Economia

Primeira parcela do 13º deve ser usada para pagar dívidas, dizem especialistas

Responsável por injetar R$ 143 bilhões na economia brasileira, abono de fim de ano tende a ser um alívio para o bolso, mas é preciso usá-lo com cautela
Planejamento financeiro Foto: MAURICE TSAI / BLOOMBERG NEWS
Planejamento financeiro Foto: MAURICE TSAI / BLOOMBERG NEWS

RIO - Os empregadores têm até hoje para pagar a primeira metade do décimo terceiro salário, que será responsável por injetar R$ 143 bilhões na economia brasileira neste ano, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estudos SócioEconômicos (Dieese). O abono tende a ser um alívio para o bolso de muitos brasileiros: a estimativa do Dieese é de que mais de 82 milhões de brasileiros terão que equilibrar as dívidas para não começar 2014 no negativo. Nos primeiros meses de 2014, chegam as despesas com material e matrículas escolares, e os obrigatórios IPTU e IPVA.

Analistas afirmam que é preciso usar o décimo terceiro com cautela. A decisão de como investir o montante recebido deve ser analisada caso a caso, dependendo do nível de endividamento de cada um.

Se a situação estiver grave, em vez dos presentes de Natal, o dinheiro extra deve ser empregado para pagar dívidas ou utilizado para aliviar o impacto das despesas que costumam pressionar o orçamento familiar depois do Ano Novo, afirmam especialistas.

Segundo o coordenador do MBA de finanças do Ibmec Business School, Roberto Zentgraf, para aqueles que não estão com situação financeira confortável, é preciso fazer uma lista de tudo o que se tem para pagar - além das despesas futuras obrigatórias - e utilizar apenas uma parte do décimo terceiro para as compras de fim de ano reservando um bom montante para janeiro.

- A palavra chave é orçamento. Para quem já está com problemas de inadimplência e tem pagamentos de cartão de crédito a realizar, não tem o que fazer, tem que zerar estas dívidas mesmo que signifique um Natal mais magro. O indivíduo tem que evitar ao máximo começar o ano herdando as dívidas do ano anterior. Quanto mais dívida, menos sobra para gastar. Aí as despesas aumentam porque surgem os juros.

Palavra de ordem: planejamento financeiro

- Planejar, planejar e planejar! Este é o segredo para não ficar em apuros - afirma Paulo Brito, gestor de Câmbio da HPN Invest.

Com o décimo terceiro e outras rendas extras na mão (em muitos casos, além do salário, muitos recebem bônus por performance, participação nos lucros e outros benefícios), o mais prudente é negociar descontos à vista. Em determinados casos, vale a pena pedir crédito ao banco no valor das compras, desde que as prestações sejam inferiores às parcelas. Se tiver dinheiro em espécie, a melhor alternativa é o pagamento à vista (neste caso, vale ainda pedir descontos).

Se não houver outra alternativa e o cartão de crédito for a sua escolha, evite parcelas com juros. Se a compra for a prazo, tem de ficar de olho sobre todas as condições da operação – informando-se sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o Custo Efetivo Total (CET), que deve incluir, além dos juros, os demais encargos cobrados. Também não aceite acréscimo do valor do produto e antes de digitar a senha verifique se o preço é aquele combinado. Se a loja impor um valor maior, denuncie ao Procon.

Anote - ou guarde - todas as informações possíveis sobre os produtos comprados e as datas de validade das garantias se forem pagos com cheques pré-datados. Embora não pareça, o cheque é um meio de pagamento à vista e, portanto, assim que apresentado ao banco, será descontado.

Para quem recebeu a renda extra de final de ano e está realmente decidido a gastar, o interessante é deixar o cheque e o cartão de crédito de lado e realizar as compras a vista. Assim, terá maior poder de barganha nos descontos no pagamento. É importante comprometer apenas a renda extra, essa é a melhor maneira de não sofrer com dívidas no futuro. O cartão de crédito, se não for usado com consciência, pode ser um grande vilão e criar uma bola de neve, analisa Brito da HPN. Segundo ele, uma boa alternativa é buscar presentes que possuam valor sentimental para fugir dos artigos mais caros.

- Os gastos de fim de ano normalmente costumam ser um pouco maior do que deveriam, pois é nesta época que as pessoas costumam receber valores extras de renda. Uma forma interessante de não deixar o Natal e Ano Novo passarem “em branco” sem esquecer as dívidas é buscar alternativas de presentes que tenham um valor sentimental agregado, o que não significa que deva ser caro. Um presente que traz um gesto de carinho às vezes pode surpreender até mais do que o presente caro – diz Brito.

Gastos do começo do ano

Após os gastos com as compras e as festas do fim de ano e a quitação das dívidas feitas em 2013, aquela reserva do décimo terceiro vai para os gastos obrigatórios dos primeiros meses do novo ano. O planejamento financeiro, mais uma vez, acaba sendo um ótimo aliado na redução do peso dos gastos com os impostos como IPTU e IPVA, as matrículas de escolas, cursos e faculdades e as eventuais compras de material escolar.

- Se programar e começar o ano sabendo exatamente quanto dinheiro você vai precisar para honrar estes gastos de inicio de ano é importantíssimo para que não se perca o controle dos gastos. Fazer uma planilha é o mais indicado para que se tenha um controle mais amplo dos custos. – diz Brito.

Quem não tem carro, ainda não tem filhos e nem terá as despesas com impostos comuns no começo do ano deve pensar em fazer uma reserva para o futuro e evitar os gastos imediatos, mesmo que a preços generosos. O ideal, diz Zentgraf, é guardar o dinheiro extra para algo especial.

- Fazer compras com preços generosos é sempre convidativo mas o “deixa para depois” é o problema da maioria dos consumidores. O melhor presente para qualquer brasileiro é entrar em 2014 sem dívidas. Se está sobrando dinheiro, o indivíduo deve pensar em deixar na poupança e pensar que isso pode ser o começo de uma nova, para chegar no fim do ano com dinheiro extra. – afirma Zentgraf.

Ajuda com finanças pessoais

Para ajudar os leitores a organizar o planejamento, o GLOBO possui uma série de serviços em seu site. Entre elas, a seção “ Pergunte aos especialistas ”, um tira-dúvidas personalizado sobre finanças pessoais, em parceria com o Ibmec/RJ.

Além das dúvidas sobre os gastos de fim de ano e as despesas no início de 2014, os professores do instituto podem responder questões sobre investimentos, orçamento doméstico, crédito e endividamento, entre outros temas relacionados a finanças pessoais. Será preciso apenas acessar o link www.oglobo.com.br/pergunteaosespecialistas, fazer o login no site do GLOBO e enviar sua pergunta. O leitor será avisado por e-mail quando sua resposta estiver disponível.