11/05/2013 08h00 - Atualizado em 11/05/2013 08h00

Bruna Surfistinha diz que Lola levanta 'bandeira contra preconceito'

Em entrevista ao G1, Bruna fala sobre a 'sucessora' Lola Benvenutti.
Recém-graduada em letras também é garota de programa e tem um blog.

Cauê MuraroDo G1, em São Paulo

A ex-garota de programa Bruna Surfistinha, Raquel Pacheco (à esq.) e a blogueira Gabriela Natália da Silva, ou Lola Benvenutti, que formou em letras na UFSCar e optou por fazer carreira como garota de programa (Foto: Divulgação e Felipe Turioni/G1)A ex-garota de programa Bruna Surfistinha, Raquel Pacheco (à esq.), e a blogueira Gabriela Natália da Silva, ou Lola Benvenutti, que formou em letras, é garota de programa (Foto: Divulgação e Felipe Turioni/G1)

Raquel Pacheco ficou famosa por causa do apelido (Bruna Surfistinha), da ocupação que tinha quando usava o codinome (garota de programa) e do seu blog (ali, relatava suas experiências com gente que pagava por sexo). É uma história que antecipa à de Gabriela Natália da Silva, 21 anos. Recém-formada em letras pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ela também é garota de programa, também tem apelido (Lola Benvenutti) e também publica relatos num site próprio.

“O marketing que ela está usando hoje é o mesmo que fiz há nove anos, ou seja, para mim a estratégia dela não é inovadora", afirma Raquel. Em entrevista ao G1 por e-mail, a ex-Bruna Surfistinha comenta que "é cedo para saber se ela é realmente garota de programa" e que não pode dizer se Lola é uma "nova versão da minha criatura". Raquel, aliás, refere-se à "criatura" como se estivesse falando de uma terceira pessoa: "O que sempre diferenciará Bruna Surfistinha das outras será o fato de ela ter sido a pioneira".

Raquel Pacheco tinha 17 anos de idade quando, no final de 2002, deixou a casa dos pais, em São Paulo, e foi trabalhar como garota de programa. Deixou a atividade em 28 de outubro de 2005, data em que completou 21 anos. Pouco depois, publicou a autobiografia "O doce veneno do escorpião", escrita em parceria com Jorge Tarquini. Vendeu 285 mil cópias, informa a editora Panda Books.

Em fevereiro de 2011, estreou "Bruna Surfistinha", filme baseado na obra e com Deborah Secco no papel-título. Dirigido por Marcus Baldini, foi o terceiro que mais arrecado naquele ano entre as produções brasileiras, com R$ 19,9 milhões de renda e público de 2,16 milhões de espectadores. Durante a conversa, Raquel comenta que seus relatos no blog "eram todos verdadeiros", mas que "o filme baseado nele que não foi 100% fiel". Comenta ainda que, se fosse seguir o exemplo de Lola e tatuar frases de autores renomados, Clarice Lispector seria uma opção. Leia, a seguir, os principais trechos:

G1 – Você acha que a Lola é ‘café com leite’ ou garota de programa de verdade?
Raquel Pacheco –
Acho que é cedo para saber se ela realmente é garota de programa e ainda não tive tempo para ler e analisar todo material já publicado no site dela. Sinceramente, espero que seja, para ajudar a levantar a bandeira contra o preconceito da prostituição. Há o fato de ela quebrar o estereótipo da garota de programa, como também aconteceu comigo. Para mim, não é nenhuma surpresa saber que Lola é formada e que estudou. Quando trabalhei, conheci várias garotas que eram universitárias e mantinham uma vida dupla. Aliás, na prostituição a maioria é mulher casada ou menina universitária, mas a prostituição é o maior segredo da vida delas.

G1 – Você a considera a nova Bruna Surfistinha?
Raquel Pacheco –
Da mesma maneira que ninguém substitui ninguém e que todos nós somos diferentes naturalmente, não posso dizer que ela é a nova versão da minha criatura. O marketing que ela está usando hoje é o mesmo que fiz há nove anos, ou seja, para mim a estratégia dela não é inovadora. O que sempre diferenciará Bruna Surfistinha das outras será o fato de ela ter sido a pioneira.  

G1 – Do seu livro, quanto é ficção e quanto é verdade?
Raquel Pacheco –
Os meus relatos eram todos verdadeiros, omitia apenas detalhes relacionados aos clientes para que não fossem identificados nos textos. Assim que o cliente ia embora, eu fazia um rascunho sobre o encontro que havíamos tido para não me esquecer de nenhum detalhe no momento de escrever no blog. No livro não há ficção, são relatos verdadeiros. O filme que foi baseado nele que não foi 100% fiel.

G1 – A Gabriela diz que acha que ‘as pessoas são hipócritas, vivem de sexo, veem vídeo pornográfico, mas não falam porque têm vergonha’. Você concorda com isso?
Raquel Pacheco –
Concordo, mas percebo que esta situação acontece mais com as mulheres que, além de vergonha, têm medo da reação das pessoas. A nossa sociedade machista tem uma ponta enorme de culpa nisto. Há ainda tabus sexuais. Muitas mulheres desabafam comigo que não sabem o que é um orgasmo mesmo sendo casadas. Homem falar sobre sexo é normal, principalmente quando está em grupo. Aliás, é quando alimentam o ego masculino e reafirmam a masculinidade. E, quanto mais detalhes, melhor. Todos acham o máximo que o amigo é bom de cama. Já com mulheres, a história muda. Se alguma chega e revela as peripécias sexuais num grupo, a reação dos ouvintes é diferente. Homem que fala de sexo é macho, mulher é safada e puta. Homem falar sobre sexo é natural, mulher gera polêmica. Se eu e Gabriela fôssemos homens, tenho certeza que não despertaríamos tanta atenção na mídia e na sociedade. 

G1 – A Gabriela Natália da Silva, ou Lola Benvenutti, tatuou no corpo frases de Guimarães Rosa e Manuel Bandeira. Se você tivesse de tatuar alguma coisa, e algum escritor, qual seria?
Raquel Pacheco –
Eu gosto de frases em latim, já tenho duas tatuadas: “Carpe Diem” e “Vini Vidi Vici”. Gosto muito de frases da Clarice Lispector, mas acho que são muito grandes para serem tatuadas. Mas tatuaria esta que inclusive está em destaque em meu blog pessoal: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.

Shopping
    busca de produtoscompare preços de