Economia

Lucro líquido da Vale cai 84,3% no segundo trimestre, afetado pelo câmbio

Resultado atingiu a marca de R$ 832 milhões, 84,3% abaixo dos R$ 5,3 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior

RIO - O avanço do dólar corroeu o resultado da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo. O lucro líquido da companhia foi de R$ 832 milhões no segundo trimestre do ano, um queda de 84,3% em comparação ao mesmo período do ano passado e de 86,6% em relação ao primeiro trimestre deste ano. O número ficou muito abaixo das projeções de analistas do mercado, que esperavam, na média, um lucro próximo de R$ 6 bilhões. Foi o pior resultado da mineradora desde o quarto trimestre do ano passado, quando apresentou um prejuízo de R$ 5,6 bilhões.

Segundo a Vale, o resultado teve um impacto de R$ 4,172 bilhões relativo ao câmbio e perdas monetárias, efeito do aumento em reais do custo da dívida da empresa em moeda estrangeira. Também influenciaram perdas com swap de moedas (R$ 1,7 bilhão) e marcação a mercado das debêntures participativas (R$ 175 milhões). No segundo trimestre, a taxa de câmbio subiu 10,5%, passando de R$ 2,02 em 1º de abril para R$ 2,23, em 1º de julho de 2013, segundo a empresa informa em seu balanço.

Em vídeo publicado no site da mineradora, Luciano Siani, diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, disse que o câmbio teve impacto pequeno nos custos e despesas da empresa, porque a valorizaçaõ da moeda foi mais acentuada em junho. Ele reconheceu, porém, que houve um “impacto muito grande na dívida” da companhia.

— A dívida da Vale é em sua grande maioria denominada em dólares e, portanto, a desvalorização do real traz um impacto. É uma despesa sem efeito caixa que, pelo contrário, o caixa se beneficia do câmbio desvalorizado. Mas do ponto de vista contábil registramos um lucro menor — disse Siani.

O lucro líquido básico — classificação que a Vale usa desde o quatro trimestre do ano passado para calcular os ganhos desconsiderando itens extraordinários — foi de R$ 5,179 bilhões, uma queda de 28% na comparação ao primeiro trimestre deste ano e de 18,6% ante o mesmo período do ano passado.

Já a receita operacional totalizou R$ 23,373 bilhões, 4,7% acima do primeiro trimestre. O aumento em relação ao trimestre anterior, de acordo com a mineradora, se deve aos embarques mais elevados ocorridos entre os meses de abril a junho em todos os segmentos de negócio (R$ 2,368 bilhões), composto por maiores volumes de bulk materials (R$ 1,768 bilhões), metais básicos (R$ 270 milhões), fertilizantes (R$ 165 milhões) e carga geral (R$ 165 milhões). Os ganhos foram compensados por preços menores (R$ 1,503 bilhão), principalmente de bulk materials (R$ 694 milhões), metais básicos (R$ 368 milhões) e fertilizantes (R$ 46 milhões).

“A participação de bulk materials – minério de ferro, pelotas, manganês, ferroligas, carvão metalúrgico e térmico – na receita operacional foi de 71,3%, em linha com 71,8% no primeiro trimestre. A participação de metais básicos na receita caiu para 15,0% contra 16,3% no mesmo período”, reiterou a empresa em nota.

Os embarques para a Ásia representaram 50,3% da receita total, diminuindo cerca de 51,3% sobre os emses de janeiro a março. A parcela das Américas subiu para 27,3% de 26,1% no primeiro trimestre. Os embarques para Europa representaram 17,7%, resultado ligeiramente abaixo de 18,5% no trimestre anterior. A receita dos embarques para o Oriente Médio foi 3,3% da receita total e o resto do mundo contribuiu com 1,4%.

Menos minério e preços mais baixos

Em relatório divulgado nesta quarta-feira, após o fechamento do mercado, a Vale informou que a produção de minério de ferro teve uma aumento de 8,4% na comparação ao período de janeiro a março, para 73 milhões toneladas. O avanço contribuiu apenas parcialmente para compensar a queda do preço do minério de ferro, como esperava uma parte dos analistas. A receita operacional foi de R$ 23,4 bilhões, uma queda de 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

— A companhia vem sustentando resultados mesmo com ambiente mais desafiador, com a desaceleração da China e a queda de preços de algumas commodities, graças a esforço interno de se teornar uma companhia mais eficiente e competitiva. E dessa forma vamos conseugir continuar crescendo no futuro — disse Siani.

A produção de cobre, ouro e carvão alcançou o recorde histórico de 91.300 toneladas, 63.000 oz e 2,4 Mt, respectivamente, enquanto a produção de níquel se manteve estável em 65.000 toneladas, o seu melhor segundo trimestre desde 2T08. Salobo seguiu com sucesso o processo de ramp-up e começou a gerar caixa em junho.

Custos

Comparando com o segundo trimestre do ano passado, a Vale afirmou que os custos e despesas, líquidos de depreciação, mostraram uma redução material entre os meses de abril e junho deste ano, “com economias de R$ 1,580 bilhão, ao mesmo tempo em que os custos e despesas no primeiro semestre de 2013 foram de R$ 1,920 bilhão, abaixo do primeiro semestre do ano anterior”.

“Este ano, a redução de custos e despesa tem sido uma fonte importante de melhora no nosso desempenho financeiro. No entanto, como temos enfatizado algumas vezes, este é um processo longo e depende de persistência e paciência”, disse em nota.

Apoiado pelo corte de custos, o Ebitda ajustado permaneceu estável em US$ 10,2 bilhões no primeiro semestre do ano, reduzindo apenas US$ 304 milhões ano a ano, apesar da queda de US$ 2,1 bilhões na receita causada principalmente por preços mais baixos.

A dívida total chegou a US$ 29,9 bilhões e era de US$ 30,2 bilhões no final do primeiro trimestre de 2013, “apesar de termos pago US$ 2,25 bilhões em dividendos e investido US$ 3,6 bilhões no segundo trimestre de 2013, o que contribuiu para manter a alavancagem financeira em 1,6 vezes o Ebitda ajustado dos últimos doze meses — um nível baixo para o atual estágio do ciclo”.