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Declaração de Papa em defesa da amamentação em público é elogiada por mulheres

Para fundadora de organização de apoio materno, Francisco tem ‘propagado uma verdadeira revolução moral’

Papa batiza bebê na Capela Sistina
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Papa batiza bebê na Capela Sistina Foto: - / AFP

RIO E CIDADE DO VATICANO - As declarações do Papa em defesa do direito das mães de amamentarem seus filhos em lugares públicos foram aplaudidas por ativistas que defendem direitos das mulheres e mães, como Simone de Carvalho, fundadora da Apoio Materno Solidário Brasil e mãe de dois filhos. Periodicamente, a organização realiza “mamaços”, em diferentes cidades. Os atos tentam mostrar que as mulheres devem poder amamentar em qualquer hora e em qualquer lugar.

- O Papa tem propagado uma verdadeira revolução moral no mundo, baseada no amor. A amamentação é uma das maiores provas de amor da Humanidade - afirmou Simone, que defende a existência de locais “amigos” da amamentação. - O constrangimento é visto tanto na Europa como em vários países do mundo. Embora a OMS preconize o aleitamento exclusivo e divulgue insistentemente os benefícios, amamentar em público ainda é considerado um tabu.

Francisco defendeu o direito da amamentação em público neste domingo, durante batizado coletivo de 33 bebês na Capela Sistina, no Vaticano. O Sumo Pontífice avisou às mães presentes no evento anual para não ficarem constrangidas caso precisassem alimentar as crianças.

- Vocês mães dão leite às suas crianças e, mesmo agora, se elas chorarem por estarem com fome, amamentem-nas, não se preocupem - disse o Papa, saindo do texto previsto para sua homilia, que continha a frase “dar leite a elas” mas que ele modificou para o termo italiano “allattateli”, que significa “amamentar”.

Autora de tese de doutorado sobre a indústria de mamadeiras e mãe de uma jovem de 25 anos, a designer Cristine Nogueira Nunes diz que as declarações de Francisco são de “inestimável valor”:

- Com a cultura de consumo e com o consumo de mamadeiras, os seios femininos foram sendo encaminhados exclusivamente para a função sexual, sensual. Daí, numa leitura automática, seio é igual a sexo. Não pode mostrar, tem que cobrir, que se recolher, não amamentar o bebê nem na frente dos irmãos dele. As bonecas, todas vêm com mamadeiras. E a amamentação foi saindo da frente dos olhos da sociedade. Mas, pelo bem de todos, se faz necessário desfazer esse equívoco e devolver aos seios todos os atributos que lhes cabem - opina, acrescentando que o Papa tem se tornado um “nobre ativista” da causa.

Não é a primeira vez que o Papa faz declarações públicas a respeito da amamentação. Em dezembro de 2013, ele falou sobre o assunto em entrevista ao jornal italiano “La Stampa”. Na época, Francisco também afirmou que as mães não deveriam se envergonhar em amamentar os seus filhos, associando o tema ao desperdício de comida. Em janeiro do ano passado, no batizado coletivo realizado na Capela Sistina, o Sumo Pontífice voltou a chamar atenção para o aleitamento, afirmando que as mães deveriam alimentar seus filhos, caso eles tivessem fome. “Eles são as pessoas mais importantes aqui”, afirmou na ocasião.

A amamentação em espaços públicos já foi centro de controvérsias no Brasil e no mundo. No ano passado, uma série de protestos em vários países exigiu que o direito fosse respeitado. Um deles ocorreu depois que funcionários de um hotel cinco estrelas de Londres pediram que uma mulher que alimentava a filha de 12 meses se cobrisse com um um grande guardanapo de tecido. Revoltada, ela publicou fotos em redes sociais. O assunto esteve também no centro de polêmica envolvendo o Facebook. Depois de ser criticado, o site flexibilizou normas, e imagens antes consideradas obscenas não são mais excluídas.