Economia

CVM investiga mudança contábil de Petrobras, Braskem e Vanguarda Agro

Contabilidade de hedge permitiu a Petrobras e Braskem amortecer impacto da alta do dólar

RIO - A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) confirmou nesta terça-feira que investiga mudanças contábeis praticadas por companhias como Petrobras, Braskem e Vanguarda Agro. As três empresas anunciaram recentemente a adoção da contabilidade de hedge, uma modalidade de medir os resultados que ameniza os impactos da valorização do dólar. A autarquia diz que as inspeções são de rotina e seguem o cronograma de fiscalizações planejado para 2013 e 2014.

Na chamada contabilidade de hedge, o impacto de perdas cambiais por dívida em moeda estrangeira é amortecido por receitas futuras de exportações com a mesma divisa. Então o trimestre reportado no balanço consegue ter ao menos parte da dívida protegida de variações cambiais, porque este impacto financeiro passa a ser contabilizado no patrimônio líquido e não no resultado. A empresa precisa atrelar exportações de determinado período a valor equivalente da dívida em moeda estrangeira do respectivo exercício fiscal. Eventualmente, nem toda a dívida pode ficar livre do impacto da variação cambial.

Com a contabilidade de hedge, a Braskem reportou prejuízo de R$ 128 milhões no segundo trimestre, ante R$ 1,08 bilhão que seria reportado sem essa prática contábil. A Petrobras não informou qual seria o resultado sem a contabilidade de hedge e divulgou apenas o lucro líquido de R$ 6,2 bilhões no período com a mudança. A Vanguarda Agro ainda não divulgou os resultados do segundo trimestre, mas só vai adotar a contabilidade de hedge a partir de agosto deste ano, afetando, portanto, somente o desempenho do terceiro trimestre.

Procurada pelo GLOBO, a Petrobras não quis comentar as investigações. A Braskem esclareceu que a CVM solicitou cópias de estudos, pareceres técnicos e manifestações de auditores independentes que embasaram a mudança contábil.

“A Braskem considera natural o ofício da CVM com pedido de esclarecimentos diante da relevância do tema hedge accounting e já enviou ao órgão os documentos solicitados: cópia da documentação que formaliza a estratégia de gestão de risco objeto da nova norma contábil e pareceres técnicos que embasaram a decisão e dos auditores. A empresa vinha estudando a adoção dessa prática desde o ano passado e tomou a decisão em maio após parecer favorável dos auditores”, informou a empresa em comunicado à imprensa.

Ao GLOBO, Mario Augusto da Silva, vice-presidente de finanças da Braskem, explicou que a companhia adotou a contabilidade de hedge a partir de 1º de maio deste ano, com base nas exportações projetadas para o período de janeiro de 2016 a dezembro de 2024. Essa projeção equivale a US$ 6,757 bilhões em débitos. Essa dívida será “levada ao resultado quando ocorrerem as referidas exportações, permitindo assim que o reconhecimento do impacto do dólar sobre o passivo e sobre as exportações possam ser registrados no mesmo momento”, diz o texto do sumário executivo do segundo trimestre publicado pela Braskem.