Economia

Comerciantes seguram preços, mas ‘cesta básica’ do boteco sobe 13,8% no 1º semestre

Levantamento do GLOBO em 35 bares do Rio mostra que maior variação média entre dez produtos típicos das mesas de bares foi de 18%, na água mineral

Chope 300 ml teve a menor variação entre os produtos pesquisados
Foto: André Teixeira / Agência O Globo
Chope 300 ml teve a menor variação entre os produtos pesquisados Foto: André Teixeira / Agência O Globo

RIO - A inflação está pesando no bolso dos cariocas frequentadores de bares. Os preços da “cesta básica” dos estabelecimentos no Rio de Janeiro subiram em média 13,8% de janeiro a junho deste ano, segundo pesquisa feita pelo GLOBO em 35 bares da capital. A análise dos dados revela ainda que entre 30% e 50% (dependendo do produto) dos comerciantes pesquisados escolheram não repassar os aumentos de preços aos consumidores nestes seis meses, para evitar a fuga da clientela.

Levantamento feito em janeiro havia apontado diferenças de até 330% nos preços com dez dos produtos mais consumidos, segundo frequentadores de carteirinha – água mineral, suco, refrigerante, caipirinha, chope e cerveja; batata frita, frango a passarinho, filé aperitivo e bolinho de bacalhau. Consultando novamente os estabelecimentos pesquisados, foi constatado que a maior média de variação, curiosamente, foi registrada na água mineral (18%); a menor, no chope 300 ml (10%).

— Como é um mercado livre, não nos cabe analisar a estrutura de custos e a política comercial de cada empresa, mas o que percebemos é que quem cobrar excessivamente vai, cada vez mais, perder clientes. As distorções estão sendo punidas pelos consumidores com a ausência — analisa o presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes, Pedro de Lamare, acrescentando que as redes de bares têm capacidade de negociar preços favoráveis com os fornecedores, minimizando o impacto das matérias-primas.

Variações descoladas da inflação oficial

A comparação com dados da inflação oficial (IPCA) mostra que a alta do grupo Alimentação e Bebidas está longe de ser o único fator que ajuda a explicar as mudanças nos preços. Água mineral e refrigerante (que subiu em média 12,2% nos estabelecimentos pesquisados), que são contabilizados no mesmo subitem do IPCA, acumularam 7,16% de alta nos primeiros seis meses do ano.

Segundo fontes ligadas ao setor, como são também de grande demanda no bar, ainda que secundárias por não serem alcoólicas, as duas bebidas às vezes são usadas para compensar a ausência de aumentos significativos em outros produtos. O resultado surpreendeu o presidente do sindicato, que disse desconhecer uma possível estratégia dos comerciantes:

— Não consigo ver motivo para haver essa variação. Nunca ouvi falar de donos de estabelecimentos que usassem os preços das bebidas não-alcoólicas para fazer essa compensação.

Apesar de o contrafilé ter caído 2,28% no período e o filé mignon, 5,8%, segundo o IBGE, o filé aperitivo (iscas de carne geralmente com molho acebolado ou madeira) subiu em média 15,7%; o maior aumento verificado foi de 50,2% e o menor, de 2,5%. Já outro aperitivo clássico dos bares, o frango à passarinho (iscas fritas de frango cobertas de alho torrado e salsinha), teve alta de 15,2%, em média, compatível com o avanço de 16,3% do frango em pedaços, segundo o IPCA.

A laranja-pêra aumentou 3,48% no primeiro semestre, de acordo com os dados do IBGE, mas o suco da fruta ficou em média 11,9% mais caro, sendo o maior aumento de 27,4% e o menor, de 0,8%. A cerveja e a caipirinha, carros-chefes de qualquer bar que se preze, subiram 13,6% (garrafa de 600ml) ou 10% (chope 300ml) e o drinque típico à base de cachaça, 14,7%. No mesmo mesmo período, a inflação oficial da cerveja consumida fora de casa foi de 5,46% e de outras bebidas alcoólicas, -2,95%.

Aluguel comercial subiu até 29% no ano

Com a batata frita, ocorreu o inverso. A alta de 74,2% na batata inglesa não chegou aos bares. O petisco, que dificilmente fica de fora em uma legítima sessão de botecagem, subiu em média 14,9% nos estabelecimentos verificados, sendo a maior variação de 25% e a menor, uma redução de 20%. A explicação, neste caso, seria o uso do produto congelado, que pode ser mantido por meses.

Segundo Pedro de Lamare, outra razão que pode explicar as variações são os chamados custos de ocupação das lojas. Nos primeiros seis meses do ano, segundo dados compilados pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis do Rio de Janeiro (Secovi-Rio) a pedido do GLOBO, os aluguéis comerciais subiram em quatro das seis áreas pesquisadas pela entidade.

O maior avanço foi no bairro de Copacabana, onde o metro quadrado para locação subiu 28,9%, seguido do Centro, com alta de 21,3%, da área de Botafogo e Flamengo, 11,3% e Barra da Tijuca, de 3,9%; nos bairros de Leblon e Ipanema, houve queda de 5,3% e na Tijuca, recuo de 1,2%.

— Há quem esteja deixando o Rio de Janeiro por conta desses aumentos, principalmente as pequenas operações. A conta não está fechando.