Economia

Dólar cai 1,25% e fecha a R$ 2,35, após presidente do BC indicar continuidade dos leilões em 2014

Na Bolsa de Valores, o dia foi de recuperação após três quedas. Ibovespa subiu 1,14% aos 50.654 pontos

SÃO PAULO - A informação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que a instituição continuará intervindo no mercado de câmbio, em 2014, através de leilões de dólares fez o dólar comercial fechar em forte queda frente ao real nesta quinta-feira. A moeda americana terminou negociada a R$ 2,357 na compra e R$ 2,359 na venda, uma desvalorização de 1,25%. É a maior queda percentual desde o dia 18 de novembro, quando o dólar recuou 2,33%. Na máxima do dia, a divisa foi negociada a R$ 2,397 (alta de 0,33%) e na mínima chegou a R$ 2,355 (queda de 1,42%). Essa era uma das principais dúvidas do mercado, já que originariamente o programa de leilões terminaria este mês.

- O resultado imediato é que a fala de Tombini tirou pressão do mercado de câmbio hoje. Agora, vamos ver como serão os ajustes do programa. Por exemplo, se o volume dos leilões de swap cambial será elevado, se no vencimento da recompra dos leilões de linha, o BC vai repactuar uma nova data de vencimento - diz João Medeiros, sócio da corretora de câmbio Pionner.

No último dia 22 de agosto, depois que o dólar fechou cotado a R$ 2,438, o Banco Central (BC) anunciou um programa de US$ 100 bilhões para dar liquidez e acalmar o mercado financeiro. O BC vem oferecendo injeções diárias de dólares cinco dias por semana. Todas as segundas, terças, quartas e quintas-feiras são feitos leilões de swap com oferta de US$ 500 milhões/dia. Às sextas-feiras é oferecida uma “linha de dólares” de US$ 1 bilhão. A operação é uma venda de moeda americana no mercado à vista com compromisso de recompra pelo BC.

De acordo com cálculo da corretora NGO, desde o início de 2013, já foram injetados US$ 70 bilhões em leilões de swap cambial até ontem. Desse total, US$ 30 bilhões foram ofertados ao mercado desde o dia 22 de agosto, quando o programa foi anunciado. Os US$ 40 bilhões já haviam sido ofertados no início do ano. Outros US$ 13,6 bilhões foram oferecidos em leilões de linha.

Para Sidnei Nehme, sócio da NGO, o BC foi levado a antecipar o anúncio de que os leilões vão continuar em 2014. Para Nehme, o dólar chegaria rapidamente aos R$ 2,40, nos próximos dias, virando o ano na casa de R$ 2,35, um patamar incômodo para a inflação. Por isso, o presidente da instituição antecipou o anúncio, avalia o especialista. Além disso, diz Nehme, em 2014, o Federal Reserve, o banco central americano, deve começar a reduzir os estímulos a economia, diminuindo as compras mensais de US$ 85 bilhões em títulos. Com menos dólares injetados mensalmente, a moeda americana deve se valorizar em todo o mundo, inclusive frente ao real.

- O anúncio deu um refresco no dólar, que já vinha caindo depois de bater em R$ 2,89 ontem. Foi uma ação preventiva do BC - afirma Nehme.

Ele observa, entretanto, que a procura por contratos de swap cambial, um instrumento do mercado futuro de proteção contra as oscilações do câmbio, indica falta de confiança na moeda.

- Os estrangeiros estão fazendo hedge para todo o dólar que entra. Ou seja, mostram desconfiança frente ao real e por isso estão aumentando sua posição ‘comprada’ (apostando na desvalorização do real) no mercado futuro - diz Nehme.

O dólar também se desvaloriza hoje, segundo analistas, depois de fechar próximo a R$ 2,39 ontem, a maior cotação desde agosto, investidores aproveitam para vender a moeda, nesta quinta-feira, que ficou num patamar muito atrativo. Nas últimas quatro sessões, o dólar acumulou alta de 3,08%.

- A ata do Copom sinalizando que haverá novas altas de juro em 2014, ainda que mais brandas, também ajuda na desvalorização da moeda - diz o operador de uma corretora de câmbio de São Paulo.

O Banco Central realizou hoje um novo leilão de contratos de swap cambial tradicional, operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro. Foram vendidos 10 mil contratos, totalizando US$ 495,9 milhões.

Ibovespa tem ajuste técnico

O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, teve um dia de recuperação, depois de três quedas consecutivas. O índice se valorizou 1,14% aos 50.654 pontos e volume negociado de R$ 6,7 bilhões, puxado pelas ações de siderúrgicas, pela Vale e pela Petrobras. A Bolsa andou na contramão dos mercados americanos que se desvalorizavam. O Ibovespa chegou a perder força após a revisão de 2,8% para 3,6% do PIB americano no terceiro trimestre, mas retomou fôlego. Além de uma correção técnica, a sinalização de que o ciclo de alta de juro pode estar perto do fim também ajudou a impulsionar a Bolsa.

A maior valorização do pregão foi apresentada pelos papéis da Usiminas. As ações preferenciais classe A subiram 7,53% a R$ 13,43, a maior alta do pregão, enquanto os papéis ordinários ganharam 6,18% a R$ 11,89, a terceira maior alta. As ações da Cia. Siderúrgica Nacional tiveram ganho de 3,82% a R$ 12,52. De acordo com um operador de Bolsa, as ações da Usiminas subiram com informações que circulam pelas corretoras de que o aumento do aço para montadoras, em janeiro, ficaria acima do esperado . As produtoras de aços planos estariam pressionando as mnotadoras por reajustes de 7 a 10%, acima dos 5% esperados.

- Além disso, o Ibovespa passou por um ajuste técnico, depois de três dias de queda. Os investidores também apostam num ritmo menor de alta de juro, após a divulgação da ata do Copom - avalia João Pedro Brugger, analista da Leme investimentos.

A maior queda do pregão foi apresentada pelos papéis ordinários da BM&FBovespa, que caíram 4,57% a R$ 10,60. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) negou recurso à multa da Receita Federal, envolvendo amortização, para fins fiscais, do ágio gerado quando da incorporação de ações da Bovespa Holding. A BM&FBovespa ainda apresentará recurso, segundo nota divulgada.

A determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de que a Telefônica deve vender participação na TIm fez os papéis da operadora figurarem entre as maiores quedas do pregão pela manhã. O Cade entendeu que a Telefônica não pode ficar com 100% do capital da Vivo, sem se desfazer da participação na Tim. Outra alternativa é que a Telefônica arrume um novo sócio no lugar da Portugal Telecom na Vivo. No início da tarde, os papéis ON da TIM passaram a subir e fecharam em alta de 1,84% a R$ 11,59, enquanto as ações preferenciais da Vivo subiram 1,28% a R$ 43,50.

O Cade também multou a Telefônica e a TIM Brasil em cerca de 16 milhões de reais. As penalidades têm relação com o descumprimento de cláusulas de um Termo de Compromisso de Desempenho (TCD) firmado pelo Cade com as duas companhias em abril de 2010.

Em dia de recuperação da Bolsa, as blue chips também se valorizaram e ajudaram a puxar o Ibovespa: Vale PNA subiu 1,42% a R$ 32,89; Petrobras PN teve ganho de 1,32% a R$ 17,63. J´as ações de bancos recuaram: Itaú Unibanco PN teve queda de 0,32% a R$ 31,11 e Bradesco PN teve baixa de 0,48% a R$ 29,02.

PIB dos EUA é revisado para 3,6%

O mercado continua analisando novos indicadores econômicos nos EUA, que possam sinalizar se o Federal Reserve, o banco central americano, começará a retirar os estímulos à economia em breve. Hoje, o PIB do terceiro trimestre foi revisado de 2,8% para 3,6%. O mercado esparava que o número ficasse em 3%. Já o número de pedidos de seguro-desemprego caiu para 298 mil. A expectativa era que ficasse em 330 mil.

- Acredito que os investidores estão mais focados no número de emprego (pay-roll) que será divulgado amanhã. O Fed já sinalizou que só com a melhora do mercado de trabalho e redução do desemprego é que os estímulos à economia começaração a ser retirados. Mas, ainda assim, não acredito que os estímulos comecem a ser retirados este ano - diz Brugger, da Leme Investimentos.

Para o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Dennis Lockhart, uma redução no ritmo das compras de ativos financeiros do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) deve ser considerada nas próximas reuniões da instituição, já que a trajetória de recuperação da economia do país justificaria uma medida como essa. O Fed se reúne na semana que vem.

Ontem foi divulgado que o setor privado americano criou 215 mil vagas em novembro, segundo a Automatic Data Processing (ADP). Analistas esperavam a abertura de 160 mil vagas. O número fez o dólar ganhar força.

Os principais índices acionários reagem aos números mais positivos da economia americana e caiam no fim desta tarde.

Ata do Copom sinaliza reduçao no ritmo de alta da Selic

No mercado doméstico, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, divulgou a ata da última reunião, que elevou o juro para 10% ao ano, e sinalizou que a alta da taxa deve continuar, embora o ciclo de aperto possa ser encerrado em breve. O BC "entende ser apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso".

- O Banco Central reconheceu na ata que já fez um grande esforço ao aumentar a taxa de juro seis vezes consecutivas. Por isso, o Copom ponderou que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens. Na prática, o BC deixou a porta aberta para começar a reduzir o ritmo de altas da Selic - diz o estrategista-chefe do banco japonês Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno.

Para ele, o BC eleverá a Selic em janeiro, mas ainda é cedo para dizer se a alta será de 0,5 ponto percentual ou 0,25.

- Tudo vai depender de como os preços se comportarem, do câmbio. O próprio recuo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre pode contribuir para essa redução. O fato é que a Selic vai subir novamente em janeiro, mas ainda não se sabe a dimensão da alta - diz Rostagno.

Na avaliação do banco Mizuho, a Selic sobe em janeiro (alta de 0,5 ou 0,25 ponto percentual) e em fevereiro mais 0,25 ponto percentual.

No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) de curto prazo tiveram leve alta, sinalizando que o mercado espera mais uma alta da Selic em janeiro, com o BC encerrando o ciclo de aperto monetário em breve. Já os contratos mais longos, que estavam em alta pela manhãm recuaram acompanhando a queda do dólar e a sinalização do presidente do BC de que os leilões de dólares vão continuar em 2014. de Os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2015 avançaram de 10,67% para 10,68%. Os DIs com vencimento em janeiro de 2017, caíram de 12,45% para 12,28%, enquanto os contratos com vencimento em janeiro de 2021 recuaram de 13,12% para 12,87%.