte alta, mas perderam um pouco de força. Continua a preocupação com os gastos do governo e a possibilidade de que o Brasil possa perder o grau de investimento dado pelas agências de classificação de risco. O DI com vencimento em janeiro de 2015 tinha taxa subindo de 10,73% para 10,76% nesta manhã. O DI com vencimento em janeiro de 2017 apresentava taxa de 11,89% para 11,87% do fechamento de ontem.

Nesta quarta, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, voltou a defender a política fiscal do governo. Ela afirmou que não haverá alteração na política fiscal em 2014, que "já está definida, e rejeitou ideias que tragam como resultado uma "austeridade excessiva", segundo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo". Gleisi defendeu os cortes de impostos adotados pelo governo, mesmo considerando que ajudaram a reduzir o resultado das contas públicas.

Na semana passada, o governo divulgou um déficit recorde de R$ 9,04 bilhões em setembro, o pior da história para o mês. No ano, a economia do governo para pagamento de juros da dívida caiu quase à metade em relação a 2012 e analistas questionam o controle sobre as despesas.

Bolsa cai e ações da Vale sobem

Na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, principal índice, abriu o dia em leve alta, mas inverteu o sinal. O índice fechou em que de 0,83% aos 53.384 pontos e volume negociado de R$ 7,5 bilhões. O movimento está na contramão dos mercados externos. Em Wall Street, o Dow Jones fechou valorização de 0,68%.

Para João Pedro Brugger, gestor da Leme Investimentos, o mercado brasileiro segue prejudicado pela política fiscal do governo, além da divulgação de balanços corporativos abaixo do esperado no terceiro trimestre.

— Desde a divulgação do número fiscal na semana passada o mercado vem devolvendo os ganhos que teve anteriormente. Voltou a percepção de que situação fiscal aqui não está boa. E também contribuem resultados de setores que divulgaram balanços mais fracos no terceiro trimestre, como construção — disse Brugger.

O mercado está atento hoje aos resultados da Vale referentes ao terceiro trimestre do ano, que serão divulgados após o fechamento do mercado. Analistas acreditam que a mineradora apresentará um lucro líquido em torno de US$ 3 bilhões, com o aumento do preço no minério de ferro e aumento das vendas registrados no período.

“A Vale deve apresentar um sólido resultado no terceiro trimestre, beneficiada por um maior volume de vendas de minério de ferro e pelo maior preço médio realizado no trimestre. Além disso, a política de cortes de custos deverá continuar mostrando resultados, e, aliada ao câmbio desvalorizado durante o período, deverá impulsionar as margens da empresa. Assim, esperamos lucro líquido de R$ 6,9 bilhões”, escreve em relatório o analista Marcelo Torto, da Ativa Corretora.

As ações ON da Vale apresentaram ganho de 1,69% a R$ 38,47, uma das maiores do pregão, enquanto os papéis PNA subiram 1,38% a R$ 34,44. Entre as demais blue chips, Petrobras PN avançou 0,79% a R$ 20,41; Itaú Unibanco PN perdeu 1,20% a R$ 33,53 e Bradesco PN perde 1,10% a R$ 33,63.

As ações ON da PDG Realty se desvalorizam 8,86%, a R$ 1,85, após a construtora divulgar prejuízo de R$ 111,3 milhões no terceiro trimestre deste ano. Foi a maior contribuição para a queda do índice. Já os papéis ON da Gafisa avançam 3,46% a R$ 2,95 com um lucro líquido de R$ 15,8 milhões no terceiro trimestre, valor mais de três vezes superior ao do mesmo período do ano passado.A maior queda do pregão é apresentada pelos papéis ON da mineradora MMX, com queda de 8,11% a R$ 0,68.