Economia

Confiança da indústria fluminense na economia brasileira cai ao menor nível desde 2009

No mês passado, outros dados também apontavam quadros que só superam o cenário da crise global

RIO - A percepção do setor industrial do Rio em relação ao cenário econômico brasileiro atingiu o menor nível desde o primeiro trimestre de 2009, no auge da crise global. Segundo dados do Índice de Confiança do Empresário Industrial Fluminense (ICEI-RJ), da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), obtidos com exclusividade pelo GLOBO, o indicador relacionado à situação atual da economia atingiu a marca de 35,2 pontos no segundo trimestre deste ano, nível 12,7 menor que a média histórica do índice, calculado desde 2005. Valores acima de 50 indicam otimismo. Na média, o ICEI-RJ ficou exatamente na marca dos 50 pontos, uma redução de 4,8 pontos em relação ao trimestre anterior e está em linha com um clima de pessimismo no setor, principalmente em relação às projeções de contratações, podendo reverter o cenário de alta apontado na quinta-feira pelos dados do IBGE.

O indicador foi o mais baixo entre os 11 que compõem o ICEI-RJ. No primeiro trimestre, a taxa havia sido de 43,9. Em relação à expectativa para a economia, também houve queda expressiva, com o índice passando de 53,2 para 46,2. Para o analista de Economia e Estatística da Firjan, Jonathas Goulart Costa, um dos responsáveis pelo estudo, a indústria tem mostrado mais dificuldade do que o esperado para retomar o caminho de alta. Entre outros fatores, o cenário de incertezas fortalecido pelas manifestações de junho contribui para o pessimismo.

— As próprias manifestações vieram em linha com os problemas macroeconômicos. A indústria do Rio está em linha com a nacional, com os mesmos problemas de competitividade. Mas a comparação com a crise mostra simplesmente que só não estamos em situação pior do que estivemos naquele momento — explica Costa.

Índices comparados à época da crise

Não é a primeira vez que um indicador econômico é comparado ao grave período da crise neste ano. Na semana passada, o balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou que a criação de vagas atingiu o menor nível para o semestre desde os primeiros seis meses de 2009. Índices mensais de confiança do consumidor e da indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) também divulgados na última semana apontam, igualmente, que a confiança está em baixa, com taxas que só superam as do período da crise.

Uma das maiores preocupações é em relação ao emprego. Economistas ouvidos pelo GLOBO destacam que não há perigo de demissões em massa, mas, com a diminuição das perspectivas para os próximos meses, a disposição do empresariado em contratar tem diminuido. No ICEI-RJ, o indicador de “expectativa de número de empregados” teve uma queda suave, passando de 51,7 para 50,4.

— Está muito caro contratar. A expectativa é que a indústria contrate menos nos próximos meses — avalia o analista da Firjan.

A mesma perspectiva de menos contratação também foi apontada pelo Índice de Confiança da Indústria (ICI) de julho da FGV. De acordo com a pesquisa divulgada no início da semana, o indicador passou de 103,8 para 99,6 pontos — o menor desde julho de 2009. O quesito emprego se destacou, com queda de 4,6%, marcando 105,1 pontos e ficando abaixo da média histórica de 112,1. Segundo Aloísio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos do Ibre/FGV, apesar das recentes comparações de dados com a época da crise, o mundo vive momentos completamente diferentes e, portanto, é preciso ter cautela ao fazer esse tipo de análise.

— O fato de ser o pior desde aquela época não significa que seja igual aquela época. Naquele momento, a liquidez mundial secou. A sondagem da FGV Sinaliza que estamos virando para uma nova desaceleração, após forte recuperação de 2009 e 2010 e quedas no segundo semestre de 2011 e 2012 — avalia Campelo, acrescentando que as perspectivas de contratação vinham bem até o final do primeiro semestre, mas alteraram por causa de uma “mudança de clima”.

Pessimismo pode ser exagerado

Para o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, o mercado pode estar, desta vez, “errando para baixo”, com um pessimismo exagerado. Ele destaca que o mercado de trabalho foi bastante resiliente após a crise e que é natural um freio, após as medidas de aumento de juros.

— Acho que o mercado pode estar errando para baixo, assim como erro para cima antes. Revisar o cenário tendo junho, um mês atípico, como referência, é temerário. Foi o mês do aumento dos juros, das manifestações e da revisão da S&P da nota do Brasil — pondera o analista.

O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, também afirma que é preciso ter cautela, já que os dados mensais costumam mesmo ser mais instáveis e podem indicar apenas alterações pontuais:

— O que existe agora é uma incerteza política que contamina a economia. É difícil fazer uma análise desse tipo, com base em dados mensais. A perspectiva pode ser de uma recuperação mais lenta. Vamos ter dois momentos importantes nos próximos dois meses: concessão de rodovias (setembro), leilão do pré-sal (outubro). Se tiverem resultados positivos, isso vai dar um certo alento.