Economia

Mesmo com ação do Banco Central, dólar sobe e fecha a R$ 2,17; Bolsa tem alta puxada por Vale e OGX

Cotação da moeda chegou a R$ 2,187 na máxima do dia, logo após a abertura dos negócios

SÃO PAULO e RIO – O Banco Central realizou nesta terça-feira a intervenção mais forte no mercado de câmbio desde que o dólar iniciou sua escalada em relação ao real, no fim de maio, mas a ação não foi suficiente para inverter a tendência da moeda americana, que fechou em alta de 0,55%, cotada a R$ 2,178. Logo após a abertura dos negócios, a moeda americana atingiu a máxima do dia, a R$ 2,187, a maior cotação desde abril de 2009. Em seguida, o BC fez dois leilões de contratos de swap cambial — operações que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. No total, foram vendidos US$ 4,5 bilhões em papéis. Esta é a nona intervenção do BC desde o dia 31 de maio. Neste período, foram vendidos US$ 15,3 bilhões em contratos de swap cambial. nesta terça-feira, o Banco Central indicou que continuará a atuar no câmbio para corrigir distorções.

Apesar do número frequente de operações, especialistas explicam que os leilões não têm impacto direto nas reservas cambiais brasileiras, estimadas em US$ 375 bilhões. Nessas operações não existe a entrega de moeda americana pelo BC. As operações são realizadas em reais, por meio de contratos que têm como referência a variação da moeda americana e dos juros básicos, a Selic.

— O Banco Central só usa reservas se operar no mercado à vista. No swap, no mercado futuro, o BC corre o risco de câmbio e o mercado corre risco de juros — explica Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.

Mesmo assim, analistas avaliam que a estratégia não tem fôlego para reverter a tendência do dólar, influenciada pela expectativa em relação à reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), marcada para hoje. Investidores estão atentos a qualquer sinalização de uma mudança na política de estímulo à economia americana. A cada mês, o Fed despeja US$ 85 bilhões no mercado por meio da compra de títulos. Diante dos sinais de retomada da atividade econômica nos EUA, analistas esperam alguma indicação de redução da compra de títulos e antecipam uma alta de juros.

— A reunião do Fed será um divisor de água para a cotação do dólar no Brasil. Se o programa de estímulo diminuir, haverá um fluxo muito maior de recursos para os títulos americanos. O dólar pode chegar, num primeiro momento, a R$ 2,20 ou R$ 2,30. Os leilões do BC não têm força para inverter a tendência, servem apenas para saciar a procura por dólares no câmbio futuro — disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

Além do cenário externo, o cancelamento da oferta pública de ações da Votorantim Cimentos deve pressionar ainda mais a moeda. Fontes próximas da operação afirmam que a companhia decidiu suspender a operação diante das condições adversas do mercado, com investidores exigindo um preço menor para os papéis. A previsão era que a oferta levantasse ao menos R$ 7,6 bilhões.

Para William Castro Alves, analista da XP Investimentos, o adiamento revela o mau momento do mercado brasileiro, mas não sinaliza necessariamente um cenário ruim para os próximos meses:

— O segundo semestre vai depender, além do Fed, da melhoria de três fatores: desaceleração da economia chinesa, crescimento interno e mudanças na condução da política econômica.

Bovespa tem um dia de recuperação

A Bovespa teve um dia de recuperação técnica, após uma série de baixas, levando o índice ao patamar dos 49 mil pontos, o menor patamar desde agosto de 2011. De acordo com analistas, a alta das ações da Vale e da OGX Petróleo influenciaram a alta do índice no cenário interno. No exterior, a valorização das Bolsas americanas também se refletiu no pregão brasileiro. O mercado reagiu positivamente ao marcado regulatório para a mineração, que ainda deverá ser aprovado pelo Congresso. O documento não trouxe surpresas. A taxa de royalties subiu de 2% para 4% como era esperado. As ações PNA da Vale subiram 2,42% a R$ 29,09.

E as ações da OGX Petróleo se recuperaram das perdas recentes e ganharam 12,19%, a maior alta do Ibovespa, influenciando positivamente outros papéis do Grupo EBX. As ações ON da MMX Mineração avançaram 8,80% a R$ 1,36 enquanto os papéis ON da LLX Logística ganharam 6,42% a R$ 1,16. A CCX informou que adiou para dia 31 de julho o fechamento de seu capital. Os papéis da empresa caíram 23,78% a R$ 1,42.

Entre as demais blue chips da Bolsa, Petrobras PN teve queda de 1,32% a R$ 17,86; Itaú Unibanco PN perdeu 0,47% a R$ 29,40 e Bradesco PN caiu 0,73% a R$ 29,60.

As ações ON da ALL tiveram a maior desvalorização: queda de 5,10% a R$ 9,49, com a possibilidade de a empresa ampliar seu capital.

No mercado de juros, as taxas apresentaram alta no fechamento, influenciadas pela alta do dólar. Mesmo com uma recompra de títulos feita pelo Tesouro, as taxas não recuaram. Na BM&F, o DI de janeiro de 2014 tinha taxa de 8,97% frente a 8,88% de ontem. Já o DI com vencimento em janeiro de 2015 tinha taxa de 10,19% frente aos 9,82% de ontem. E o contrato com vencimento em janeiro de 2017 teve taxa de 11,05% frente aos 10,69% de ontem.

Em relatório, os economistas Constantin Jancso e Andre Loes, do banco HSBC dizem que as recentes manifestações ocorridas no Brasil são mais uma fonte de incertezas para os investidores. Em relatório, os economistas afirmam que, na semana passada, os protestos pareciam não ser uma questão importante para o mercado. Mas as manifestações podem começar a pesar sobre os preços de alguns ativos daqui para frente, uma vez que podem ser vistas como outra fonte de incertezas sobre as perspectivas no curto e médio prazos para a economia.

"Até o momento, não há sensação de desordem nas cidades brasileiras (embora os protestos causem perturbações ao tráfego já pesado da hora do rush nas grandes cidades), mas as imagens dos protestos (e, particularmente, dos episódios mais violentos) podem pesar no sentimento do investidor, especialmente entre os investidores estrangeiros", avaliam os economistas, em relatório.