Economia

BC intervém, mas dólar volta a subir frente ao real e vale R$ 2,13

Pela manhã, moeda bateu em R$ 2,15, mesmo após governo zerar IOF de 6% para investimento estrangeiro em renda fixa

SÃO PAULO — Em dia de instabilidade no mercado de câmbio, o dólar comercial mantém a trajetória de alta frente ao real, mesmo com uma nova intervenção do Banco Central e um dia após o governo zerar a alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimento estrangeiro em renda fixa. Por volta de 15h, a moeda era negociada a R$ 2,129 na compra e R$ 2,131 na venda, uma alta de 0,09%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quarta-feira que a redução do IOF é uma medida de longo prazo, o que segundo analistas, fez o dólar retomar a tendência de alta frente ao real. Já a presidente Dilma Rousseff afirmou que o “Brasil não tem medida nenhuma para segurar o dólar”, o que também pressionou a moeda para cima.

Especialistas em câmbio ouvidos pelo GLOBO avaliam que o fim do IOF alterou a perspectiva futura para a moeda, que deve cair para um nível entre R$ 2,00 e R$ 2,05 nas próximas semanas. Mas o quadro atual continua sendo de demanda mais forte pelo dólar, tanto no Brasil quanto no exterior, o que pressiona a moeda.

O dia começou com o dólar em queda expressiva de 2%, atingindo a mínima de R$ 2,088 logo depois da abertura dos negócios. Mas a moeda passou a se valorizar até atingir a cotação máxima de R$ 2,150 pouco depois das 11h. Para deter a valorização, o BC realizou um leilão de contratos de swap cambial, pouco depois das 12h, operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Foram ofertados até 40 mil contratos, o que corresponde a uma oferta total de cerca de US$ 2 bilhões. Desse total, foram vendidos US$ 1,3 bilhão.

A intervenção surtiu efeito temporário: logo após o leição a moeda americana caiu ao patamnar de R$ 2,12. Mas por volta de 13h10 retomou a trajetória de alta e estava sendo negociada a R$ 2,130 na compra e R$ 2,132 na venda, uma alta de 0,14%.

Para o sócio da corretora de câmbio NGO, Sidnei Nehme, a retirada do IOF deve começar a surtir efeito sobre a cotação do dólar em no mínimo três semanas.

- É natural essa volatilidade vista hoje. A medida do governo altera a perspectiva futura para a moeda, que passa a ser de queda. Quando crescer o fluxo de recursos estrangeiros na renda fixa, acredito que a cotação do dólar vá buscar um ponto de equilíbrio neutro para a inflação, entre R$ 2,00 e R$ 2,05. Isso deve acontecer em três semanas. Além disso, os fundos de investimento nacionais estão comprados no mercado futuro em US$ 20 bilhões, por isso eles resistem. Se o dólar cai, eles perdem. Bancos e investidores estrangeiros estão vendidos em dólar futuro, e para eles, haverá ganho se o dólar ceder - explica o especialista.

No jargão do mercado financeiro, estar ‘comprado’ em dólares no mercado futuro significa apostar na alta da moeda. Já os investidores que têm posições ‘vendidas’ acreditam que a tendência da moeda americana é de desvalorização.

De acordo com uma estimativa preliminar dos economistas do Itaú Unibanco, a retirada do IOF pode atrair até US$ 2,5 bilhões por mês ao Brasil. Segundo relatório do banco, nos próximos dias, o real deve voltar a se apreciar. Com isso, os economistas do Itaú esperam que o dólar volte ao patamar de R$ 2,05, ficando neste nível ao longo do ano.

Ao atrair mais dólares para o país com a retirada do IOF de 6% das aplicações de estrangeiros em renda fixa, a pressão de alta sobre a moeda é reduzida, evitando-se repasses para a inflação. Isso porque com a moeda americana em alta, as importações de matérias-primas e produtos encarecem e acabam tendo impacto nos preços. Na sexta-feira passada, a moeda americana fechou na maior cotação dos últimos quatro anos, vendida a R$ 2,14. Ontem, o dólar atingiu a cotação de R$ 2,15, na máxima do dia, mas recuou no final do pregão e fechou negociado a R$ 2,12. Especialistas avaliavam que o dólar poderia rapidamente ficar acima dos R$ 2,15, considerado o teto informal da banda de flutuação da moeda pretendida pelo Banco Central. Alguns, apostavam num dólar entre R$ 2,20 a R$ 2,40 no curto prazo.

- Essa iniciativa é oportuna e, combinada com o ajuste da política monetária em curso, deve impactar de forma favorável a leitura do mercado, sobretudo investidores estrangeiros, sobre a condução da política econômica no País, no sentido de menor intervencionismo do governo. Vemos, portanto, a retirada do IOF como o início de uma possível releitura positiva do mercado sobre as oportunidades de investimentos no Brasil - escrevem em relatório os economistas do Banco Bradesco.

Analistas já vinham defendendo o fim do IOF sobre aplicações em renda fixa de estrangeiros para aliviar a pressão sobre a moeda estrangeira. Para eles, esta era uma distorção no mercado de câmbio, que afastava o investidor estrangeiro de curto prazo. Além disso, para os especialistas, os leilões de swap cambial tradicional, que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro, não tinham força para conter a escalada do dólar num cenário de valorização global da moeda americana.

- O quadro das contas externas tende a piorar, o que trará mais pressão altista para o dólar. Sem o IOF, a tendência é que mais dólares cheguem ao país, ajudando a financiar o déficit em conta corrente - afirma Nehme.

O dólar vem se valorizando no exterior frente a outras moedas, como o dólar canadense e australiano, o rand sul-africano e o peso chileno. A divisa passou a subir com a perspectiva de que os EUA encerrem em breve o programa de estímulos à economia, através da compra de títulos. Isso porque a economia americana já estaria em ritmo de recuperação consistente. Na prática, o fim do estímulo significará menos dólares no mercado. No cenário doméstico também há fatores que pressionam a alta da moeda. Entre eles, estão exportações em queda, importações em alta e queda do fluxo de recursos estrangeiros para o país.

Para Ítalo Abucater, especialista em câmbio da Icap Brasil, o aumento do juro dos títulos americanos - a taxa dos papéis de dez anos subiu de 1,6% para 2,1% nas últimas quatro semanas - voltou a atrair parte do capital estrangeiro para os EUA neste momento. Por isso, a isenção do IOF é recebida com euforia, mas a simples mudança de regra não altera o quadro imediatamente.

- Na Bolsa, houve isenção de IOF para os estrangeiros e, na prática, há saída de capital externo e o Ibovespa cai. Essa perda de atratividade do estrangeiro pelo Brasil é resultado do que plantamos, com o intervencionismo do governo. O câmbio vinha sendo usado como instrumento para conter a inflação. O Banco Central faz a moeda americana flutuar entre bandas. E nos derivativos, no mercado futuro de dólar, ainda há o IOF de 1%, o que continua pesando da decisão do investidor estrangeiro de vir para o Brasil - diz Abucater.

O ministro Guido Mantega disse que a medida não tem como objetivo conter a inflação, que está próxima do teto de 6,5% fixado pelo governo. Mas os analistas afirmam que, além do aumento da taxa básica de juro de 7,5% para 8%, conter a escalada do dólar ajuda a segurar a inflação.

Ibovespa tem dia volátil

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentou volatilidade no início da manhã, mas se fixou no campo positivo no início da tarde. Por volta das 13h13m, o índice caía 1,62% aos 53.141 pontos e volume negociado de R$ 3,4 bilhões. A maior alta é apresentada pelos papéis ON da Rossi Residencial, com perda de 1,68% a R$ 3,63. As maiores quedas são apresentadas por papéis de siderúrgicas. As ações ON da Usiminas têm a maior perda, com desvalorização de 5,76% a R$ 8,83 e Usiminas PNA com perda de 5,13% a R$ 8,69.

O fim do IOF nas aplicações de renda fixa para estrangeiros também tem impacto nos contratos de juros futuros. Na BM&F, o contrato de DI para janeiro de 2015 cai de 8,94% para 8,90%. O DI com vencimento em janeiro de 2016, passa de 9,35% para 9,25% e o papel com vencimento em janeiro de 2017 recua de 9,62% para 9,49%, movimentando R$ 4,136 bilhões. Os contratos com vencimento em janeiro de 2014 estão estáveis em R$ 8,43%. Além disso, dados econômicos da China e dos EUA também influenciam o mercado de juros futuros.

Na China, o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços da China subiu para 51,2 pontos em maio, de 51,1 pontos em abril, de acordo com dados divulgados pelo instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o HSBC. E nos Estados Unidos, o número de vagas criadas pelo setor privado atingiu 135 mil em maio, abaixo dos 157 mil novos empregos estimados por analistas. Em abril, foram criadas 119 mil novas vagas. Com o resultado abaixo do esperado, as apostas na redução de estímulos à economia pelo Federal Reserve nos devem diminuir.

Nos EUA, os principais índices acionários estão em queda. O S&P 500 perde 0,82%; o Dow Jones se desvaloriza 0,74% e o Nasdaq tem baixa de 0,80%.

Na Europa, as Bolsas estão erm queda. O índice Ibex, da Bolsa de Madri, perde 0,85%; o Dax, do pregão de Frankfurt, tem queda de 0,99%; o Cac, da Bolsa de Paris, recua 1,59% e o FTSE, do pregão de Londres, cai 1,90%. A agência de estatísticas europeia Eurostat confirmou nesta quarta-feira sua estimativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro recuou 0,2% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores.