Economia

Brasil, Índia, Rússia, Indonésia e Turquia são mais vulneráveis aos EUA

Economistas alertam que a forte depreciação sofrida por moedas de países emergentes desde junho poderá ser uma tendência nos próximos meses

RIO - Os Estados Unidos, que detonaram a crise global de 2008, começam, aos poucos, a voltar à normalidade. Depois de três levas de políticas monetárias pouco usuais, que injetaram bilhões de dólares no mercado financeiro (os chamados “afrouxamentos monetários”), o Federal Reserve, banco central dos EUA, deverá interromper a estratégia nos próximos meses, diante de sinais mais fortes de que a economia retomou o crescimento. Mas, o que é bom para os Estados Unidos, nem sempre é bom para o resto do mundo, pelo menos não a curto prazo. E, sobretudo, para os países emergentes.

Economistas alertam que a forte depreciação sofrida por moedas de países emergentes desde junho, quando o Fed anunciou a mudança em sua política, poderá ser uma tendência nos próximos meses, com os fluxos de capitais voltando para os Estados Unidos e deixando a periferia.

Essa nova onda de turbulência deve afetar os países mais vulneráveis a choques externos. Os nomes mais citados dessa lista são: Índia, Indonésia, Turquia, Rússia, África do Sul e Brasil. São países que também tendem a sofrer com o esperado freio no crescimento da China, já que são grandes exportadores de matérias primas.

— Muitas das nações que lideraram o crescimento na última década agora se veem em dificuldades. Há desaceleração no crescimento da China e outros países emergentes estão muito dependentes do capital externo. — afirma o indiano Ruchir Sharma, chefe da área de Emergentes do Morgan Stanley Investment Management e autor de “Os rumos da prosperidade” (Elsevier).

Juro americano mais atrativo

A simples perspectiva de que os Estados Unidos vão interromper a injeção de recursos no mercado já elevou as taxas de juros americanas de longo prazo, atraindo capitais para o país.

— A percepção de que a liquidez abundante vai começar a diminuir leva a saques de recursos de emergentes. Os investidores agora começam a olhar mais para os fundamentos desses países e diferenciá-los por isso — explica o chefe de pesquisa macro e estratégia para América Latina do Barclays, Marcelo Salomon.

O ineditismo das políticas de estímulo adotadas para enfrentar a crise sugere surpresas.

— A questão é que são mares nunca antes navegados. A saída dessa política de afrouxamento monetário é inédita, assim como a própria política. A saída não pode ser simples e há risco nos emergentes — diz José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

Monica Baumgarten de Bolle, sócia-diretora da MBB/Galanto Consultoria e professora da PUC-Rio, alerta, porém, que, se a mudança de rumo no Fed é o gatilho para as desvalorizações de moedas de países emergentes, o que explica o fato de algumas economias sofrerem mais são suas fragilidades econômicas. Países com déficit externo elevado, fragilidade fiscal e inflação alta são os mais expostos à reversão do cenário externo.

— As moedas emergentes com maior impacto do reajuste global são as que tinham recebido mais recursos ultimamente. E isso se conjuga com uma falta de equilíbrio macroeconômico doméstico. Países como Brasil, Turquia, Indonésia, África do Sul e Índia estão entre os mais afetados — afirma o ex-diretor do Banco Central e hoje sócio e chefe de pesquisa da gestora de recursos EMval Partners, Paulo Vieira da Cunha.

Na avaliação de Salomon, o Brasil está na lanterninha dos emergentes, ao lado de África do Sul, Turquia e Indonésia, com crescimento baixo e ausência de credibilidade na política fiscal:

— Hoje todo mundo ama amar o México, mas ama odiar o Brasil.