Economia

Reunião entre Obama e republicanos na Casa Branca termina sem acordo

Mais cedo, reportagem do 'NYT' afirmava que presidente americano havia rejeitado a proposta da oposição para aumentar o limite de endividamento

WASHINGTON - O presidente dos EUA, Barack Obama, e republicanos não conseguiram alcançar um acordo para elevar provisoriamente por seis semanas o limite de endividamento do Executivo, após uma reunião na Casa Branca. Os dois lados, no entanto, concordaram em continuar negociando, e a proposta dos republicanos foi recebida como o primeiro passo concreto para encerrar o impasse que ameaça levar o país ao default. Mais cedo, a proposta levou euforia às Bolsas. O mercado americano teve o melhor pregão desde janeiro, com os índices Dow Jones e S&P 500 saltando 2,18%, cada; e o Nasdaq, 2,26%.

Vinte republicanos, liderados pelo presidente da Câmara, John Boehner, foram à Casa Branca a convite de Obama, onde apresentaram os detalhes da proposta, que previa elevar a autoridade do Departamento do Tesouro de financiamento para pagar as obrigações do Executivo até o dia 22 de novembro. Em troca, esperavam do presidente americano o compromisso de negociar um acordo de redução do déficit fiscal a longo prazo e uma reforma tributária. Boehner e demais republicanos deixaram a Casa Branca após uma hora e meia de negociação, sem falar com a imprensa.

“O presidente teve uma boa reunião com membros da liderança republicana da Câmara esta noite. O encontro durou aproximadamente uma hora e meia. O presidente, o vice-presidente, Joe Biden, o secretário do Tesouro, Jacob Lew, o chefe de Gabinete, Denis McDonough, e seu vice, Rob Nabors, ouviram a proposta dos republicanos. Após uma discussão sobre potenciais avanços, nenhuma determinação foi tomada. O presidente espera fazer contínuo progresso com membros dos dois lados em impasse”, disse a nota da Casa Branca.

Até esta quinta-feira, os republicanos estavam condicionando aprovar a elevação do teto da dívida ao adiamento da reforma da saúde, chamada Obamacare. Com o impasse, o governo ficará sem caixa para honrar suas dívidas a partir do dia 17 de outubro.

Mais cedo, a notícia de que republicanos e democratas, enfim, estavam conversando sobre uma proposta concreta, ainda que de curto prazo, levou euforia aos mercados.

— O que isso significa é abrir uma porta para a discussão e negociação, quando antes o que havia eram dois lados se acusando — disse Peter Jankovkis, diretor-chefe de Investimentos do OakBrook Investments, em Lisle, Illinois.

Ao sair da reunião na Casa Branca, o deputado republicano Paul Ryan confirmou que o clima ainda era de indefinição:

- O presidente não disse nem sim, nem não. Vamos continuar a negociar nesta noite.

Segundo reportagem do "NYT", a Casa Branca e parlamentares democratas continuavam céticos em relação à possibilidade de aprovação da proposta entre os republicanos, por causa da influência do grupo conservador Tea Party, que rejeitam qualquer aumento do limite da dívida. Além disso, democratas da Câmara não estariam dispostos a apoiar o projeto, a menos que o acordo fosse acompanhado da aprovação do Orçamento.

Emergentes criticam pessimismo do FMI

Na Europa, os sinais de avanço nas negociações para evitar o abismo fiscal americano também animaram os investidores. Londres subiu 1,4%; Paris, 2,1%; e Frankfurt, 2%. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, seguiu o otimismo dos mercados externos e se valorizou, mas num ritmo mais contido, avançando 0,85% aos 52.996 pontos e volume negociado de R$ 6,2 bilhões. Segundo especialistas, a alta da taxa básica de juro (Selic) de 9% a 9,5% e a possibilidade de que a Selic suba novamente em novembro travaram uma valorização mais expressiva do Ibovespa.

Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Mundial (Bird), Jim Yong Kim, alertou que as economias emergentes devem aproveitar os próximos dois ou três meses para acelerar reformas e se preparar para o início da redução do programa de estímulos à economia americana, que tem potencial de causar turbulência e alterar o cenário externo do qual se beneficiaram nos últimos anos. Kim avalia que as incertezas nos EUA — quanto ao desempenho da economia e à solução do impasse fiscal — devem levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a postergar o aperto da política monetária.

Já a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, sugeriu que os emergentes devem se preparar para um período prolongado de ajustes em consequência da mudança do rumo monetário nos países ricos. Isso porque não apenas os EUA deverão inverter o curso, como União Europeia (UE) e Japão, em algum momento, começarão a desmontar as políticas desenhadas para lidar com a fase aguda da crise.

As instituições realizam nesta semana sua reunião de cúpula anual. Kim e Lagarde não fizeram recomendações diretas ao Brasil. Mas o corpo técnico do FMI já receitou que o país deixe o real se desvalorizar frente ao dólar, mantenha o aumento dos juros para combater a inflação, inicie reformas fiscais, com atenção especial à diminuição da dívida pública, e remova gargalos à infraestrutura, de forma a reanimar os investimentos privados e retomar crescimento mais acelerado. Tanto em 2013 quanto em 2014, o FMI projeta expansão de 2,5% para o Brasil.

Os países do Brics (Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul), porém, consideraram a visão do FMI excessivamente pessimista. Segundo o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Cozendey, o tema dominou parte da reunião do grupo, paralela ao encontro anual do FMI e do Bird. De outro lado, de acordo com o secretário, os países que formam o G-20 ainda apostam numa solução para o impasse político nos EUA, mas as 20 maiores economias do planeta já discutem a hipótese de calote:

— Como disse a Lagarde, esperamos que daqui a duas semanas a gente diga “que bobagem foi ficar discutindo aquilo”.

E o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse à agência Reuters que uma redução gradual do programa de estímulos do Fed já está na conta do mercado, mas novos desequilíbrios na economia mundial devem ocorrer quando os EUA voltarem a subir juros.

— Se (os EUA) anunciarem: “nós vamos diminuir US$ 10 bilhões por mês, em vez de US$ 85 bilhões, serão US$ 75 bilhões”, certamente uma decisão como essa, a meu ver, tende a não ter efeito nenhum — disse Mantega. — Não estamos falando de enxugamento da liquidez internacional, estamos falando de uma expansão (monetária) menor.