Economia

Mudanças na ala econômica do governo de Cristina Kirchner geram desconfiança do mercado

Novo ministro da Economia foi um dos mentores da expropriação da Repsol-YPF e do plano de legalização de dólares que os argentinos têm foram do sistema financeiro

BUENOS AIRES - As mudanças de gabinete anunciadas pelo governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, na noite da última segunda-feira foram interpretadas pela imprensa e analistas locais como a confirmação de uma política econômica que desperta desconfiança entre economistas e empresários. O novo ministro da Economia, Axel Kicillof, até agora vice-ministro, foi um dos mentores da expropriação da Repsol-YPF, no ano passado, e do plano de legalização de dólares que os argentinos têm foram do sistema financeiro, lançado no início deste ano. Kicillof é representante do movimento La Cámpora, os jovens kirchneristas liderados por Máximo Kirchner, filho da presidente argentina.

A primeira reação do mercado foi negativa: o dólar oficial aumentou 4 centavos e meio (ficando em 6,05 pesos) e a Bolsa de Valores de Buenos Aires recuou 3,1% nas primeira horas de operações desta terça-feira. Na visão de economistas locais, o clima é de incerteza sobre qual será o caminho escolhido por Kicillof e o novo presidente do Banco Central, Carlos Fábrega, para conter a sangria de reservas da instituição, que este ano já perdeu US$ 9,2 bilhões atualmente tem em torno de US$ 33 bilhões, bem abaixo dos US$ 52 bilhões que chegou a ter durante o governo de Cristina.

- Todos estamos esperando novas medidas porque o ritmo de perda de reservas do BC não é sustentável, o que não sabemos e quais serão essas medidas - explicou ao GLOBO Marina Dal Poggetto, diretora da Bein Consutores.

Segundo ela, “Kicillof vinha defendendo o desdobramento do mercado cambial, mas não está claro se Cristina dará o sinal verde”.

- Tampouco sabemos como funcionaria esse desdobramento, se esse novo dólar oficial, mais alto, seria apenas para o turismo, que explica grande parte da fuga de dólares, ou também para operações financeiras - disse Marina.

Para a economista argentina, até agora Kicillof era dos que “pensavam que apenas fechando a torneira, ou seja, restringindo a compra de dólares, era possível conter a fuga”.

- Está claro que essa política fracassou, resta saber qual será o próximo passo - enfatizou.

Kicillof terá de conviver com o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, à frente do questionado Indec (o IBGE argentino) e principal responsável pela aplicação de barreiras às importações. A relação entre ambos não seria muito boa, segundo comentários que circulam no mercado, o que também desperta dúvidas entre economistas e empresários.

- O novo ministro deverá avaliar com muito pragmatismo a situação atual do governo para não cair em simplificações que levem ao fracasso - opinou Fernando González, editor chefe do jornal “El Cronista”.

Para ele, as perguntas a responder são: adotará Kicillof as medidas necessárias para combater a inflação (que este ano rondará 25%)? Irá desmontando gradualmente os controles no mercado cambial? Terá o olhar estratégico necessário para superar as complexas negociações com os fundos abutres (os credores que não participaram das operações de troca da dívida de 2005 e 2010), o Ciadi (tribunal do Banco Mundial onde a Argentina enfrenta demandas de empresas estrangeiras) e o Clube de Paris (com o qual a Argentina mantém uma dívida superior a US$ 6 bilhões)?

Alguns empresários estão preocupados, não tanto pela designação de Fábrega, que tem boa imagem, à frente do BC. O risco, para muitos, é o poder dado a Kicillof.

- A nomeação de Kicillof ratifica o perfil intervencionista, que não ajuda a resolver os problemas. Você pode obrigar um empresário a fazer tudo, menos a investir - declarou o deputado e secretário da União Industrial Argentina, José Ignácio de Mendiguren.