26/08/2013 11h15 - Atualizado em 26/08/2013 15h48

Leia trecho do novo romance de Nicholas Sparks, que vem ao Brasil

Autor best-seller lança 'Uma longa jornada' na Bienal do Livro do Rio.
Filmes 'Diário de uma paixão' e 'Querido John' são baseados em obras dele.

Do G1, em São Paulo

O escritor americano Nicholas Sparks (Foto: Nina Subin/Divulgação)O escritor americano Nicholas Sparks
(Foto: Nina Subin/Divulgação)

Com mais de 90 milhões de livros vendidos – a conta é de seu site oficial –, o americano Nicholas Sparks é listado como um dos principais destaques da Bienal do Livro do Rio, que neste ano começa nesta quinta-feira (29) e vai até 8 de setembro. Sparks participa do evento no dia de 31 de agosto, ao meio-dia, dentro do programa "Conexão Jovem".

A programação o descreve como "um dos mais queridos e lidos da atualidade, autor de livros como 'Diário de uma paixão' e 'Noites de Tormenta'". Ele participa do evento no dia de abertura, ao meio-dia, dentro do programa "Conexão Jovem".

Não por acaso, ambas as obras citadas renderam filmes, fato que é causa e consequência do estabelecimento de Sparks como best-seller. Há (por enquanto) outros cinco longa-metragens inspirados em livros dele: "Uma carta de amor", "Um amor para recordar", "Querido John", "Um homem de sorte", "A última música" e "Um porto seguro". 

Sparks vem ao Brasil para lançar "Uma longa jornada" (Arqueiro), seu trabalho mais recente (leia, abaixo, o trecho inicial). Segundo o material de divulgação, a obra "conta a história de dois casais de gerações diferentes que o destino unirá, mostrando a força do amor, para além do desespero, da dificuldade e da morte".

Um desses personagens centrais é Ira Levinson, que tem 91 anos de idade e está "com problemas de saúde e sozinho no mundo". No princípio da trama, ele "sofre um terrível acidente de carro. Enquanto luta para se manter consciente, a imagem de Ruth, sua amada esposa que morreu nove anos antes, surge diante dele". É a partir dessas lembranças de Ira que a narrativa se move, passando por episódios históricos, como a Segunda Guerra Mundial.

O segundo casal é formado por Sophia Danko e Luke Collins. Ela é "uma jovem estudante de história da arte, [que] acompanha a melhor amiga a um rodeio", onde é "assediada pelo ex-namorado". Ele é "o caubói que acabou de vencer a competição" e que salva a garota do assédio. Veja, a seguir, como começa "Uma longa jornada".

"Início de fevereiro de 2011 – Ira

Às vezes acho que sou o último da minha espécie.

Meu nome é Ira Levinson. Sou sulista e judeu, e me orgulho de ter sido chamado de ambas as coisas em uma ocasião ou outra. Além disso, sou velho. Nasci em 1920, ano em que o álcool foi proibido e as mulheres conquistaram o direito de votar. Muitas vezes me perguntei se esse foi o motivo de minha vida ter sido como foi. Afinal, nunca bebi e a mulher com quem me casei ficou na fila para votar em Roosevelt assim que teve idade para isso. Dessa forma é fácil imaginar que o ano do meu nascimento de algum modo foi determinante.
 
Meu pai teria zombado desse pensamento. Ele acreditava em regras. 'Ira', dizia-me quando eu era novo e trabalhava com ele em sua loja de roupas e artigos masculinos, 'deixe-me lhe dizer o que você nunca deve fazer', e então dizia. Chamava isso de suas Regras para a Vida. Cresci ouvindo as regras do meu pai para quase tudo. Algumas delas eram de natureza moral, baseadas nos ensinamentos do Talmude – e provavelmente as mesmas que a maioria dos pais ensinava aos filhos. Aprendi, por exemplo, que nunca deveria mentir ou roubar, mas meu pai – que era judeu não praticante, como ele mesmo se descrevia na época – costumava focar mais nas coisas práticas. Nunca saia na chuva sem chapéu. Nunca toque  em uma boca de fogão, porque, mesmo que seja improvável, ainda pode estar quente. Fui alertado a nunca contar meu dinheiro em público nem comprar joias de um homem na rua, por mais que parecesse um ótimo negócio. E esses nuncas não tinham fim, mas, apesar de sua natureza aleatória, eu seguia quase todas as regras, talvez porque nunca tivesse querido desapontar meu pai. A voz dele até hoje me segue por toda parte.

Do mesmo modo, meu pai me dizia com frequência o que eu deveria fazer. Ele esperava honestidade e integridade em todos os aspectos da vida, mas também me disse para abrir portas para mulheres e crianças, dar apertos de mãos firmes, lembrar os nomes das pessoas e sempre dar ao cliente um pouco mais do que ele esperava. Acabei percebendo que suas regras não eram apenas a base de uma filosofia que lhe servira bem, mas diziam tudo sobre quem ele era. Como meu pai acreditava em honestidade e integridade, achava que os outros também acreditavam. Tinha fé na decência humana e presumia que os outros eram como ele. Acreditava que a maioria das pessoas, quando lhes era dada a chance, fazia o certo, mesmo que isso fosse difícil, e acreditava que o bem sempre vencia o mal. Mas não era ingênuo. “Confie nas pessoas”, dizia, “até que elas lhe deem motivo para não confiar. E depois nunca mais fique de costas para elas.”

Mais do que qualquer outra pessoa, meu pai moldou o homem que sou hoje.

Mas a guerra o mudou. Ou melhor, o Holocausto o mudou. Não alterou sua inteligência – meu pai era capaz de fazer as palavras cruzadas do The New York Times em menos de dez minutos –, mas abalou suas crenças em relação às pessoas. O mundo que achava que conhecia não fazia mais sentido e ele começou a mudar. A essa altura, estava no fim da casa dos 50 e, depois de me tornar sócio de seu negócio, passava pouco tempo na loja. Tornou-se judeu em tempo integral. Começou a frequentar com regularidade a sinagoga junto de minha mãe – falarei sobre ela mais tarde – e a apoiar financeiramente muitas causas judias. Recusava-se a trabalhar aos sábados. Acompanhou com interesse as notícias sobre a criação do Estado de Israel – e a subsequente guerra entre árabes e israelenses – e começou a ir a Jerusalém pelo menos uma vez por ano, como se procurasse algo que nunca soubera que tinha perdido. Quando meu pai envelheceu, comecei a me preocupar com aquelas viagens ao exterior, mas ele me garantiu que era capaz de cuidar de si mesmo. E de fato cuidou durante muitos anos. Apesar da idade avançada, sua mente continuava aguçada como sempre, mas o corpo, infelizmente, não se adaptou tão bem. Ele teve um ataque cardíaco aos 90 anos e, embora tivesse se recuperado, sete meses depois um acidente vascular cerebral enfraqueceu muito o lado direito do seu corpo. Mesmo assim, insistiu em cuidar de si mesmo. Recusou-se a ir para uma clínica de repouso, mas usava um andador para se locomover e continuou a dirigir, apesar das minhas súplicas para que não renovasse a habilitação. “Isso é perigoso”, eu lhe dizia, mas ele apenas dava de ombros.

'O que posso fazer?', respondia ele. 'Como vou para a loja?'

Meu pai morreu um mês antes de completar 101 anos, com a habilitação ainda dentro da carteira e palavras cruzadas completas na mesa de cabeceira. Teve uma vida longa e interessante e ultimamente tenho pensado muito nele. Acho que isso faz sentido, porque sempre segui seus passos. Segui suas Regras para a Vida todas as manhãs ao abrir a loja e no modo como lidei com as pessoas. Lembrei-me de nomes, dei mais do que era esperado e até hoje levo meu chapéu quando acho que há chance de chover. Como meu pai, tive um ataque cardíaco e agora uso um andador. E, embora nunca tenha gostado de palavras cruzadas, minha mente parece aguçada como sempre. Da mesma forma que meu pai, fui teimoso demais para abrir mão da minha habilitação. Pensando bem, isso provavelmente foi um erro. Se tivesse aberto, não estaria nesta situação: meu carro fora da estrada, no meio de um barranco íngreme, com o capô amassado pelo impacto com uma árvore. E não estaria fantasiando sobre alguém aparecer com uma garrafa térmica cheia de café, um cobertor e uma daquelas liteiras que carregavam os faraós de um lugar para outro. Porque esse é o único jeito de eu sair daqui vivo.

Estou encrencado. Do outro lado do para-brisa quebrado, a neve continua a cair, confusa e desorientadora. Minha cabeça está sangrando e a vertigem vem em ondas; tenho quase certeza de que fraturei o braço direito. A clavícula também. Mesmo de casaco, sinto tanto frio que estou tremendo."

Programação da Bienal do Livro do Rio 2013 (Foto: Arte/G1)
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