Economia

Mundo ainda tem 168 milhões de crianças que trabalham, diz estudo da OIT

Número caiu 33% em relação ao ano 2000, mas ritmo de redução não é suficiente para atingir meta de erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016

Trabalho infantil diminuiu mas nem em 2020 meta de erradicação das piores formas de trabalho será atingida, aponta OIT. Na foto, criança trabalha em uma fábrica de tijolos em Peshawar, no Paquistão
Foto: Simon Lim/Bloomberg News
Trabalho infantil diminuiu mas nem em 2020 meta de erradicação das piores formas de trabalho será atingida, aponta OIT. Na foto, criança trabalha em uma fábrica de tijolos em Peshawar, no Paquistão Foto: Simon Lim/Bloomberg News

RIO – Cerca de 11% do total da população infantil no mundo realizam algum tipo de trabalho, alerta o relatório “Medir o progresso na Luta contra o Trabalho Infantil”, divulgado nesta segunda-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). São 168 milhões de crianças que precisam trabalhar para   complementar a renda da sua família, comprometendo o seu futuro e o desenvolvimento econômico de suas nações. Em relação ao ano 2000, o número de crianças trabalhando caiu 33% no grupo entre 5 e 17 anos.

A situação é considerada alarmante para 85 milhões de crianças, que estão dentro do grupo exposto a trabalhos considerados perigosos. Apesar de o número ser alto, a maior parcela de crianças envolvidas em situações extremas de trabalho foi reduzida à metade durante o último período de 12 anos, quando somavam 171 milhões.

No entanto, o ritmo de redução não é suficiente para alcançar o objetivo de eliminar as piores formas de trabalho infantil para 2016, meta pactuada pela comunidade internacional, alerta a entidade. E nem para 2020, ano em que, segundo projeção do organismo, pelo menos, 107 milhões de crianças estarão trabalhando, sendo 50 milhões no grupo que realiza trabalho considerado perigoso.

- Estamos nos movendo na direção correta, mas os progressos ainda são muito lentos. Se realmente queremos acabar com o flagelo do trabalho infantil no futuro próximo então é necessário intensificar os esforços em todos os níveis. Existem 168 milhões de boas razões para fazê-lo - declarou o Diretor Geral da OIT, Guy Ryder.

Apesar de, oficialmente, a soma de crianças no trabalho infantil chegar a 168 milhões, o número de indivíduos no grupo etário de 5 a 17 anos que realiza qualquer atividade econômica soma 264 milhões, ou 17% do total. Ou seja, 96 milhões de crianças encontram-se ocupadas em algum tipo de produção comercial ou não comercial (principalmente a produção de bens e serviços para consumo próprio).

Aqui, estão incluídos aqueles de atividades que não entram na categoria trabalho infantil, mas que possuem indivíduos entre 5 e 17 anos trabalhando em empregos permitidos para determinada faixa etária (no Brasil, a partir dos 14 anos, é permitido o trabalho como aprendiz e, a partir dos 16, é permitido desde que não seja perigoso) e por poucas horas.

Quanto mais pobre, pior

Pela primeira vez, as estatísticas da OIT apresentaram a parcela da população em trabalho infantil de acordo com o nível de rendimento de cada país. Sem surpresas, o cruzamento de dados mostrou que, quanto mais pobre é o país em análise, proporcionalmente, a população de crianças trabalhando tende a ser maior.

Cerca de 23% (74.394 do total de 330.257 de crianças) estão trabalhando em países de baixos rendimentos. Essa quantia é bem menor nas outras regiões, girando em torno de 9% (81.306 do total de 902.174) nos países de renda média e atingindo 6% (12.256) do total de 197.977 do grupo de 5 a 17 anos que vivem em nações de rendimento médio alto. Proporcionalmente, o risco de trabalho infantil é o mais elevado para as crianças na África Subsaariana, onde uma em cada cinco crianças está no trabalho infantil.

Porém, em termos absolutos, o quadro se inverte. Existem 93,6 milhões de crianças trabalhadoras em países de rendimento médio baixo, 12,3 milhões se encontram em países de rendimento médio alto; as crianças trabalhadoras em países de baixo rendimento perfazem um total de 74,4 milhões, ou seja, os países de médio rendimento acolhem os maiores números de crianças trabalhadoras. A OIT ressaltou que a incidência do trabalho infantil não foi estimada para os países com nível de rendimentos elevados, devido a limitações de dados. Em termos absolutos, o maior número de crianças trabalhadoras se encontra na região da Ásia-Pacífico.

“Esses resultados evidenciam que, apesar do nível de rendimentos e a pobreza serem fatores determinantes para o trabalho infantil, não constituem de modo definitivo as únicas razões para as famílias enviarem as suas crianças para o trabalho”, destaca o relatório.

Situação crítica na África

A região de Ásia e Pacífico registrou a maior queda no números de trabalhadores nestas condições, passando de 114 milhões em 2008 para 78 milhões em 2012. No Oriente Médio e no Norte da África existem 9,2 milhões de crianças trabalhadoras. Já na América Latina, a estimativa aponta 1,6 milhão de indivíduos. Porém, a África Subsaariana continua a ser a região com a mais elevada incidência de trabalho infantil, com 21,4% das 59 milhões de crianças ocupadas.

Para a estimativa mundial da OIT sobre o trabalho infantil de 2012, foram utilizados cerca de 75 conjuntos de dados nacionais. No total, 53 países das principais regiões mundiais foram cobertos por estas pesquisas.

Segundo a OIT, devido a algumas deficiências nos dados, o quadro regional do trabalho infantil ainda permanece parcial na sua representação. Existem dados insuficientes para gerar estimativas separadas para a Europa do Leste e a Ásia Central, a região do Pacífico e o Caraíbas ou para as economias industrializadas.