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Por Pedro Zambarda; Para O TechTudo


Pokémon X & Y foram lançados neste Dia das Crianças, trazendo Mega-Evoluções, 650 personagens e a presença do trio inicial clássico: Squirtle, Charmander e Bulbassaur. E aproveitando a chegada do aguardado jogo, a coluna Geração Gamer desta semana entrevistou três integrantes daquele que foi o maior fórum de Pokémon na Internet: a Pokémon LAND. Confira a história do site e de seus usuários no Brasil.

Confira nosso review de Pokémon X & Y.

Comunidade brasileira Pokémon LAND já foi uma das maiores no país (Foto: Reprodução) — Foto: TechTudo
Comunidade brasileira Pokémon LAND já foi uma das maiores no país (Foto: Reprodução) — Foto: TechTudo

A criação da Pokémon LAND

Um jovem chamado José Faria, de apelido “JoJo”, criou o fórum Pokémon LAND em 1999. O TechTudo conversou com um dos primeiros moderadores da comunidade digital, Daniel “Maverick Hunter” Lima (33). “Eu entrei no fórum simplesmente porque era onde eu achei o pessoal que mais estava entendendo do assunto Pokémon no Game Boy. E quando me refiro a Pokémon, eu digo sobre os jogos, porque confesso que nunca fui muito fã do anime”, diz Daniel. Por ser um usuário muito ativo, JoJo rapidamente o promoveu para moderar as conversas na comunidade naquele mesmo ano. Pokémon surgia como fenômeno mundial entre crianças e jovens no final dos anos 90.

Os novos Pokémon X & Y: Série tem 650 monstros nessas últimas versões (Foto: Divulgação) — Foto: TechTudo
Os novos Pokémon X & Y: Série tem 650 monstros nessas últimas versões (Foto: Divulgação) — Foto: TechTudo

O anime (desenho japonês) de Pokémon foi ao ar em 1997. No entanto, os jogos nas versões Red e Blue (Green, no Japão) já existiam desde 1996. A ideia de Pokémon surgiu da mente de Satoshi Tajiri, um desenvolvedor fã de arcades e colecionador de insetos desde pequeno. O jogo foi desenvolvido pela empresa Game Freak, onde ele trabalhava, mas teve como publisher a própria Nintendo. Tajiri queria que as crianças capturassem, cuidassem e usassem monstros em batalhas nos games. Pokémon foi um sucesso absoluto, tornando-se a terceira franquia mais rentável dos videogames, perdendo apenas para Mario e Super Mario, além de gerar centenas de outros produtos lucrativos.

Daniel 'Maverick Hunter' Lima, um dos primeiros moderadores da Pokémon LAND, a maior comunidade do assunto (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: TechTudo
Daniel 'Maverick Hunter' Lima, um dos primeiros moderadores da Pokémon LAND, a maior comunidade do assunto (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: TechTudo

“A LAND foi tranquilamente a maior comunidade online sobre Pokémon na época da febre, de 99 até 2004. Tívemos uma época em que você procurava a palavra ‘Pokémon’ nos sites de busca, e o primeiro site que aparecia no buscador era a comunidade da LAND, antes do site oficial da série”, explica Daniel. Embora ele não lembre de dados de audiência, o fórum rapidamente foi chamando atenção de revistas brasileiras nacionais especializadas no assunto, como a Pokémon Club e a Nintendo World.

“Tudo começou quando a Pokémon Club realizou um campeonato chamado ‘Desafio a Elite dos Quatro’ em 2001, que tinha a intenção de reunir os melhores treinadores do país em um torneio em São Paulo. A variedade de pessoas no torneio permitiu a Pokémon Club criar a Liga Oficial Pokémon Evolution (LOPE), que começou a espalhar torneios pelo Brasil todo, e existe até hoje, mesmo depois da morte da revista. Além de ser o embrião da LOPE, o torneio serviu para divulgar a LAND para todos os participantes”, diz Daniel “Hunter”. O moderador do fórum ainda lembra, com saudades, de detalhes deste primeiro campeonato nacional de Pokémon para Game Boy, na época do lançamento das versões Gold e Silver.

Bruno 'Gomazu' Maragato, que jogava Pokémon em simuladores do mIRC (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: TechTudo
Bruno 'Gomazu' Maragato, que jogava Pokémon em simuladores do mIRC (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: TechTudo

O auge do fórum foi no começo do novo milênio. “A LAND nunca chegou a ser citada na revista Pokémon Club, mas muita gente acabava conhecendo através dos torneios. O Desafio da Elite dos Quatro Brasileira de 2002 chegou a reunir mil pessoas. Não são muitos torneios de games que conseguem juntar tantos desafiantes de uma vez”, afirma “Hunter”. Um dos jornalistas da revista, Eric Araki, chegou a participar ativamente do fórum.

Com revistas promovendo torneios nacionais, a comunidade Pokémon LAND ganhou projeção internacional em outras áreas, focadas em discussões sobre o jogo. Um dos nomes do fórum na época dessa expansão é o de Bruno “Gomazu” Maragato (26), conhecido pelo apelido Goma. Ele foi um dos jogadores que começou a disputar batalhas Pokémon com americanos e jogadores de outros países.

Fran Molina era uma das poucas meninas gamers da Pokémon LAND (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: TechTudo
Fran Molina era uma das poucas meninas gamers da Pokémon LAND (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: TechTudo

Bruno é de São Paulo. Daniel, do Rio de Janeiro. Francis “Anna-Chansey” Molina é de Canoas, no Rio Grande do Sul. Sendo uma das poucas meninas do fórum, teve uma interação diferente da maioria dos rapazes no local. “Eu entrei na LAND em março de 2001, se não me engano, ao ver anúncios no finado fórum de Pokemon da Nintendo.com.br. Eu acabei socializando com algumas pessoas, mas as atitudes de outras me fizeram tornar meio que uma ‘outcast’ no fórum, uma excluída. O local distante de outras cidades, onde eu moro, colaborou para esta situação”, explica a gamer.

Apesar de relembrar confusões, Fran Molina lembrou também dos aspectos positivos de jogar e interagir com uma comunidade online totalmente dedicada ao game. “Pokémon acabou me dando amizades que duram há anos, mas Ragnarök e WoW acabaram sendo melhores para minha socialização com jogadores, porque eu já era mais madura”, diz a jogadora.

A perda de popularidade

No entanto, mesmo após a criação de uma comunidade de Pokémon sólida, com tanta relevância quanto a dos Estados Unidos, o site brasileiro LAND começou a entrar em decadência em meados de 2005. Na época, estavam em ascensão os MMORPGs, como Ragnarök Online e World of Warcraft (WoW), da Blizzard. “O fim da moda Pokémon esfriou a vinda de novos jogadores. Além disso, os jogadores que já estavam na LAND se tornaram muito arrogantes e poucos ajudavam os novatos. O site que não era muito atualizado ajudava menos ainda. Ragnarök também fez esvaziar, mas não afetou tanto assim quanto o próprio problema de falta de renovação dos jogadores”, diz Daniel.

Seja um herói em Ragnarök Online (Foto: Divulgação) (Foto: Seja um herói em Ragnarök Online (Foto: Divulgação)) — Foto: TechTudo
Seja um herói em Ragnarök Online (Foto: Divulgação) (Foto: Seja um herói em Ragnarök Online (Foto: Divulgação)) — Foto: TechTudo

Bruno tem uma versão diferente sobre a mesma história, quase oposta: “A popularização e posterior localização do MMORPG Ragnarök Online definitivamente foi a primeira grande ‘quebra’ da Pokémon LAND. Parte significativa dos membros mais antigos e presentes da comunidade abandonaram Pokémon e migraram para o jogo, formando um clã chamado vzGods”.

“Um grande problema que a Land enfrentou foi a popularização das redes sociais, como Orkut e, depois, Facebook, que se mostraram muito mais atraentes do que um fórum apenas sobre Pokémon”, completou Daniel.

O site continua no ar, mas com menor tráfego de integrantes e discussões menos acaloradas. “Sei que alguns jogadores das antigas continuam envolvidos, mas acredito que a grande maioria dos competidores de hoje sejam os que estavam começando na época em que parei. Tive pouco contato com esse pessoal da ‘nova guarda’ e menos contato ainda com as versões mais recentes da franquia”, completa Bruno.

 Brasil com os melhores jogadores de Pokémon na internet

Pokémons Ho-Oh e Lugia: Época das versões Gold/Silver foi, literalmente, o 'período de ouro' da Pokémon LAND brasileira (Foto: Divulgação) — Foto: TechTudo
Pokémons Ho-Oh e Lugia: Época das versões Gold/Silver foi, literalmente, o 'período de ouro' da Pokémon LAND brasileira (Foto: Divulgação) — Foto: TechTudo

“O programa mIRC serviu para duas coisas: Aprofundar ainda mais a amizade do pessoal da LAND ao mesmo tempo em que aprimorávamos nossas habilidades. Tenho amizades que começaram no mIRC e que continuam até hoje”, diz Daniel. Para quem não sabe, o mIRC é um Internet Relay Chat criado para Windows em 1995. Utilizava uma linguagem de script que poderia ser customizada para abrigar programas internos. Foi dessa maneira que os usuários criaram um programa com Bots, robôzinhos de texto, que simulavam as batalhas Pokémon das versões no console Game Boy/Nintendo DS.

Em 2003, o Ibope/Nielsen elencou o mIRC como uma das 10 aplicações mais populares da Internet, justamente no “período de ouro” da Pokémon LAND. Mas os brasileiros eram os melhores jogadores na época? Bruno responde: “Se formos levar em conta o nível médio dos jogadores, os brasileiros sempre estiveram um patamar abaixo dos internacionais. Não dá para ignorar, porém, o fato de que alguns brasileiros frequentemente figuravam entre os melhores classificados no chamado LadderBot, um bot de mIRC que estabelecia um ranking dos jogadores de acordo com seu desempenho nas partidas”, diz o gamer.

mIRC era utilizado para simulações de batalhas Pokémon (Foto: Wikimedia Commons) — Foto: TechTudo
mIRC era utilizado para simulações de batalhas Pokémon (Foto: Wikimedia Commons) — Foto: TechTudo

Bruno também forneceu informações sobre a lista de melhores jogadores de GSBot na época do auge do game na Internet: “Inegavelmente o melhor jogador de Pokémon foi um canadense conhecido como ‘Celia’. Modéstia à parte, eu diria que o segundo e terceiro lugar eram disputados entre mim e outro brasileiro chamado Carlos Agarie, também conhecido como ‘Onox’, ‘Wargod’ ou ‘Dog’", explicou. Segundo o gamer, existia uma espécie de “pacto de não-agressão” entre os três, pois as partidas travadas entre eles dificilmente duravam menos de quatro horas e geralmente acabavam em empate porque eles simplesmente não aguentavam mais jogar”.

O programa mIRC, que reproduzia em formato texto as batalhas de Pokémon, não era o único simulador disponível para testar suas habilidades do jogo na Internet. No mesmo período, um programa com imagens do jogo começou a circular entre os membros da Pokémon LAND, chamado NetBattle. Isso contribuiu para que as batalhas em rede continuassem chamando atenção no site.

NetBattle se tornou o sucessor do mIRC nas disputas online de Pokémon (Foto: Divulgação) — Foto: TechTudo
NetBattle se tornou o sucessor do mIRC nas disputas online de Pokémon (Foto: Divulgação) — Foto: TechTudo

A alta competitividade de Pokémon na rede mostrava que o jogo de RPG, com 251 criaturas, era tão complexo quanto uma partida de xadrez. Carlos Agarie, um dos melhores jogadores do período, tornou-se organizador atual dos torneios físicos da LOPE/LOP com gamers novatos, que começaram nas versões Diamond/Pearl (2007).

Pokémon como jogo de “socialização”

“A grande sacada do jogo é justamente ele obrigar uma pessoa a se socializar para completá-lo. Você não consegue completar o jogo sem conversar com outros jogadores, pedir trocas, jogar junto ou contra. Esse é o motivo do jogo sempre ter duas versões que se completam. Até hoje, existem poucos jogos que fazem isso”, diz Daniel sobre Pokémon. “Eu sou uma prova viva do papel socializador de Pokémon. Antes de conhecer a LAND, eu era basicamente um pré-adolescente bastante solitário, com poucos amigos que compartilhavam os meus gostos. O papel da LAND em minha vida foi basicamente me jogar em um grupo imenso de pessoas das mais variadas origens unidas por um interesse comum”, completa Bruno.

A premissa básica de Pokémon, seja nos antigos portáteis Game Boys ou em consoles móveis mais sofisticados, como Nintendo DS e 3DS, é conectar-se com seu amigo, trocar personagens e travar batalhas. O jogo não se trata de um RPG convencional single player, mas sim de uma evolução natural de seu personagem com os Pokémons que ele captura e treina. Ele foge da linha histórica do game para se transformar em uma experiência entre você e seus amigos, fora da telinha.

Pokémon X & Y (Foto: Divulgação) (Foto: Pokémon X & Y (Foto: Divulgação)) — Foto: TechTudo
Pokémon X & Y (Foto: Divulgação) (Foto: Pokémon X & Y (Foto: Divulgação)) — Foto: TechTudo

“Eu me prendo muito pouco aos personagens e às histórias de games. O que realmente me cativa é a jogabilidade em si, ainda mais se ela for capaz de criar uma cena competitiva. Essa, para mim, é a grande beleza de Pokémon”, conclui Bruno Maragato. “Pokémon demorou três gerações pra ficar online, mas, mesmo assim, as batalhas não possuem a mesma graça de quando você está em grupo, com as pessoas olhando você jogar pelo seu ombro, ouvindo o pessoal gritar quando acontece um dano critico ou quando o monstrinho congela”, diz Daniel “Hunter”, sobre as emoções proporcionadas pelo game.

Graças ao contato físico entre os jogadores, o Brasil produziu provavelmente o maior fórum de Pokémon no começo dos anos 2000. E, mesmo com o esfriamento da comunidade, Pokémon X e Y prometem chegar para vender muito e contagiar novamente os jovens gamers. O lançamento dos dois novos jogos na Saraiva Megastore, no shopping paulistano Center Norte, reuniu cerca de mil pessoas. Já no Reino Unido, X e Y superaram, em um dia, as vendas semanais de GTA 5 e Fifa 2014. Além disso, as versões foram, pela primeira vez na história da série, lançadas simultaneamente em todo o mundo e atingiram a marca de 4 milhões de unidades vendidas nos dois primeiros dias.

Quais suas expectativas para Pokémon X & Y? Comente no fórum TechTudo.

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