Economia Emprego

Como lidar com uma briga entre funcionários

Gestor é responsável pelo engajamento de sua equipe e do clima de sua área

Discussão entre colegas acaba comprometendo o ambiente de trabalho e afeta a produtividade da equipe
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Discussão entre colegas acaba comprometendo o ambiente de trabalho e afeta a produtividade da equipe Foto: Divulgação

RIO - Discussões em alto e bom som são cada vez mais raras no ambiente de trabalho. Mas não significa que não aconteçam. Quase todas as empresas, mesmo as mais mais eficientes, estão sujeitas a ser palco de um confronto entre colegas. E uma briga acaba repercutindo em todo o escritório — em parte, é verdade, pelo fato de os espaços corporativos modernos não terem divisórias ou paredes e não oferecerem privacidade. Além dos danos que causam à carreira dos protagonistas da briga, estes incidentes afetam a concentração e a produtividade dos demais funcionários, além de afastar os clientes.

Essas discussões, segundo Irene Azevedo, diretora de negócios da LHH|DBM, podem gerar inimizades que dificilmente serão desfeitas. E, neste ambiente de pressão por resultados que as corporações vivem, há necessidade de muita colaboração:

— Com este clima de briga, de desconforto, isto será mais difícil. Então, isto significará perda de produtividade, turnover desnecessário etc.

De acordo com artigo publicado pelo The Wall Street Journal, nos Estados Unidos, cerca de 30% dos executivos e funcionários discutem com um colega de trabalho ao menos uma vez por mês, segundo pesquisa recente com mil trabalhadores, realizada pela Fierce Inc., empresa de desenvolvimento e capacitação de líderes especializada em comunicação no trabalho. E uma pequena percentagem dessas “trocas de opinião” acabam se transformando em discussões mais sérias, das quais ninguém sai ganhando, aponta Halley Bock, presidente da empresa.

A executiva de RH Gilliam Florentine viveu um momento de desconforto dessa natureza. Em uma empresa em que trabalhava, ela foi chamada por seus colegas para apartar uma violenta discussão entre funcionários. Passados alguns dias, mesmo depois de o conflito ter sido resolvido, os colegas iam até a sua sala perguntando o que poderiam fazer para que a situação não voltasse a acontecer.

De acordo com Fátima Mangueira, diretora da Mira, empresa de gestão de RH, os departamentos de recursos humanos têm consciência de que, muitas vezes, as pessoas não sabem se comportar no ambiente de trabalho e perdem o controle. Neste caso, afirma a executiva, a atitude do líder deve ser buscar o máximo de transparência nas relações e estimular a prática de discussões sobre o fato ocorrido.

Já para a diretora de negócios da LHH|DBM, a primeira atitude, que é sempre recomendável em qualquer situação em que haja necessidade de um feedback, é o gestor chamar os funcionários envolvidos e pontuar o que observou. O mais importante, diz ela, é também ressaltar qual o impacto que este comportamento gera nos outros e, sobretudo, sugerir uma nova forma de abordagem para estes colaboradores.

— Sempre que se dá um feedback , é necessário se sugerir nova abordagem e se colocar à disposição para ajudar quando necessário.

Segundo Irene, isto pode até implicar que o líder recomende que estes colaboradores conversem depois com cada membro da equipe. Seja qual for a abordagem necessária no momento, o líder não pode deixar de dar um norte, ressalta.

Para evitar que uma situação semelhante se repita, Fátima ressalta que a atitude do líder/gestor deve ser mapear as diferenças e diversidades dos membros da equipe, esclarecendo, na hora, qualquer mal-entendido. Desta forma, não será necessária uma ação maior.

Irene, por sua vez, aconselha que, na primeira conversa após o ocorrido, o gestor marque uma nova data para conversarem e verificarem se a nova abordagem está funcionando, e também poder dar um suporte ao seu funcionário:

— É isto que vai assegurar que a situação não se repita, um acompanhamento! É importante ressaltar que a liderança é responsável pelo engajamento de sua equipe e do clima de sua área. Ela é o maestro que tira o melhor de todos.

Conflitos podem agilizar a solução de problemas

De qualquer forma, os resultados dependem, em parte, de como os participantes lidam com o período após a briga. Em determinados casos, certo grau de conflito é saudável e agiliza a resolução de problemas, afirmam alguns especialistas. Segundo Irene, uma discussão sem ser extremamente acalorada, onde as pessoas consigam colocar seus pontos de vista, é benéfica, sim, pois implica numa oportunidade para todos de se enxergar outras opiniões.

— Pode ser muito rico este momento se os envolvidos tiverem maturidade. E os benefícios poderão ser muitos: mais produtividade, maior envolvimento das pessoas e, sobretudo, a consciência de que nem sempre somos os donos da verdade.

Veja o exemplo de Greg Nance e Han Shao, cofundadores da ChaseFuture, empresa de admissões universitárias e assessoria profissional para estudantes internacionais: recentemente, eles brigaram na frente de três funcionários no escritório da companhia em Xangai. Shao, diretor de finanças, disse a Nance que este estava dedicando muito tempo a seu passatempo favorito, o alpinismo. Por sua vez, Nance, presidente executivo, tinha suas convicções sobre a melhor forma de equilibrar um trabalho intenso, dedicado à captação de fundos, recrutamento de pessoal e marketing, com momentos de tranquilidade para se recompor. Porém, como chefe de operações de uma empresa em ascensão, Shao afirma que “tinha um milhão de projetos a serem feitos e precisava de todos a bordo’’.

“Ambos perdemos a compostura no calor do momento, mas rapidamente nos controlamos, percebendo que nos transformamos num espetáculo no meio do escritório”, reconhece Nance.

Os sócios, então, se retiraram para conversar e, mais tarde, buscaram a assessoria de Sebastian Marshall, consultor para desenvolvimento de executivos. Desde então, realizam reuniões semanais para discutir os assuntos mais conflitantes. Além disso, Nance cancelou duas expedições programadas para passar mais tempo em Xangai. A briga ajudou os dois sócios a retomarem o foco no longo prazo e em seus objetivos mútuos.

Mais reticente, Fátima não acredita que uma discussão ou briga num ambiente de trabalho possa ser vista de forma positiva: sempre existirá consequências negativas.

— Hoje, estimula-se o trabalho em equipe, a construção do bom ambiente no trabalho e bom humor para tudo. Por isso, é preciso ter bom senso. Buscar o controle emocional e deixar claro o seu ponto de vista sem machucar ou ser insensível com a parte envolvida. Isso facilita o diálogo, que é o mais importante no ambiente de trabalho.