Economia

Trigo e carne têm forte alta e se aproximam de recordes históricos

Escassez dos produtos pressiona preço. Trigo já subiu 33% em 12 meses
Pior colheita na Argentina em 111 anos dispara preços do trigo. No Brasil, chuvas causaram transtornos à produção no Paraná e Rio Grande do Sul Foto: O Globo
Pior colheita na Argentina em 111 anos dispara preços do trigo. No Brasil, chuvas causaram transtornos à produção no Paraná e Rio Grande do Sul Foto: O Globo

RIO - Pressionados pela pior colheita dos últimos 111 anos na Argentina – e a consequente restrição do país vizinho à exportação do produto -, os preços do trigo estão em alta e puxando os valores da farinha de trigo para cima. Em 12 meses, o produto subiu 33%, segundo o IBGE. Somam-se ao problema da safra, a demanda em alta no Brasil e o dólar mais caro. Com isso, pães e massas ficaram mais caros no país. A carne também está em alta, sustentada pela firme demanda de países asiáticos e por uma oferta menor que a esperada. Segundo levantamento da Escola Superior de Agricultora Luiz de Queiroz, a Esalq, da USP, e da BM&FBovespa, o preço da arroba bovina subiu 6,5% em setembro, aproximando-se do recorde histórico registrado em 2010.

Por ser a Argentina a maior responsável por abastecer nosso mercado de trigo, as consequências das intempéries no país vizinho são sentidas com força por aqui. O preço das massas ficou 33,93% mais caro no acumulado dos 12 meses encerrados em outubro. Já o pão francês subiu 14,51%. A alta do pãozinho, no período, é generalizada em todas as regiões metropolitanas brasileiras, com destaque para o Rio de Janeiro (18,52%), Distrito Federal (19,68%), Belém (15,35%), Goiânia (16,36%) e Curitiba (17,94%). Em média, a Associação da Indústria de Panificação aponta que cada brasileiro consome 660 pães por ano.

- O trigo está em um dos maiores patamares desde 2008, quando o Brasil viveu uma situação similar de escassez – afirma Renata Maggean Moda, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. - O Brasil não consegue produzir o suficiente e ainda tivemos uma quebra no Paraná, um pouco de chuva no Rio Grande do Sul e os problemas na Argentina – reitera.

No caso do trigo, há outro agravante: o excesso de chuva no Rio Grande do Sul, que tende a prejudicar a qualidade e o rendimento do alimento. O clima desfavorável no meio deste ano também danificou grande parte das lavouras do Paraná. Na Argentina, desde 2007, a área cultivada com trigo vem sofrendo cortes, como resposta dos produtores à intervenção oficial. Com o fraco desempenho, a severa crise de abastecimento doméstico tornou o preço do cereal no país o mais caro do mundo, com a tonelada sendo negociada a US$ 520.

No último sábado (2), em uma padaria de Botafogo, na Zona Sul da capital fluminense, o preço do quilo do pão francês estava sendo negociado a quase R$ 8. Há menos de dois meses, no mesmo local, o preço estava em R$ 6,20, um avanço de mais de 29%. E o avanço deve persistir por mais algum tempo. Faltando dois meses para o Natal, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) já alerta para preços mais salgados nas comemorações de fim de ano: o aumento nos preços dos insumos deve elevar em cerca de 6% o preço dos panetones neste ano.

- Como nós não produzimos o suficiente pra abastecimento interno, a expectativa é que os preços continuem com patamar mais elevado até o início de 2014. Hoje, por exemplo, a tonelada de trigo do Paraná custa R$ 898, no ano passado estava R$ 622 - ressalta Renata.

No dia 30 de outubro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) autorizou - mais uma vez - uma cota adicional de 600 mil toneladas para importação de trigo em grão, até 30 de novembro, com tarifa zero. A alíquota normal do imposto de importação para o produto é de 10%.

Diante de tantas adversidades, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, afirmou que o governo está monitorando a situação e se mexe para conter a alta do trigo.

- Participei de uma conversa com o ministro para talvez ampliar ainda mais a isenção de importação do trigo, para justamente combater a alta do trigo. O governo fez a desova, jogou no mercado todo o estoque que tínhamos. Isso durante o ano foi um alento para segurar o preço, mas é uma preocupação - disse Geller em conferência a jornalistas.

Carne deve surpreender ainda mais

Outrora vilões, os alimentos in natura, começam a dar um alívio ao bolso, e devem passar o título para a carne. Segundo levantamento da Esalq/BM&FBovespa, o preço da arroba bovina subiu 6,5% em setembro, aproximando-se do recorde histórico registrado em 2010. Para o consumidor, em outubro, o IBGE apurou um avanço de 3,17%. No IPCA do mês, o item carnes foi o alimento que mais contribuiu para a alta do indicador, ficando com 2,37% do peso total do índice.

- Estes aumentos de preço são resultado de uma oferta de animais de confinamento menor que o esperado e um aumento da demanda de exportação, como consequência do real desvalorizado. Para o quarto trimestre, esperamos que os preços do gado continuem a se fortalecer no Brasil, liderados pelo aumento da exportação e menor disponibilidade de animais – aponta relatório do banco holandês Rabobank, assinado pelos analistas Don Close e Albert Vernooij.

Do dia 28 de junho a 9 de outubro, os preços das carnes bovina, suína e de frango comercializadas no atacado da Grande São Paulo acumulam fortes altas, de acordo com levantamento diário do Cepea. O aumento mais expressivo na cotação, de 33%, foi para a carcaça comum suína, com o quilo do produto passando de R$ 4,15 no dia 28 de junho para R$ 5,96 no período.

Na sequência, ficou o frango resfriado, com valorização de 23% no período acima citado, passando de R$ 2,95/kg para R$ 3,85/kg. Quanto à carcaça casada de boi, o aumento no preço foi de 11,5% na mesma comparação, com cotação média de R$ 7,19/kg, ante os R$ 6,35/kg registrados em junho.