Economia

Cresce participação de crianças em trabalhos no setor de serviços, alerta OIT

Empregos informais e participação no trabalho doméstico são tendência em países como México, Brasil e Indonésia

Trabalho informal: crianças limpam parabrisas no Rio
Foto: O Globo / Marcelo Carnaval
Trabalho informal: crianças limpam parabrisas no Rio Foto: O Globo / Marcelo Carnaval

RIO - Sem dúvida, a quantidade de crianças empregadas na agricultura supera, de longe, a parcela existente em qualquer outra atividade econômica. Porém, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta, em relatório divulgado nesta segunda-feira, para a necessidade de monitorar os níveis de participações em outros setores, principalmente os ligados aos serviços e à indústria. Nos últimos quatro anos, os dados indicam que houve um avanço na importância relativa do trabalho infantil nos serviços. A porcentagem do total de crianças trabalhadoras no segmento aumentou de 26% em 2008 para 32% em 2012.

A OIT informa que uma melhoria nos cálculos potencializou a possibilidade de estimar o real percentual do grupo nestes segmentos, em especial os da economia informal. Os resultados mundiais estão em linha com a tendência observada em países como o México, o Brasil e a Indonésia, confirmando dados nacionais de que o setor ganha terreno em termos de importância relativa nas economias das nações emergentes.

“Apesar de a luta contra o trabalho infantil na agricultura permanecer uma prioridade importante, torna-se claro que os esforços para a eliminação do trabalho infantil devem também se concentrar na percentagem crescente de crianças no setor dos serviços e um número não desprezível de crianças empregadas na indústria manufatureira”, ressalta a OIT.

As estimativas mundiais indicam que 59% do total dos indivíduos do trabalho infantil estão na agricultura: em 2012, somavam 98 milhões de crianças em termos absolutos, recuo expressivo diante dos 129,1 milhões registrados quatros anos antes, mas valores ainda considerados elevados. A quantia de crianças empregadas nos serviços e na indústria não deve ser desprezada. São 54 milhões nos serviços (dos quais, 11,5 milhões em trabalhos domésticos) e 12 milhões podem ser encontrados na indústria. Em todos os setores, o número de meninos é superior ao das meninas, com a exceção importante do trabalho doméstico.

Abuso maior no grupo mais jovem

As crianças no grupo etário de 5 a 11 anos representam a maior parte de todas as crianças trabalhadoras: 73 milhões, ou 44% do total do trabalho das crianças. Estas jovens crianças trabalhadoras constituem uma preocupação política particular, ressalta a organização, por serem as mais vulneráveis a abusos no local de trabalho e ao risco da sua educação. Os esforços para diminuição desse grupo em atividades econômicas surtiram efeito: o trabalho infantil para este grupo caiu mais de um terço (65,9 milhões) entre 2000 e 2012.

Menos mulheres

A redução no trabalho infantil do número de meninas foi acentuada, com uma redução de 40%. Quanto aos meninos, a queda registrada é de 25%. Não é à toa. O envolvimento no trabalho infantil é, em termos globais, muito mais elevado entre os meninos do que entre as meninas no grupo etário dos 5 a 17 anos. Há 99,8 milhões de meninos e 68,2 milhões de meninas nestas condições.

“Esses números podem subestimar o envolvimento das meninas no trabalho infantil relativamente ao dos meninos, por não incluírem o seu envolvimento em tarefas domésticas, particularmente as tarefas perigosas, uma dimensão do trabalho infantil não incluída nas estimativas mundiais.

Brasil e o trabalho doméstico

O relatório atual não informa, detalhadamente, a realidade brasileira, contudo, dados de junho de 2013 apontam a existência de 257.692 crianças e adolescentes no trabalho doméstico. Desde 2008, esta prática é considerada uma das piores formas de trabalho infantil – justamente pela dificuldade em coibir – atingindo com mais força as mulheres, negros e concentrada na zona urbana, com destaque para a Região Nordeste.

“O trabalho doméstico é uma forma de trabalho oculta da visão pública e fora da alçada das inspeções de trabalho, o que deixa essas crianças particularmente vulneráveis à exploração e aos maus-tratos”, declara a entidade.