Economia

Governo federal declara emergência fitossanitária em Goiás e Minas Gerais

Plantações sofrem com surto da praga Helicoverpa armigera, lagarta e mariposa que infesta plantações de soja, milho e algodão
Mariposa ‘Helicoverpa armigera’: praga devastadora já causou prejuízos superiores a R$ 1,5 bilhão só na Bahia Foto: Fabiano Bastos / Embrapa
Mariposa ‘Helicoverpa armigera’: praga devastadora já causou prejuízos superiores a R$ 1,5 bilhão só na Bahia Foto: Fabiano Bastos / Embrapa

BRASÍLIA - O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) declarou estado de emergência fitossanitária nos estados de Goiás e Minas Gerais por causa de um surto da praga Helicoverpa armigera , lagarta e mariposa que infesta plantações de soja, milho e algodão. A decisão está publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira.

A Helicoverpa armigera , que está fora de controle, é uma espécie de mariposa que foi trazida do exterior recentemente e já causou prejuízo de R$ 1,5 bilhão apenas na safra de algodão do oeste da Bahia, onde foi vista pela primeira vez no país. A praga causa estragos também no cultivo de milho, soja, sorgo, feijão e tomate, e já afetou 12 estados brasileiros.

No caso de Minas Gerais, o surto atinge principalmente municípios do sul do estado. A praga apresenta grande capacidade de resistência a inseticidas utilizados em seu controle. A situação de emergência fitossanitária tem prazo de um ano, para ambos os estados, que receberão ações e medidas adotadas pelo ministério.

O estado de emergência já havia sido decretado em outros dois estados: Bahia e Mato Grosso. Com a determinação publicada hoje no Diário Oficial da União, os dois novos estados em situação de emergência fitossanitária poderão ter acesso a diretrizes específicas de manejo da lagarta helicoverpa, conforme a portaria.

Por essas regras, os estados têm de adotar medidas específicas como vazio sanitário (a adoção de um período sem plantação de qualquer espécie afetada pela lagarta), a instalação de áreas de refúgio em lavouras com variação genética e a destruição de restos das culturas atingidas pela praga.

O governo também criou a possibilidade de uso do defensivo Benzoato de Emamectina, um veneno específico para o combate da helicoverpa armigera. Pela decretação do estado de emergência dos estados, esse produto poderá passar a ser usado nas regiões, desde que os produtores sigam as orientações do governo federal.

A Embrapa foi informada de que uma lagarta até então incontrolável atacava lavouras no oeste da Bahia no fim de 2012 e, praticamente um ano após isso, os produtores temem que a próxima safra, de 2013-2014, seja fortemente atacada pela praga. O governo federal vinha investigando a origem do inseto, que nunca havia sido encontrado nas Américas.

Em função das condições climáticas favoráveis que encontrou no país e de sua grande capacidade de dispersão a longas distâncias, a praga já se tornou o maior problema fitossanitário das principais culturas de verão em várias regiões.

A entrada da espécie pode ter sido involuntária, mas relatórios feitos pela Abin e entregues ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e à própria Presidência da República trabalham também com a hipótese de contaminação não acidental. O governo constatou ainda que, enquanto a disseminação traz danos enormes para a agricultura nacional, ao mesmo tempo beneficia empresas internacionais.

Hipóteses incluem sabotagem

É possível que o caminho exato da larva nunca seja descoberto ou que seja comprovadamente fortuito, mas o governo não descarta a possibilidade de sabotagem, uma vez que o Brasil vem se consolidando como protagonista agrícola no mundo.

A hipótese de bioterrorismo já foi considerada pelo menos por Eduardo Salles, secretário de Agricultura da Bahia, em reportagem publicada pelo GLOBO . A vassoura-de-bruxa, fungo que reduziu a partir de 1989 de maneira permanente a competitividade do cacau brasileiro, é outra praga que chegou ao Brasil em condições até hoje suspeitas.