Economia

Um sonho à deriva no Porto do Açu

OSX, de Eike, reduz projeto e afeta emprego e renda em São João da Barra
Porto do Açu: São João da Barra começa a contabilizar perdas Foto: Terceiro / Agência O Globo
Porto do Açu: São João da Barra começa a contabilizar perdas Foto: Terceiro / Agência O Globo

CAMPOS - O município de São João da Barra, no Norte Fluminense, local onde Eike Batista escolheu para montar um complexo industrial e portuário, ansiava por um choque positivo em sua receita com a entrada em operação do Porto do Açu. Só que agora, com a OSX naufragando, a cidade começa a contabilizar perdas. O secretário de Fazenda do município, Ranulfo Vidigal, estimou em R$ 36 milhões este ano a queda de arrecadação de impostos (como o ISS) gerados pelo canteiro de obras do complexo.

O secretário de Fazenda estima que 1.800 postos de trabalho foram fechados no Açu. Mas o número pode ser maior, pois só em agosto uma única empresa, a espanhola Acciona, demitiu 1.500 trabalhadores diante da decisão da OSX de reduzir drasticamente o projeto do estaleiro, que fazia parte do complexo. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), São João da Barra perdeu 1.117 vagas formais até setembro.

O antes frenético acesso ao Porto do Açu, com filas quilométricas de caminhões para descarregar pedras, areia, cimento, equipamentos e outros insumos, hoje é um retrato de tédio, e, quando existe fila, é de credores. Mesmo assim, o município continua acreditando em parte do projeto, com a mudança na administração da LLX, outra empresa criada por Eike, que faz a logística do porto.

Investimento de US$ 3,8 bilhões

Hoje, a LLX está sendo administrada pela americana EIG, que estuda mudar o nome da empresa. Deixaria de se chamar LLX, trocando o nome para Açu Logística. Caso a mudança se concretize, repetirá, assim, o mesmo que fez o grupo alemão E.ON. que, quando assumiu o controle acionário da empresa de energia MPX, se livrou da marca X, adotando o nome de Eneva.

O investimento inicial do Porto do Açu era estimado em R$ 3,8 bilhões. Até o inicio deste ano tudo parecia bem, mesmo com as empresas chinesas que alavancaram o projeto desistindo de se instalar no local. O epicentro da crise no Açu foi o fim do estaleiro da OSX, que iria construir plataformas de petróleo e também serviria como uma espécie de oficina offshore. Agora, comenta-se no complexo que a OSX deve seguir o mesmo caminho da OGX, pedindo recuperação judicial.

Foi exatamente devido à falta de fôlego da OSX que as economias de São João da Barra e de Campos, ambas no Norte Fluminense, começaram a ficar sem oxigênio. A rede hoteleira, o mercado imobiliário e o comércio sentiram os efeitos da desmontagem de um projeto considerado redentor não só para a região, mas para a economia brasileira.

Em 2011, São João da Barra chegou a ocupar a 18ª posição no ranking de geração emprego e renda da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), mas despencou este ano para o 34º lugar. O recolhimento de ISS, que em 2006 era de R$ 1,18 milhão e que em 2011 subiu para R$ 12,7 milhões, dá sinais de que vai recuar este ano.

Sem exposição agropecuária

Os investimentos em São João da Barra em restaurantes e pousadas foi expressivo, e as escolas da rede municipal chegaram a incluir o mandarim em sua grade escolar, na expectativa de que o município iria interagir com os chineses, que tinham um leque de projetos para o lugar. Hoje, com o cofre magro, São João da Barra não vai realizar neste mês a sua tradicional Exposição Agropecuária, Industrial e Turística, por falta de recursos. No ano passado, o município tinha inaugurado um dos maiores parque de exposição do estado.

Uma imensa faixa de terra foi desapropriada no 5º Distrito de Cajueiro, que permite acesso ao Açu. Foram retirados dezenas de pequenos lavradores, que tentaram resistir, com protestos bloqueando estradas. Nesta área, a Codin pretendia construir um distrito industrial, onde seriam instaladas empresas no entorno do porto. Mas o futuro deste distrito é incerto.