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EUA elogiam acordo, mas estão preparados para agir se diplomacia falhar, afirma Obama

Kerry e Lavrov fecharam acordo sobre armas químicas na Síria

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, cumprimentam-se após fecharem acordo sobre a crise na Síria
Foto: LARRY DOWNING / AP
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, cumprimentam-se após fecharem acordo sobre a crise na Síria Foto: LARRY DOWNING / AP

GENEBRA E WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu neste sábado que a Síria vai ser responsabilizada se não cumprir a promessa de entregar armas químicas, ao responder questões sobre como o acordo mediado por EUA e Rússia seria aplicado.

Em comunicado, Obama disse que a medida foi uma ação concreta, um importante passo para colocar as armas químicas da Síria sob controle internacional para que, finalmente, sejam destruídas. O acordo surgiu a partir de conversas entre o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.

- Embora tenhamos feito progressos importantes, muito mais precisa ser feito - disse Obama.

O presidente americano tem sido criticado pela atuação em relação à Síria, enviando mensagens confusas. Primeiro, levou as forças americanas à beira de uma ofensiva após um ataque com gás venenoso ser detectado na Síria em agosto. Washington responsabilizou o presidente sírio, Bashar al-Assad, e considerou que o regime havia “cruzado a linha vermelha”. Depois, pediu aval do Congresso para, menos de uma semana depois, solicitar adiamento da votação e dar mais tempo à diplomacia.

Obama agora enfrenta questões sobre como o acordo diplomático sírio será aplicado, após altos funcionários do governo dos EUA terem dito na véspera que não vão insistir que o uso da força militar seja incluída entre as conseqüências se a Síria desrespeitar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que está sendo negociada.

- Sem a ameaça de força, não está claro para mim como o cumprimento da Síria será possível de acordo com os termos de qualquer acordo - disse o senador republicano Bob Corker.

Em seu comunicado, Obama reforçou que os EUA "continuam preparados para agir" se os esforços diplomáticos falharem.

Acordo em Genebra

A Rússia e os EUA anunciaram neste sábado que chegaram a um acordo de seis pontos sobre a crise na Síria. O anúncio feito pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, estabelece que a Síria terá de entregar em uma semana informações sobre seu arsenal de armas químicas para evitar um ataque.

- Os EUA e a Rússia concordaram que não há solução militar. A solução tem que ser política - disse Kerry. - Não há espaço para jogos. Ou nada menos do que a plena conformidade do regime de Assad.

Se a Síria não cumprir os procedimentos para eliminar suas armas químicas, a ameaça de uso de força será incluída em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza ações punitivas. Mas Lavrov deixou claro que a Rússia, que detém poder de veto no Conselho de Segurança, não retirou suas objeções ao uso da força.

- Nós temos o compromisso de impor medidas sob o Capítulo 7 do Conselho de Segurança das Nações Unidas - afirmou Kerry. - Se totalmente implementado, este acordo pode proporcionar maior proteção e segurança para o mundo.

O Capítulo 7 da Carta da ONU deixa em aberto a possibilidade de o Conselho de Segurança considerar o uso da força, se a Síria não cumprir o acordo.

Os Estados Unidos e a Rússia também chegaram a uma avaliação conjunta sobre a quantidade e o tipo de armas químicas possuídos pelo regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, um pré-requisito essencial para qualquer plano internacional para controlar e destruir as armas. Segundo o secretário de Estado, inspetores internacionais chegarão no país em novembro e a destruição das armas químicas deve acontecer até meados de 2014.

Antes disposta a se engajar em uma solução militar contra a crise, a França abraçou o acordo. O Ministro das Relações Exteriores do país, Laurent Fabius, o classificou como um "importante avanço". Mas nem todos estão satisfeitos: o líder militar do Exército Livre da Síria rejeitou o plano e prometeu continuar lutando.

- Não há nada neste acordo que tenha relação conosco - disse Salim Idriss, descrevendo-o como uma iniciativa russa planejada para ganhar tempo para o governo sírio.

Enquanto caminhos diplomáticos eram discutidos, aviões sírios atacaram subúrbios de Damasco controlados por rebeldes, e forças do governo entraram em conflito com insurgentes nas linhas de frente, segundo relatos de moradores e oposicionistas.

Os seis pontos definidos no acordo são:

1) A quantidade e o tipo de armas químicas devem ser detalhadas e "rapidamente" colocadas sob controle internacional.

2) A Síria deve apresentar dentro de uma semana uma lista detalhada de seus estoques

3) Procedimentos extraordinários sob os termos da Convenção de Armas Químicas permitirão a "destruição rápida" do arsenal.

4) A Síria deve conceder aos inspetores "o acesso irrestrito imediato" a todos os locais

5) Todas as armas químicas devem ser destruídas, incluindo a possibilidade de remoção de armas do território sírio

6) A ONU vai fornecer apoio logístico, podendo recorrer aos termos do Capítulo VII